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domingo, 28 de dezembro de 2014

Eugenia

Oi... Gênia!

De uma lamparina pretérita
Com vapores de nuvens sonhadas
Saíste tateando os sonhos 
arrastando um baú de desejos 
que não eram somente teus 
Mas dos dedos da humanidade 
Que lustram  a lamparina 

O amor quedou doente?
Se foi nas brumas do tempo?
Não! Esqueci da delicadeza
De lustrar a lâmpada dos seus desejos

Semente, flor e algodão 
O tempo nos legou a nossa menina 
Ruiva, livre e traquina 
Uma graça de mulher

Nesse dia
Lustro a lamparina 
Com mãos encardidas pelo tempo
Com rugas do aprender
Elas depõem e expoem:
O encanto de uma prece
Um carinho oceânico 
Um amor das brisas do amanhecer
Esse é o meu desejo
Seja feliz, Gênia menina

Ivan Bezerra de Sant Anna

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Natal do Tobias

Natal do Tobias

Não é nostalgia saudosa de um passado, mas são pontadas da memória que insistem e persistem, transformadas e modeladas pelo presente. Lá está a velha Praça da Catedral, que depois de sucessivas reconstruções (cada Prefeito faz uma nova), resta apenas evocando sua história, a irremovível catedral católica. A velha praça já teve de tudo: um zoológico cercado por bambus, com Gansos e cisnes nadando no canal, preguiças que insistiam atrasar o tempo e macacos que faziam sucesso com a meninada com mãos de pipocas. Depois de algum tempo, a velha gruta das onças pardas, cedeu o lugar para a Cascatinha, local de encontro boêmio de todos amantes da noite, onde pontificavam com suas presenças, Bode da Cascatinha, Nega da Madruga, Rui Seixas, Zé Perigo, João Carlos Pé de Valsa e outros, não menos ilustres.

Em épocas natalinas - ao contrário dos anos recentes, onde a praça convive com a escuridão solitária - a praça enchia-se de pessoas de todos os níveis sociais, ao longo de quatro semanas. Cada pessoa caprichava na sua indumentária que, bem ou mal, refletia as suas posses, mas com o cuidado esforçado da novidade, da estréia, mesmo que fosse uma nova calça curta, roupa comum e necessária para demarcar a passagem hierárquica da meninice para a adolescência. Lembro-me que via com certa inveja, o Zé Rolette, ostentando a sua superioridade temporal, vestindo uma calça "boça de sino", de mais de dois palmos de boça, produzindo um certo comentário malicioso que ele tinha "surrupiado" a pantalona da irmã. Para não falar do elegante Marcos Fontes, futuro The Top's, que mesmo suando como uma chaleira furada, vestia uma camisa Bamlon com gola alta, daquelas que os nórdicos usam em seu rigoroso inverno.

Era um festival de disputas musicais, onde ritmos, melodias, formavam uma verdadeira engenhosa cacofonia, somente perturbada pelo apito do carrossel do Tobias que, muito tempo atrás, meu avô Juvenal Batista importou da terra do Tio Sam. Quem não se lembra do velho preto Tobias convidando a todos para uma viagem rodopiante de fantasias? O mais interessante é que esse carrossel, por ter sua origem no sul dos Estados Unidos, o negro Tobias foi concebido para ser apenas uma pessoa engraçada e solícita às crianças brancas que embarcavam na sua aventura giratória. Entretanto, em nossa terra de mulatos, que muito deles se acham brancos, Tobias era o personagem central, acenando e rindo, como se gargalhasse da imbecilidade histórica desses mulatos untados de pó de arroz.  Onde se encontra atualmente o velho Tobias e seus cavalos deslumbrantes? Depois que foi comprado pela administração municipal, foi desmontado, roubado, destroçado pelos desonestos cultores da modernidade, assim como fizeram com os antigos casarões, embebidos de histórias e tradições. Éramos jovens e modernos, e nem por isso deixávamos de gostar do velho Tobias. Vivíamos em uma sociedade que teimava manter seus valores, e a idade quando avançava era a justa medida da responsabilidade e prestígio. Quem podia confiar em um jovem, naquela época? Somente a idade podia trazer confiança, responsabilidade, e a nós restava uma liberdade irresponsável, típica das crianças imaturas, mas não menos vigiada. "Deixem os garotos, pois com a chegada da idade, tudo vai ao seu lugar", diziam, alguns patriarcas tolerantes. Mesmo sem sabermos que os limites devem existir para serem ultrapassados, nós quebrávamos barreiras, ensaiando um tímido grito primal do rock, lendo livros proibidos, e com certo temor, erguíamos o punho esquerdo para o alto, e com o direto, tocávamos uma memorável punheta, ato necessário e saudável, impulsionado pela ausência das mulheres, reprimidas e mantidas à distância.

E a festa do Natal da praça era esse constante exercício de alegria, liberdade, diversão, que se fazia de tudo, menos rezar, pois tínhamos a saudável intuição que o festejar do nascimento de uma criança era motivo de alegria, não de chorosas rezas. Na praça tudo acontecia, com padrões variados, desde  desfiles de moda, paqueras, namoros, jogos, diversões, discussões acaloradas, até duelos de grupos rivais que resolviam suas diferenças em uma saudável troca de socos. Entretanto, a praça não era tão igualitária quanto as diferenças sociais, pois na área do fundo da catedral, concentravam-se as pessoas humildes, receosas pelo contato próximo com os "bem nascidos", comportamento típico daqueles que infelizmente sabem o seu lugar. Apesar disso, a praça era um espaço heterogêneo de criatividade alegre, ao contrário das festas atuais nas ruas e praças, onde prepondera a homogênea massa, separada por cordões de isolamento dos "bem nascidos", conduzida por um hipnótico Axé ou um forró estilizado, para o crescente lucro de empresários gananciosos e sem escrúpulos.

Perto do Cachorro Quente de Seu João (não tinha Macdonald igual!), era o lugar onde ficava o guarda civil Carlos, um morenão bonachão que usava um cassetete de borracha como enfeite. Gostávamos de conversar com ele, e  de vez em quando, levávamos refrigerantes para ele. Em uma dessas ocasiões, em plena noite de Natal, perguntei se ele não gostaria de passar o Natal com a família, em vez de estar em uma praça. Ele abriu um largo sorriso e disse: "por acaso, Jesus comia peru e tinha casa? Não eram as praças, as ruas, a sua casa, e o povo que o acompanhava, sua família?" Na época, achamos estranhas suas palavras, mas olhando hoje para a praça da catedral, envolta em uma escuridão, atenuada por lâmpadas que tentam compensar a ausência de luz, percebo que o velho Natal do Tobias se foi para sempre, restando um Natal privatizado, isolado, circunscrito a uma mesa com um peru em cima, sob os olhares gulosos de poucas pessoas, denominadas de familiares. Algumas rezam antes do banquete e pedem que Deus esteja presente. Ele possivelmente pode estar, mas como disse o Nazareno, "eu não tenho família. A minha família são todos vocês". Verdade, Mestre, e de preferência, todos reunidos em uma praça, em estado de alegria, ouvindo o apito do Tobias.

Feliz Natal

Ivan Bezerra de Sant Anna


terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Vá em paz

Vá em paz, Araripe. Os caminhos são infinitos e os desafios permanentes. Você sempre fez a diferença com coragem e humor, desafiando uma sociedade preconceituosa e hipócrita. Você deixou seus poemas e siga sempre em busca da poesia tão amada, ansiada e fugidia, pois a poesia, caro poeta, é a vida vivida, estofada pelos sonhos e eternamente infinita na sua verticalidade radical. Vai deixar a saudade por sua ausência, e muita alegria no coração daqueles que acreditam no eterno caminhar. Você não vai voltar, mesmo com a torcida dos que acreditam no retorno. Não olhe para trás; abra suas portentosas asas de albatroz, sinta o vento, e dê volteios, piruetas, atravesse as nuvens, brinque com as estrelas e arranque com doçura em busca da poesia.

Nesse momento, poeta, como já disse um camarada das andanças poéticas, os sinos dobram para você, como  lágrimas que tombam, como aplausos que saúdam. Você morreu? Bem, "se a morte é a curva da estrada e morrer é só não ser visto", como disse o grande poeta Pessoa, acalenta-me olhar o mar, lembrando das palavras marítimas do Neruda:

Morro em cada onda cada dia.
Morro cada dia em cada onda.
Mas o dia não morre
nunca.
Não morre.
E a onda?
Não morre.

Obrigado

domingo, 7 de dezembro de 2014

Que saudade da Bahia...

Que saudade da Bahia...

Que invenção é essa, Totonho Leite? Um desfile fora de hora na Ivo do Prado, tentando reviver a famigerada e corrupta festa do Precaju? De onde surgiu essa "maravilhosa" ideia? Será uma reserva estratégica visando reestruturar o Precaju em 2016? Por que não organizou essa "sergipanidade" não época dos festejos do Rei Mono, momento propício para os passos engraçados do Caranguejo ou da manifestação alegre da "mulherada" do Cajurana? Isso não está mais para "baianada" do que para "sergipanidade"?

 Oh... caro Totonho, o mangue está morrendo por morte matada e você pensando ganhar dinheiro dos despojos do pobre finado caranguejo. Veja o mangue da 13 de Julho! Existe uma campanha criminosa por parte das empreiteiras da construção civil, visando a total destruição do mangue, com o uso de produtos químicos, apesar da negativa do secretário do meio ambiente, conhecido no meio empresarial como "Bendita Geni". E o que nosso ilustre "verde" - agora também cultuador do cangaço - está fazendo? Correndo atrás do Prefeito e das empreiteiras para financiar a sua declaração de amor por Sergipe, embalada pelo Axé baiano. Aliás, o Sr. Prefeito não deveria estar gastando os recursos públicos em um carnaval privado, fora de hora, que visa tão somente gerar lucros para os seus organizadores, e possivelmente será o velho Precaju baiano com outro nome. Chamo isso de reserva estratégica: em 2015, Totonho e seus blocos "sergipanos"; e em 2016, os velhos blocos da baianada, todos rebatizados e convertidos, comandados pela dupla cangaceira, Fabi e Totonho.

Tudo vai dar certo, Totonho do Mangue, pois os empresários construtores são muito bonzinhos e adoram bons negócios, haja vista, os grande negócios com Paulo César Farias, em épocas coloridas; as construções das arenas mais caras do mundo, na época da Copa; e, recentemente, a participação laboriosa da Oderbrecht e suas aliadas no portentoso escândalo do Petrolão, sem falar, é claro, as eternas negociatas com a CEF, onde o órgão financiador assume o "mico" e as empresas construtoras, o lucro, pois esse é o novo modelo socializante do Capital neoliberal: socializar os prejuízos e privatizar os lucros!

Sabe, Totonho, agora entendo o seu amor declarado pelo Cangaçeiros, impregnados de perfumes e o azedo cheiro de suor. Afinal, esse mundo da folia Axé, mangue e construções não difere muito do romântico universo dos fuzis, punhais, coronéis, cangaceiros e xaxados. Você bem que poderia ajudar a criar um novo bloco para a festa da "sergipanidade", intitulado, Os Cangaceiros, e nele estariam presentes as temáticas do saque, conchavos, grilhagens, assaltos e outros. E quem representariam Lampião, Corrisco, Volta Seca e Maria Bonita? Bem, candidatos não faltam, né, Totonho do Agreste?  

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

O Urubu

O Urubu

Hoje é um desses dias que reputo de extraordinário. Estava no apartamento, quando de repente, mais do que de repente, pousou uma grande ave negra. Bem que podia ser uma pomba, um gavião, mas logo um urubu? E o bicho, com as asas murchas, lançava-me um olhar pedinte e suplicante. O que é que essa gávea ave quer, pensei. Lembrei-me que estava preparando um bacalhau à Gomes de Sá e isso poderia ser o motivo para essa visita inesperada. Divertidamente, pensei: essa pretinha gosta tanto de um bacalhau português, que é bem capaz de ir à segunda divisão em busca do seu grande amor. Nesse momento, senti uma grande ternura pela agourenta ave.

Nesse instante, essa imagem urubalina fez-se poesia! Acreditam? Minha memória evocava lembranças da antiga avenida Simão Dias, local onde morávamos, como também o poeta Sampaio, amigo dileto de meu pai. Ah, o poeta Sampaio... Que figura humana maravilhosa! Era o poeta dos despossuídos, dos humildes, das putas, dos molequeiros e de todos os infelizes. Talvez por isso, o urubu fosse uma fonte inspiradora, uma imagem triste e livre do devir humano. E talvez em um desse dias pesarosos, disse:

URUBU

Baste que se levante a mão
na sua direção
prá que o urubu
arranque vôo violento
tal o pensamento
que ele tem da humanidade.

E isto ele pensa
como para se vingar
do horror que a sua figura inspira.

No eterno luto das suas penas,
prá mostrar que tem alma branca,
ele descreve no espaço
os seus poemas incríveis
que o homem plagiou com os aviões.

E de lá do coração da distancia,
o homem em baixo,
um ponto miserável,
tal como se lhe afigura,

menor do que ele,
o urubu risca gargalhada de vôo
no rosto do infinito,
e sente que suas asas
são maiores que o pensamento humano.

E desce,
pousa no telhado,
Corre os olhos em torno,
inquieto, desconfiado,
como um grande que temesse
o ódio dos infelizes.

sábado, 29 de novembro de 2014

Mesmo sendo puta...

"Mesmo ela sendo puta", cara? Não entendi! Por que essa triste ressalva? É como Jesus dissesse, "não joguem pedras em Madalena, apesar de ser uma puta". Mas ele não disse isso, ao contrário, disse que essas pedras eram para os próprios apedrejadores. Ao fazer essa ressalva, não sentiu a dor de uma pedra resvalada?

O que as diferenciam das mulheres trabalhadoras, a não ser o desvalor social e o preconceito? Essa talvez seja uma das mais antigas profissões do mundo, mesmo antes da invenção do capitalismo, sistema socioeconômico que transforma todos os atributos humanos em um valor monetário. Não, cara! Elas não podem ser agredidas não por somente serem mulheres, mas por terem atributos especiais, pela coragem em enfrentar os preconceitos diários, por dar seus corpos para o toque suplicante dos solitários, pelo destemor do gozo e das fantasias, e a maioria delas, por pura sobrevivência,

Nunca use a palavra puta como desvalor, pois esse vocábulo sempre foi usado pelos machistas reacionários para cercear a liberdade, impedindo o gozo e as fantasias femininas. E são essas mesma pessoas, que entediadas com a mesmice das suas mulheres acorrentadas, vão ávidos em busca das mulheres livres, ou seja, as putas ou amantes putas. Essa é a grande contradição do machista caçador. O que lhes dá prazer é a liberdade fantasiosa da mulher, no entanto, quando as têm nas mãos, devido ao seu atávico senso de territorialidade e posse, retira as suas liberdades para perder consequentemente o seu tesão, e para resgatar o seu prazer, só lhe resta as intermináveis caçadas de um abutre que sonha ser um condor.  

Certos defensores das mulheres não conseguem disfarçar os seus sentimentos de propriedade em relação ao corpo feminino, mesmo rejeitando o uso da violência como instrumento de manutenção de posse. Estufam os peitos e dizem: "Não se deve fazer uso da violência contra a mulher, mesmo contra aquelas que insistem fazer do seu corpo um território de livre função do prazer". Esquecem esses fariseus vaidosos, que o corpo de uma mulher só a ela pertence, e quando descobre ter asas e nessas asas a brisa sopra, ela voa, faz piruetas, risca e rabisca o firmamento, faz careta de bruxa, e sempre retorna ao coração cúmplice que escolheu para amar.

Dessa maneira, cara, reflita sobre as palavras que expressa, pois elas podem ser mais perigosas, mais ardilosamente eficazes, na manutenção dos preconceitos contra a mulher. Para o machismo religioso e conservador, toda mulher que ousa ser livre é uma puta ou uma bruxa, estando as fogueiras à sua espera, mesmo que representadas por palavras ardentes. Sabe, cara, precisa ser muito homem para perceber que uma puta, uma bruxa, pode ser simplesmente, uns dos milagres de ser mulher.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Foi melhor

Foi melhor, Tonho Leite. Somente um caranguejo elétrico era capaz de morar nesse lodo nogento que era o Precaju. O verdadeiro carangueijo gosta do mangue carnavalesco, local animado pela vida plural e ritmado pelas variadas músicas e ritmos, em um regojizo das constantes inversões, tal qual um arbusto que respira pelas raízes, quer sonhar diferente, mas árvore ele é. É, caro amigo: "caranguejo não é peixe/ caranguejo peixe é/ caranguejo só é peixe na vazante da maré".

O mangue está morrendo e seu amor ecológico é um tanto estranho, pois é mais fácil ganhar na Mega Sena do que vê-lo em uma manifestação ecológica. Aliás, não entendi bem a sua proposta da criação de um museu do cangaço, na época da campanha eleitoral. Que tem a ver, cangaço com ecologia? Afinal, você é um "verde ecológico" ou um cultuador de Lampião? Ah, desculpe minha falta de memória: você é um ator! Não é um Marlon Brando, mas nessa terrinha de Del Rey, dá para o gasto, né? Por que, levando-se em conta sua plasticidade interpretativa, no verdadeiro período carnavalesco, não coloca seu bloco na rua? Afinal, não tocava as verdadeiras musicas carnavalescas quando estava ilhado por um oceano de Axé? Fica a dica.

domingo, 16 de novembro de 2014

O Crédito Penal

A OAB atualmente é um órgão paraestatal especializado na elaboração de teses jurídicas em defesa do PT. Isso não é novidade, haja vista, as inúmeras defesas dos mensaleiros e os ataques ao Sr. Joaquim Barbosa efetuados por essa entidade. Quanto a imoral corrupção que se alastra em nosso país, as bolsas de ajuda para os paupérrimos magistrados, e o terrível escândalo dos precatórios em nosso Estado, apenas ouvimos o zumbido incômodo do silêncio conivente.

Eles nunca escutaram o pio da coruja que voa sob as cores contrastantes do crepúsculo criativo. Eles gostam da noite, dos chios dos morcegos, do manto negro que protege a impunidade, e mesmo a luz tênue da lua, uma réstia lunar, pode causar sérios estragos aos seus olhos vivazes e gulosos. Assim como os magistrados, eles também são deuses de um reino subterrâneo, das cavernas escuras platônicas, local onde descansam com os pés agarrados no teto, uma postura decadencial, sem prazo estipulado.

Nesse cenário húngaro do Príncipe Drácula, os nossos produtores das mercadorias jurídicas preparam-se para lançar algo novo no mercado, uma nova pérola das mentes pragmáticas, o Crédito Penal. Falam que essa novidade tem o estímulo criativo do Ministro Barroso e do Ives Granda, sendo que o primeiro por puras razões mercadológicas, e o segundo por ser um visceral defensor do neoliberalismo. Aliás, deve-se dar mais créditos criativos ao Ives, pois, ao que parece, essa nova teoria penal tem muita analogia com o crédito tributário.

Depois de tanta conversa, o leitor já deve estar coçando de curiosidade, como se fosse um comichão preventivo ao se deparar com um eminente ataque de um pulgão incômodo. Portanto, o que é afinal essa nova teoria penal?

Calma, pessoal, não esperem nenhuma teoria com o grau de sofisticação, tão a gosto dos doutrinadores do passado. Os atuais juristas neoliberais são mais cultuadores da simplicidade, da uniformidade (assim como no Axé, eles falam sempre a mesma coisa com acordes diferentes, em uma música sempre diferentemente igual) e não ficam incomodados quando escrevem pouquíssimas frases originais, em meio a um oceano tumultuado de citações, pois como surfistas diferentes que nunca enfrentaram uma pequena marola, uma prancha virtual serve para todos. À deriva com os derivativos neoliberais, diria.

E o que vem a ser essa ditosa e secreta teoria? É muito simples! Segundo esse teóricos, toda vez que uma pessoa for condenada, chegando  a cumprir a pena integral ou parcialmente, e essa condenação for considerado ilegal e contra o sistema jurídico, terá essa pessoa injustiçada um crédito penal a ser usado para subtrair de uma futura condenação, os dias de prisão que se encontram no título de crédito penal. É uma espécie de compensação em que um título abstrato de crédito penal pode compensar uma condenação concreta. Nunca ouviram falar dessa teoria? Espero que nunca ouçam, pois ela está sendo urdida com a finalidade de compensar os anos de prisão que alguns mensaleiros tiveram no período da ditadura militar. Aliás, não fiquem surpresos com essa inovadora teoria, pois ela como fundamento de defesa política dos mensaleiros ou petroleiros, já é muito usada. Quem já não ouviu de um petista que os adversários também são corruptos e enaltecem o passado sofrido dos corruptos petistas? Não é como se dissesse que eles erraram, mas que o passado compensava?

E os Juízes, o que vão pensar dessa teoria? Bem, como existe um cipoal de princípios gerais, indeterminados e abstratos (e com eles podemos dizer que o branco é preto e leão é girafa), possivelmente uma boa e extensiva "interpretação" criativa resolva esse problema. Afinal, os juízes possuem o atributo da irresponsabilidade política, diferentemente dos agentes políticos que devem prestar contas ao povo em época eleitoral. Os juízes podem criar disfarçadamente  legislações sem a necessidade da prestação de contas políticas. Por essas e outras, e em defesa da mínima participação democrática, é que nos países europeus, nenhum juiz pode interpretar a Constituição, tarefa exclusiva das Cortes Constituicionais, integradas por agentes políticos com notável saber jurídico e com mandatos temporários. 

No entanto, Brasil é Brasil, local em que os advogados tornam-se juízes através do quinto constitucional ou por concurso, e que juízes quando se aposentam viram advogados. Uma cumplicidade tácita, autorizada por uma ilegítima constituição, que, quase sempre, transforma-se em cumplicidade negocial.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Para as ruas!

Se Dilmão ganhar, o Brasil estará dividido! Uma guerra entre o triste Nordeste (o pasto do coronelismo, o local de pessoas desesperadas que se contentam com RS 75,00 do Bolsa Família) e o resto do Brasil. Esse é o passado que nunca passa, o de ser governados pelos votos de uma região pobre, sem esperança, controlada pelas forças oligárquicas.

Não existe futuro para o Brasil, a não ser o caminho das ruas, um trajeto revolucionário pasmado pela desobediência civil, que vise a conquista de uma verdadeira República, construída e reinventada por uma Assembleia Nacional constituinte soberana.

Essa nossa farsa de República, não passa de um simulacro teatral de um Estado corrupto, onde as instituições são de meras farsas, dando principal ênfase ao Poder Judiciário, um órgão que é o principal culpado pela corrupção reinante.

Não vamos respeitar as vozes das urnas eletrônicas, pois elas não passam de instrumentos de desvios da vontade popular. A voz do povo está nas ruas e lá deveremos travar as batalhas, até a derrota dessas oligarquias corruptas, hoje representada por um grupo que veste camisa vermelha, mas, em verdade, não passa de um bando de ladrões. Não existem socialistas de esquerda corruptos! Eles são apenas Delinquentes que se estivéssemos em um País sério, eles estariam na cadeia, e não mentindo, corrompendo e roubando.

As vozes das verdadeiras mudanças, assim devem exclamar: se essa camarilha ganhar, não deve assumir. Se assumir, deve ser retirados do poder pelo povo nas ruas.

Por a união de todos os cidades, sejam civis ou militares para a refundação da República!


Para as ruas!

Se Dilmão ganhar, o Brasil estará dividido! Uma guerra entre o triste Nordeste (o pasto do coronelismo, o local de pessoas desesperadas que se contentam com RS 75,00 do Bolsa Família) e o resto do Brasil. Esse é o passado que nunca passa, o de ser governados pelos votos de uma região pobre, sem esperança, controlada pelas forças oligárquicas.

Não existe futuro para o Brasil, a não ser o caminho das ruas, um trajeto revolucionário pasmado pela desobediência civil, que vise a conquista de uma verdadeira República, construída e reinventada por uma Assembleia Nacional constituinte soberana.

Essa nossa farsa de República, não passa de um simulacro teatral de um Estado corrupto, onde as instituições são de meras farsas, dando principal ênfase ao Poder Judiciário, um órgão que é o principal culpado pela corrupção reinante.

Não vamos respeitar as vozes das urnas eletrônicas, pois elas não passam de instrumentos de desvios da vontade popular. A voz do povo está nas ruas e lá deveremos travar as batalhas, até a derrota dessas oligarquias corruptas, hoje representada por um grupo que veste camisa vermelha, mas, em verdade, não passa de um bando de ladrões. Não existem socialistas de esquerda corruptos! Eles são apenas Delinquentes que se estivéssemos em um País sério, eles estariam na cadeia, e não mentindo, corrompendo e roubando.

As vozes das verdadeiras mudanças, assim devem exclamar: se essa camarilha ganhar, não deve assumir. Se assumir, deve ser retirados do poder pelo povo nas ruas.

Por a união de todos os cidades, sejam civis ou militares para a refundação da República!


sexta-feira, 17 de outubro de 2014

O que é um corrupto?

O que é um corrupto? 




Na natureza, um corrupto é um bichinho do mar, uma espécie de camarão sem dignidade, que serve de boa isca para o deleite dos pescadores de molinete. Até o presente momento, não sei porque deram a esse bichinho inofensivo um nome tão ofensivo. Às vezes penso em uma hipótese: será porque a interessante criatura praiana se faz passar por um camarão, e por estar enganado os peixes, ele recebeu esse nome vil?

Deixando ao lado as criaturas do mar, em seus círculos de sobrevivência, volto a minha atenção ao mais criativo - e também mais destrutivo - dos animais: o bicho homem. Por que alguns deles são tachados de corruptos - no Brasil, o crescimento da espécie está virando uma calamidade -, e outros poucos escapam ilesos a esse adjetivo? Quais são as suas principais características e como diferenciá-los?

Em primeiro lugar, apesar da sua aparente fragilidade, o corrupto homem está no topo da cadeia alimentar, alimentado-se de todos, sem nenhum predador que lhe ofenda, já que possui alguns companheiros de toga preta, que existem para a preservação da espécie. Apesar da sua voracidade, a sua alimentação predileta é a bufunfa pública. Ou seja: o nosso sofrido dinheirinho recolhido aos cofres públicos que deveriam financiar o nosso bem estar.

O corrupto e o Capital se diferenciam como a água é diferente do gelo, formando uma tensão dialética, ou melhor: uma trindade tensionada do pai, filho e espírito, que no caso específico, não tão santo. Em ambientes ácidos, o corrupto não sobrevive, como por exemplo, na China e em Cuba, onde são sumariamente fuzilados e ainda pagam o projétil executor. Assim, é um contrassenso afirmar que existem corruptos de Esquerda, pois se alguns usam tons próximos ao vermelho, fazem apenas para enganar os tolos e desavisados. Portanto, não esqueçam: todos os corruptos são capitalistas, sendo que a maioria é adepta ao neoliberalismo, mesmo que alguns avermelhados queiram negar essa verdade.

O corrupto adora obras faraônicas de custo altíssimo e de conclusão duvidosa. Transposições "disso e daquilo", estádios de futebol, Projetos Petróleo Salgado - quem conseguir ver sofre o risco de virar estátua de sal - e construções de linhas de trens de todas as modalidades. Por falar em trens, onde se encontra o famoso Trem Bala? Segundo algumas línguas ferinas, o Trem se foi, ficando tão somente a bala a ser deferida nos adversários sem fé.

Corrupto adora o populismo, pois sabe que a tapeação é a melhor maneira de conseguir os seus objetivos, embora deixe o tacape sempre por perto, para o caso de algumas eventualidades perigosas. Frentes de Trabalho, Leite para Todos, Bolsas "disso e daquilo", dentre outras medidas assistencialistas, foram sempre as preferidas, pois dão a impressão às pessoas que elas estão protegidas, aumenta o consumo local de mercadorias, circula o dinheiro, e de quebra, o pobre incauto pode comprar o "carro mais caro do mundo", em setenta vezes, para a felicidade das Montadoras e dos Bancos. E a saúde pública? Importa-se médicos de outros países e tudo está resolvido! E a educação pública? Ora, o populismo tem uma fórmula perfeita que agrada a todas as demandas: criam-se Campus fantasmas nos interiores para o deleite Ilusório dos bravos "cabras da peste", e para gerar grandes lucros para os donos das escolas privadas, o milagre do PROUNI. Não é genial o populismo corrupto?

A minha região, o Nordeste, que sempre sustentou com votos a política nefasta do coronelismo do passado, hoje é o sustentáculo da política dos novos/velhos coronéis. Não é à toa que nas eleições proporcionais para a Câmara Federal, um voto do eleitor do Piauí valha por 40 votos paulistas. A ditadura militar inventou esse recurso "democrático" e as elites populistas mantiveram na atual Constituição. O corrupto populista não se acanha em colocar uma camisa vermelha e ao mesmo tempo, colocar um chapéu de cangaceiro, festejando a "brabeza" dos seguidores de Virgulino. "O nordestino é sobretudo um forte", dizem para uma população cronicamente pobre, submetida a um assistencialismo enganoso, que paga migalhas com voto. Nada melhor para o corrupto populista que manter o culto ao Cangaço, criando museus, eventos, para evitar possíveis esquecimentos que um punhal vale mais do que mil palavras. Esse punhal brabo que matou e grilhou terras para os poderosos coronéis, hoje é homenageado pelas "facas peixeiras" que os pobres nordestinos carregam nas cinturas, enquanto se postam aos pés dos poderosos para receberem as sobras perversas da exploração.

No entanto, existem alguns populistas corruptos que me causam um imenso temor. São os que outrora erguiam os punhos para o alto, salivavam violência e confundiam luta de classe com ódio da classe dominante. Eles nunca foram dialéticos, mas crentes apaixonados por ideias vagas que nunca compreenderam com profundidade, motivados, quase sempre, pelos hormônios incontidos da juventude ou por outros interesses inconfessáveis, mesmo que inconscientes. Mussolini era um socialista desse tipo e criou o fascismo. Hitler odiava o comunismo, mas tinha o socialismo como uma ideia idílica, criando, consequentemente, o Partido Nacional Socialista. O perigo desse corruptos populistas, transvestidos de socialistas, efetiva-se pelos objetivos de totalizar a sociedade, mantendo os organismos da sociedade civil sob controle, seja por aliciamentos ou pela força. Não tenho dúvidas que se for forçado a optar em votar entre um corrupto sem organicidade e outro que possui uma estrutura totalizante em andamento, farei a opção pelo primeiro, para manter a sociedade civil livre para se organizar.

Alguns jovens de bons propósitos estão defendendo o voto nulo como resposta eleitoral, pois, segundo eles, votar em um ou no outro é trocar seis por meia dúzia. Não deixo de lhes dar razão em alguns aspectos, no entanto, ressalto que a opção de votar em um ou no outro, pode ter consequências diferentes para a sociedade. É muito cômodo não votar ou anular o voto, porque, em princípio, deixaria intacta a nossa pureza ideológica, mas as consequências por uma omissão pode ser até pior do que um ato comissivo. Repito que entre um corrupto sem organicidade e outro com um projeto totalizante, não hesitarei em votar no primeiro, e, logo após o término da eleição, estarei na oposição, pregando nas ruas a necessidade da reinvenção da República brasileira, com a implantação de uma Assembleia Nacional Constituinte, livre e soberana. No entanto, se o corrupto orgânico e autoritário ganhar, essa tarefa fica quase impossível, pois os sindicatos, as associações e os demais organismos da sociedade civil estarão amordaçadas, corrompidas e ameaçadas.

Ivan Bezerra de Sant Anna
 


Publicado no site http://www.facebook.com/ibezerra52; http://ibezerra.xpg.com.br e no Blog http://terradonunca-ibezerra.blogspot.com/




quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Vou embora para Passargada

Vou embora para Passargada

 


Se Dilma ganhar essa eleição, uma coisa é certa: o brasileiro é desonesto e corrupto, vive a cultura da Lei de Gérson (é preciso levar vantagem em tudo), curva-se perante os poderosos e exclama com ingenuidade: "Ela rouba, mas faz". Uma frase cunhada para Ademar de Barros e mantida ao logo do tempo como um parâmetro avaliador do eleitor pragmático. Se uma instituição tem grande responsabilidade pela manutenção dessa maneira de ser dos brasileiros, ela atende pelo nome de Judiciário, órgão que jamais cumpriu sua majestosa função de árbitro democrático, punindo com rigor esse individualismo possessivo. Ao contrário, os nossos juízes brasileiros vivem censurando a lei, impondo a censura às vozes democráticas, baseados em princípios vagos, abstratos e indeterminados.

Com rostos de anjos platônicos - alguns possuem até o sobrenome anjo -,  dizem que um determinado Partido tem honra a ser defendida nas barras dos tribunais e depois, mais suavemente, falam que um determinada família política não pode ser alvejada por denúncias sem provas. Tudo isso seria lindo se essas pessoas não fossem personalidades públicas e suas honras aviltadas fossem privadas.  No entanto, uma informação que afete a honra de uma pessoa será lícita e legítima, quando se refere a fatos de relevância pública que questionam a honradez de uma figura pública ou de uma pessoa privada envolvida em tema de relevância pública e quando existe um interesse legítimo dos membros da sociedade em discutir assuntos que incidam diretamente naquela sociedade. Para Humberto Nogueira Alcalá, na área pública, a mácula sobre a honradez não se dá pelo simples fato de se expressar livremente, informando a sociedade sobre determinado ato praticado pelo agente, de forma a duvidar-se de sua honra ou probidade, mas "em tales casos las personas afectadas se deshonran em virtud de sus propios actos". Essa orientação é seguida por todos os Judiciários dos verdadeiros países democráticos, pois essa garantia da liberdade ampla de expressão é o pilar básico da Democracia. E o que é o nosso Judiciário? Um órgão de manutenção da velha e sempre nova, oligarquia brasileira.

É triste admitir, mas a desonestidade, a corrupção, são relativizadas, ao ponto de serem confundidas com atos de esperteza, instrumentos pragmáticos para a realização da competição capitalista. No fundo, todos são contra a corrupção, desde, é claro, que os seus interesses não sejam contrariados. É possível que, em um primeiro momento, um escândalo provoque indignação geral. No entanto, aos poucos, esse sentimento se dilui quando se pensa na manutenção de um cargo público, uma bolsa "disso e daquilo", uma velha história a ser mantida, ou os terríveis defeitos do adversário, dramatizado por um maniqueísmo cruel. Vamos deixar de preconceitos! Pouco importa que seja um analfabeto, um pobre, ou um doutor, todos se comportam da mesma maneira, centrados em um lastimável individualismo possessivo. Como uma pessoa com um bom nível cognitivo, bem informada, consegue deixar cair sob seus olhos o manto da cegueira, ao ponto de defender teses de defesas ingênuas, favorecendo os desonestos? Isso é Brasil e essas coisas são possíveis, devido a uma cultura do pragmatismo, típica de países onde apenas ouviram ecos distantes da Marselhesa e jamais vivenciaram o estatuto de cidadania republicana. 

Os eleitores dessa falsa República possuem a governante que merecem. Depois de tantos anos de lutas, avassala-me o sentimento de ser um estrangeiro em meu próprio País, pois como falou o poeta, o Brasil pode ser do samba, da malandragem e do futebol, mas com certeza não é o meu País.

O meu País tem que ser reinventado nas ruas, no clamor dos embates, com a bandeira factual da desobediência civil, longe das falsas instituições mantidas pelas elites, um processo eleitoral que caminha em círculos e que não permite mudanças reais, mas "um mudar para que nada mude". Não devemos ter medo de soluções autoritárias, nem de um possível retorno às situações pré-constituídas, porque ver com coragem olhos da tragédia é voltar a sonhar e construir projetos de soluções, que se afaste da famigerada conciliação das elites, uma orientação ideológica oportunista, centrada no pragmatismo sem princípio, que sempre abortou os potenciais revolucionários.

Sabemos com antecipação do resultado das eleições, principalmente um pleito realizado por intermédio de urnas eletrônicas sob suspeita de fraude, e sob o comando de um Presidente do TSE que, algum tempo atrás, era advogado do PT e cupincha de Lula. Portanto, entre esse trágico Brasil real e o sonhado, existe o caminho das ruas, a explosão das contradições reais, o chicote que rasga a pele e desperta, o conflito dolorido que faz alcançar a maturidade republicana.

Ivan Bezerra de Sant Anna
 


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sexta-feira, 29 de agosto de 2014

A viagem

A viagem



Essa massagem me fez bem. Até que fim consigo respirar livremente, livrando-me desses aparelhos e dessa dor renitente nas minhas costas. Como é bom aspirar com os pulmões sadios as brisas salinas que vem do Porto da Barra! Lembro-me do bairro da Ribeira onde o mar sem preconceito abraçava as areias praianas, o vento era ameno e o silêncio brigava com os raros carros que passavam. Aprendi a dirigir um deles lá e ainda não sei porque me chamavam o terror da ribeira, afinal uma batidinha aqui e acolá faz parte de qualquer aprendizado.

Acho que a minha filha contava uma história e percebo que adormeci em seus braços.  Ah, as histórias... A minha, como a da maioria das pessoas, não foi um conto de fadas, um transcurso das fantasias, no entanto, sempre houve algo mágico quando olhava para meus filhos que se espigavam no transcurso do tempo e estava na companhia dos meus irmãos, netos, sobrinhos e amigos. Mesmo nas dores da separação, como esquecer quem me ajudou a ter filhos maravilhosos e em alguns momentos recitamos a palavra amor? Essa é a vida que tive e não queria ter tido outra, pois essa foi a minha vida, a música dos meus ouvidos, a dança que bailei nos bailes infinitos da minha existência. Entre dores e alegria posso dizer que dancei a vida.

E como gostava de dançar! Quanto às viagens que sempre amei, tenho a impressão que nenhuma vai se comparar a essa. Uma viagem que percebo não ter destino específico, mas o prazer de um andarilho que só lhe basta o bater dos pés no chão. Entendo agora que o importante é o caminho e não o destino. Não sei quem vou encontrar, mas isso não importa. Nessa estrada de nada servem as diversas explicações religiosas que as pessoas tentam suprir o medo do desconhecido, pois percebo que tenho asas e sinto o vento, alternando com piruetas dançantes, o andar e o voar. Não vou olhar para trás! Trago em meu ser todos os meus amores acumulados, as lembranças das pessoas queridas, mais de perto, as dos meus filhos amados. Espero que eles sigam em frente para dignificar a vida que lhes dei, porque a dor forte deve ser conjugada no presente do indicativo, mas logo deverá ir ao pretérito-mais-que-perfeito. Desejo que pensem em mim como uma lembrança graciosa dos momentos eternizados pelo amor e jamais pela ilusão da minha ausência. Deixe-me seguir em frente e nada de choramingos!

À Deus,

Ivete
 

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domingo, 24 de agosto de 2014

Mentiras e verdades: em que local se encontram?




Duas semanas depois do trágico acidente que vitimou o candidato Eduardo Campos apareceu um vídeo estranho que levou a grande mídia a uma conclusão: o acidente foi erro do piloto! Dessa maneira, tudo ficou resolvido, apesar de certos detalhes que não se encaixam. No entanto, detalhes são apenas detalhes, coisas menores para serem levadas a sério, segundo os nossos gloriosos repórteres da grande mídia televisiva.

Eu como sou um chato por obstinação, adoro brincar com os detalhes, ligando-os uns aos outros em busca do fio da meada, tal qual um felino gatuno brincando com um novelo de lã, principalmente nas altas horas da madrugada onde todos os felinos são pardos. E como dizia Hegel que  no crepúsculo voa a coruja de Minerva, resolvi adentrar nesse emaranhado e obscuro frenesi da dança louca dos fatos.

Afirmo que algum tempo anterior ao acidente, fiquei chateado com a declaração do Sr. Lula da Silva, referindo-se ao candidato Eduardo Campos pelos apelidos de Dudu Traíra e Novo Collor (e ele é aliado do velho Collor!), e pela notícia divulgada por jornais pernambucanos que quatro agentes da ADIN, disfarçados como portuários, tinham sido presos em Recife sob a suspeita de estarem bisbilhotando a vida do candidato Eduardo. Mais estranho ainda é ver o Sr. Lula vertendo cachoeiras de lágrimas, declarando que tinha perdido um filho querido. Como jamais gostaria de ter um pai desse quilate que me dedicasse esse tipo de amor, confesso que a minha indignação pode ter me levado a essa obstinação.

Com perplexidade, mesmo sem querer acreditar nas intrusas maledicências, indagava-me  se o fraterno papai Lula e seus mensaleiros teriam motivos para um ato tão extremo. Se tinham, quais eram? Veio-me à cabeça que a candidatura de Eduardo Campos poderia levar ao segundo turno, fato que desagradava ao Pai do povo, pois sabedor que a candidatura do Aercio Neves era maculada por inúmeras denúncias de corrupções, a eleição resultaria em uma disputa de seis por meia dúzia, e como a soma desses fatores resulta em doze, bastava somar 12+1 e chegaria ao 13! Portando, sendo o Sr. Lula o número 1, não lhe interessava o segundo turno. Mas isso era muito pouco para essa tenebrosa hipótese, mesmo sabendo da ausência de caráter do Pai do Mensalão, e nem o fato de seu outro "filho querido", Celso Daniel, ter sido misteriosamente assassinado, aumentaria essa possibilidade. Devo acrescentar que fiquei intrigado com a sanção dada à lei que instituía o sigilo nas apurações de acidentes aéreos, poucos meses antes do acidente. "Por que essa lei?" - indagava aos meus botões, e como moro em terras brasileiras, fui sacudido por uma paranóia: "Quem vai morrer desta vez?" Infelizmente, coincidência ou não, aconteceu!

O vídeo que apareceu duas semanas após ao acidente (por que duas semanas após?), em vez de dirimir as minhas pretensas paranóias, teve o fito de aumentá-las. Por que uma câmara de segurança de uma construção estava apontada para o horizonte em panorâmica, quando devia estar na direção das áreas da construção? Um avião que cai como um pato mergulhão ou um avião suicida japonês, quase indistinto e que poderia ter sido adicionado em qualquer editora de vídeo amador. Mas vamos supor que esse vídeo seja verdadeiro e o que ele revela? Ele revela algo inusitado nos acidentes aéreos: um avião que despenca em queda livre, um louco mergulho em busca do solo! Nesse caso, somente duas hipóteses são possíveis: a) o piloto enlouqueceu, resolvendo lançar o avião ao solo em mergulho fatal; b) pane geral no avião com total desligamento dos motores. Convenhamos que essas hipóteses são improváveis, pois esse tipo de aeronave nunca teve uma falha desse quilate e não tenho nenhum indicador da insanidade do piloto.

Quando existe alguma arremetida, fato muito comum nas operações aeronáuticas, o avião volta a subir e somente é impedido por obstáculos físicos não percebidos pelo piloto ou pela atuação do reverso que entra por defeito. Ora, se houve entrada do reverso ou outros fatores que forçou o avião a não ganhar altura, a queda seria gradual, até se chocar com o solo, e nunca uma vertiginosa queda livre como mostrou o vídeo. Ora, se o vídeo é verdadeiro, então algo fez que o sistema da aeronave entrasse em total pane, como o apagão do 7X1 da Seleção  brasileira. O que originou o apagão na aeronave? Um grave defeito técnico ou sabotagem? Nunca saberemos, pois a caixa preta foi apagada (muito estranho!)! Agora, só não vale culpar o piloto porque isso é muito manjado, um ato vil que mancha a dignidade do profissional e de toda a categoria.

Pelo mergulho em queda livre, mostrado pelo vídeo, a suposição mais provável é uma pane geral no avião, o que não afasta a possibilidade de sabotagem. Aliás, por esse fato ser inusitado nos desastres da aviação civil e nunca ter acontecido com esse tipo de avião, a sabotagem torna-se muito plausível. Mais estranho é como ficaram os corpos das pessoas acidentadas - reduzidos a pequenos pedaços - o que leva à suposição de uma forte explosão, ocasionada por cargas de explosivos plásticos com detonadores de contato. Hipótese impulsionada pela imaginação? Bem, em nenhum acidente aeronáutico, por mais violentos que tenham sido, não foi registrado nada igual ao que foi visto nesse acidente, pois os corpos geralmente são mutilados, alguns carbonizados, mas nunca recortados em pequenas porções. Isso é muito estranho, caro leitor!

O nosso choroso Lula, o triste pai de Eduardo, não é chegado a lutos prolongados, e já se encontra em plena ofensiva tentando explodir a honra e a história de lutas de Marina Silva. Começou bem, convencendo ao coordenador da campanha do PSB a abandonar o barco, afirmando "que não trabalha com essa mulher". Como sabemos que o ex-coordenador não tem ojeriza às mulheres, ele deve ter lá suas razões e boas motivações secretas para fazer o que fez. E é de se esperar que novos "revoltados" do PSB escolham o caminho da deserção.

Não fique tranquilo, Sr. Aercio Neves. Lula e a Rede Globo estão preparando um míssil que carregará em seu bojo um petardo que não destruirá corpos ou coisas, mas a sua honra e sua dignidade, se é que tem alguma. A Globosat, aquele canal gratuito que vai nas parabólicas, no dia 15 de setembro, apresentará um seriado denominado de Escobar. Sabe quem é o Escobar, Sr. Aercio? É aquele que era traficante de cocaína e político na Colômbia, que acabou morto como inimigo público "número um" do povo colombiano. Não percebe a sutil e eficiente associação que será feita com um certo helicóptero que carregava mais de 400 kg de cocaína? Prepare-se, o chumbo é grosso e seu adversário é capaz de tudo. Ademais, por que a Globo gastaria recursos financeiros em um seriado sobre um homem totalmente esquecido e sem nenhuma importância para o povo brasileiro?

Onde se encontram a verdade e a mentira? "Mentiras aqui, verdades além dos Pirineus", como dizia Pascoal.

Ivan Bezerra de Sant Anna



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quinta-feira, 17 de julho de 2014

Procura

Procura

Momento, aponta para o sul
Momentos outros, para o norte
Vou ao leste e oeste
Sopro os ventos sulinos
Navego os rios do norte
Onde se encontra o amor
Nos loucos ponteiros
Da minha  bússola errática 

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Reflexão da Bola

O
Reflexões da Bola

Não gostei de ver um povo triste, de sofrimento social endêmico, que sempre me honrou com seu carinho, com toques sutis e insinuantes dribles, fazendo-me galgar o panteão da arte. Dizem que nasci na terra da Rainha, embora confesso não me lembrar desse fato, pois a memória longínqua põe uma densa cortina de névoa ante meus arredondados olhos, como a pesada neblina que encobre os altos cumes altaneiros. Se nasci em um país da realeza, entretanto, foi nessa terra plebéia de mestiçagem criativa que me tornei uma rainha, altiva, viçosa e de vaidade sublime. Portanto, nesse dia fatídico, chorei ao ver os olhos úmidos de um idoso menino e as lágrimas amazônicas que sulcavam o rosto de uma criança, envelhecido momentaneamente pela dor.

Ah, minha terra dos cajus, dos coqueirais, das belas florestas. Quantos pés me tocaram com gentilezas criativas, brincando de esconde-esconde dos dribles geniais e das malícias generosas. Não nasci para levar chutões ou ser relegada ao esquecimento por causa de uma canela mais atraente, para aqueles que visam tão somente resultados bisonhos. O que é ganhar um troféu se me esqueceram? Como disse um filósofo dessa terra, Gentil Cardoso, "a bola é feita de couro; o couro vem do boi; o boi come grama; então a bola deve rolar na grama". Nada mais verdadeiro! Gosto de rolar na grama, ser acariciada por pés sensíveis, cavalheiros, fantasiosos e hábeis. Odeio brutamontes que correm como loucos à minha procura, obedecendo estratégias de compactação e de jogadas desesperadas de profundidade. A cada dia que passa sou esquecida, maltratada por culpa de regras antiquadas que possibilitam técnicos pragmáticos, muitas vezes incompetentes, armarem esquemas sonolentos que me impedem tocar nas redes com meus lábios de volúpias desejosas  e retirar a magia desse maravilhoso jogo, para qual fui criada.

Que papelão, meu Brasil! Por que você fez isso comigo? Logo na terra que me adotou, ensinando-me a arte e a dignidade, dos pés mágicos de um Zizinho, Pelé, Danilo Alvim, Tostão, Gerson, Didi, Romário e tantos outros mágicos, tive que assistir essa catástrofe que já era anunciada há muito tempo. Apagão? Tsunami? Que cinismo! Será que arranjaram um novo nome para a Seleção brasileira que espelhasse a mediocridade dos seus jogadores? Não podia ser diferente, pois o que poderia esperar de jogadores que foram convocados por um ex-jogador truculento, que sempre me confundiu com aquela senhora de cara oval, mulher objeto preferida dos cultores machistas do Futebol Americano?  Eu sou plena de fantasias, menos, é claro, aquelas masoquistas que machucam, humilham e pisam em minha dignidade. Não sou mulher de malandro, e tapas somente de um suave toque de três dedos, um beijo desejoso, uma língua  que lavra os infindáveis frutos da minha pele campestre.

Agora estão procurando um bode expiatório, como fizeram em 1950, e o Fred é o preferido. Logo ele que sempre me tratou com carinho, fazendo-me sempre acariciar as redes e nunca seus olhos baixavam para me olhar com insegurança, porque me tinha como amante aos seus pés? Que culpa tem ele se foi convocado sem nenhuma condição física para jogar, vindo de longos períodos de inatividade?  Qual é a culpa do bom rapaz Hulk, um jogador somente esforçado, sem o bafejo do talento, um belo dia deram-lhe a camisa que foi do Garrincha? Que dizer do Paulinho, Oscar, jogadores reservas em times europeus, que na Seleção viraram titulares? Como um garoto sem experiência, mesmo sendo um grande talento, poderia ser um capitão do selecionado brasileiro? Ele chorou e tinha que chorar mesmo! Que culpa teve David Luiz de ter se tornado no jogo semifinal, um semáforo verde para os velozes Porsches alemães? Afinal, que culpa tiveram os jogadores que foram ensinados na arte defensiva e desvencilharem de mim em longos chutões caóticos à procura de um solitário atacante, e no jogo contra a Alemanha foram orientados para se tornarem um Tostão, Gerson, Falcão e outros. Apesar do misticismo e da magia que envolvem o futebol - e a nossa imprensa ufanista insistia nele, falando de cicatrizes, peso da camisa e mais algumas bobagens - nem o mais radical espírita acreditaria que os espíritos de Didi, Nilton Santos, Garrincha, Sócrates, poderiam baixar naqueles esforçados garotos de talentos inexpressivos. Deu no que deu! Um bando de garotos perdidos no campo, que não sabiam o que fazer, enquanto os disciplinados e treinados germânicos tocavam em mim com respeito, fazendo-me morder a rede brasileira por sete vezes.

Não houve nenhum apagão, mas uma morte que já vinha sendo anunciada ao longo dos anos. O meu divórcio com eles pode ter sido sancionado pelo apito final do árbitro, mas já estava dormindo em cama separadas há muito tempo. A minha separação teve um marco inicial, quando os técnicos brasileiros copiavam as estratégias defensivas e pragmáticas dos europeus, e os Parreiras começaram a brotar como ervas daninhas. Os garotos das unidades de base dos grandes times, ao contrário de épocas pretéritas, são orientados na prática defensiva, e um garoto que teima dar dribles, fazer firulas comigo, é afastado como indisciplinado. Tempo atrás, eu era conduzida com toques suaves de pés amantes, hoje sou tratada com chutões violentos, arremessos imprecisos, e tudo isso com copiosos aplausos da imprensa brasileira, reverberando o triste chavão, "bola para o mato que o jogo é de campeonato". As faltas se multiplicam e os nossos analistas de futebol minimizam essas violações à regra, dizendo que essa pancadaria é um instrumento estratégico, que visa bloquear o adversário. Mal sabem eles que sou eu que estou sendo travada, e como não posso rolar livre na grama, esvai-se toda arte e talento. Futebol é para homens? Como pode ser para homens se sou feminina por excelência? Para me tocar com arte, os homens, mesmo os mais encorpados, precisam deixar sair as suas feminilidades contidas, em um contraponto criativo, que permita que seus pés rocem com muito mimo, amor e respeito. Esse futebol machista, violento, pragmático, deixa os estádios vazios, e se ainda estou no campo, faço-o apenas com meu corpo, mas minha alma se foi.

Vi e ouvi sua última entrevista, menino Neymar. Que deplorável! Se não consegue enxergar os grandes defeitos que assolam o futebol brasileiro, como, por exemplo, a imensa corrupção dos dirigentes da CBF que corrói toda a estrutura do futebol e da Seleção, deveria ficar calado. Você calado é um poeta, e nisso pouco difere do seu maior ídolo, o Pelé. Não seja petulante, menino. Você é um garoto talentoso, mas pouco me conhece ainda. E digo-lhe: você foi salvo pelo gongo, pois jamais seria o grande jogador da Copa, e isso lhe falo, não pelo seu desempenho mediano, mas por sua pouca idade que lhe presenteia com uma natural imaturidade. Vá com calma, fale menos, e quando tocar em mim, prove que é um verdadeiro homem que honra as chuteiras que calça.

Ivan Bezerra de Sant Anna, psicógrafo da falecida bola   


domingo, 29 de junho de 2014

Qual o seu estilo, Felipão?

 Qual o seu estilo, Felipão?


Após a Seleção brasileira ter escapado de uma desclassificação humilhante - graças às duas traves mineiras - Felipão tentando encobrir sua frustração e esforçando-se para engolir sua baba colérica, tal qual um Dragão de Komoto de sangue gelado, vaticinou que voltaria a ser o velho Luis Felipe, um homem violento que não faz concessão a ninguém. Mas, será que alguém que cultiva a arte de pensar acreditou nas mudanças do gladiador dos pampas? O papel do bom velhinho, bem humorado, plantando cevada na Granja, analisando os adversários com imparcialidade, o paizão do Brasil, não fazia parte de uma canhestra novela global que a mídia construiu? No entanto, ninguém é de ferro, e como deve ter sido difícil para uma pessoa acostumada a dar bordoadas nos adversários, de uma dia para a noite, manter o riso das hienas congelado no rosto, ou verter lágrimas como um crocodilo faminto dos rios tenebrosos. Afinal, morder adversários não é exclusividade de Luis Soares, e existem muitos tipos de focinheiras.

Será que o verdadeiro estilo do Felipão era aquele de um pretérito jogador medíocre que chutava as canelas ousadas e criativas dos adversários? Ou de um técnico que armava seus times para impedir a arte futebolista, propiciando verdadeiras carnificinas, espetáculos deprimentes que, na sua fase gremista, alcançou seus objetivos devido aos aplausos da imprensa e dos olhares cúmplices dos árbitros? Se foi esse estilo que o saudoso técnico da Canarinha quer resgatar, então cabe aqui um lembrete com a tonalidade vermelha das advertências: a sua fórmula estratégica que teve sucesso no Grêmio, em outros times, não obteve os resultados esperados, a não ser encenar espetáculos de guerra, como foi o caso da participação de Portugal na Copa de 2006, ou sua passagem lamentável pelo Chelsea, a qual os torcedores ingleses preferem esquecer.

Essa fórmula (jogadores obedientemente medíocres + violência + cegueira arbitral), segundo algumas pessoas, não deu certo na Copa de 2002? A resposta é afirmativa, no entanto, devo lembrar que o Brasil se classificou e passou das oitavas graças às cataratas que cobriam os olhos dos árbitros das partidas contra a Turquia e Bélgica. Nessas duas oportunidades, a Seleção brasileira, que tinha quatro volantes  no meio campo e foi profundamente vaiada, e a torcida pedindo a substituição do Fenômeno, o jogador global da Nike. Depois tudo foi aplauso e elogios da imprensa brasileira, esquecendo de dar os créditos aos verdadeiros heróis do título: Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo. Será que essa história vai se repetir ou será uma comédia trágica, impulsionada por um retorno a um passado que deveria ficar sepultado pelo tempo verbal, o pretérito-mais-que-perfeito? Felipão, apegado a sua mágica fórmula, acha que sim e a prova disso é a sua revolta contra as declarações dos técnicos de outras Seleções, preocupados com as arbitragens que possam beneficiar a Seleção Canarinha. Ora, a Turquia não era a Croácia, a Copa não era no Brasil, as outras Seleções - mas de perto, a pobre Bélgica - esqueceram da terrível influência do Havelange, e de uma certa dívida da Nike e da FIFA para com a Canarinha, em decorrência daquela final fatídica contra a França em 1988, tese preferida pelos paranóicos plantonistas. Entretanto, mesmo sem levar em conta essa teoria da conspiração, os adversários do Brasil deveriam ter tomados certas precauções, como estão fazendo no atual momento, denunciando uma possível interferência dos árbitros em favor da Canarinha.

Será que o raivoso Felipão tem razão quando afirma que os técnicos das outras Seleções estão criando preconceitos nas cabeças dos árbitros, dando como exemplo, os erros do árbitro inglês em favor do Chile? Em primeiro lugar, não houve erros por parte do árbitro inglês, mas uma arbitragem imparcial e correta. Em segundo, depois de toda gritaria da imprensa internacional e dos adversários, se existe mesmo essa conspiração, a FIFA jamais repetiria a dose, pois seria dar um recibo assinado que a Copa é uma farsa. Entretanto, convém aos adversários não baixarem a guarda, porque a influência de Havelange não pode ser banalizada; as concessões do governo brasileiro, nunca feitas para outros países sediantes, como é o caso da isenções de impostos que são altamente suspeitas; e as denúncias de corrupções atuais da FIFA são preocupantes.

Ora, Felipão, essa saliva furiosa que escorre do seu queixo, não é a baba de um velho leão cansado, mas um líquido que umedece a língua de um gatinho de pensão, acostumando com as paredes e móveis de uma casa. A quem você quer enganar? A imprensa desportiva que sempre passou a mão sob a sua cabeça, considerando você um Deus, esquecendo de exercer uma crítica eficaz que criassem obstáculos a sua eterna fórmula? Quem convocou jogadores que jamais poderiam estar na Seleção e esqueceu de convocar jogadores com maiores experiências, como, por exemplo, Kaká, Robinho e outros? Sua fórmula entediante não está funcionando, até o presente momento, a não ser no quesito violência, mas isso é muito pouco, pois seus jogadores medíocres e obedientes estão perdidos dentro do campo, e a cegueira dos árbitros só existiu no jogo com a Croácia. Teria sido bom que o árbitro inglês estivesse com catarata, não é? Assim, Hulk teria sofrido uma penalidade máxima e teria feito um gol com ajuda do seu braço, e isso seria muito bom, não é verdade? Porque para o nosso possesso técnico o importante é ganhar, mesmo com um futebol que desmerece a nossa história honrosa de arte e talento.

Essa Copa não é a vingança do desastre acontecido em 1950, como a de 1994 não vingou a derrota do Brasil em 1982. A Seleção de 1950 era um grande time, formado de grandes jogadores e que foi derrotada por ter comemorado na véspera, banalizado totalmente o adversário. Situação análoga se deu com a Seleção brasileira contra a Itália que perdeu por problemas emocionais, mas que marcou um página inesquecível na história do futebol mundial. Quase todas as pessoas nos diversos países do mundo rendem homenagem a grande Seleção Brasileira de 1982, assim como colocaram a Holanda de 1974 no mais alto Panteão do futebol mundial. Futebol é arte, apesar de a FIFA hesitar em mudar as regras antiquadas que beneficiam o futebol-força e esquemas de compactação, nos quais qualquer jogador obediente é eficiente. Quem se lembra da Seleção brasileira de 1994 do teórico Parreira, um treinador que fazia dos jogadores apenas meras peças de manipulação? Somente o genial  Romário é lembrado e com toda razão: em meio a um aglomerado de jogadores medíocres, o "baixinho" brilhava como uma estrela solitária.

Felipão não vai retroceder, pois ele nunca mudou e tudo não passou de uma maquiagem de péssimo gosto. Com essas regras atuais vigentes, Felipão poderá até ser campeão se conseguir colocar um meio-campo no time, pelo menos razoável. De qualquer maneira é necessário que o Felipão reze todos os dias, para todos os Santos, principalmente para as Santas Balizas.

Ivan Bezerra de Sant Anna
 


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segunda-feira, 23 de junho de 2014



Para quem as vaias dobram? 



Em um País democrático, as vaias são, simplesmente, vaias somente. É um momento de protesto, um repúdio contra alguma coisa que não vai bem. Quem vaia não respeita ninguém, nenhuma autoridade é poupada, e nem mesmo quem vaia. Quem é o alvo da vaia não deve se sentir ultrajado, principalmente se passou a vida vaiando tudo e todos. Ao contrário! Um cidadão que vive com orgulho em uma verdadeira República, mesmo constrangido por ruidosas vaias deve tirar desse momento de dor uma lição de cidadania que vai lhe permitir uma possível reflexão. Isso vale para os países que apreciam os acordes da Marselhesa e nunca para populações que sambam embaladas pela enfadada frase poética das elites indignadas, que vaticinam: "Vocês sabem com quem estão falando?"

E de quem estamos falando, dos que vaiam ou são vaiados? De ambos! Como já disse, vaiamos quando algo vai mal, quando alguma coisa se apresenta ao nosso olhar como um terrível incômodo de uma luz solar refletida do gelo. Às vezes, um espelho de Narciso que reflete mil faces, máscaras assustadoras que não sabemos que temos, mas que grudam como alternativas peles em um rosto sem contornos perenes. Assim, vaiamos os nossos desejos reprimidos, refletidos em despudorados provocadores; vaiamos sem piedade o individualismo possessivo sem limites, mas limitados em nossas ações cotidianas pela ausência de oportunidade e, sobretudo, cuspimos sonoros gritos contra a diferença, impulsionados por nossas indiferenças protetoras. Afinal, depois dessas copiosas e monótonas dúvidas,  devemos vaiar ou não? Claro, ora pois! Se vaio, logo existo vaiado e ao refletir, cresço de vaia em vaia.

Nessa Copa Buena, a Copa das Copas, aprendemos que o ânimo vaiante declina do Sul para o Norte, em uma aparente contradição entre o clima e o humor. Quanto mais enraivecido e esbravejante o sol, mais abrandado fica o ânimo das pessoas. Coisas do Brasil? Por exemplo: o nordestino, o "cabra da peste", o herdeiro de Virgulino, acossado pelas fulgurações solares e pela madrasta necessidade, troca as vaias pela cândida musiquinha, "Eu sou brasileiro, com muito orgulho...". Será ele o mais patriota, aquele que calça as chuteiras da Pátria? Ou seria ele um aposentado do cangaço, um seguidor dos místicos "pais do povo", aquele que cordialmente cede seu voto em troca de pequenos favores? A culpa é do sol, dizem alguns, pois esse astro escaldante queimou os neurônios do sertanejo, ao longo dos séculos cruéis. Tenho uma melhor explicação, mesmo que beire ao simplório: o sertanejo já usou o jaleco, a peixeira cortante, o punhal afiado, mas nunca aprendeu a vaiar!

No entanto, as vaias podem vomitar hipocrisias, astutas malandragens, se impulsionadas por uma mídia manipuladora a serviço de moralistas imorais. Pobre Diego Costa, vaiado sem clemência por pessoas tostadas pelo sol que nunca aprenderam a vaiar! Vaiaram por um patriotismo extremado, embalado pelas chuteiras mágicas da Copa? Se a essa indagação fosse obtida uma resposta afirmativa, por que não vaiaram a declaração hipócrita do Filipão quando sugeriu que o filho de Lagarto era um traidor? Logo ele que dirigiu a Seleção de Portugal e mandou que Deco e o baiano Pepe se naturalizassem portugueses? Por que não vaiaram um técnico decadente que convocou mal, utilizando-se de jogadores que estavam em péssimas fases na Europa, teimando convocar um Jó medíocre e um Fred decadente? As vaias não deveriam ir para um técnico que seu empresário é o mesmo de alguns jogadores que foram inexplicavelmente convocados? As verdadeiras vaias não respeitam coincidências nem contradições mal explicadas!

Vaiamos porque "somos brasileiros com muito orgulho" e, sobretudo, cidadão do mundo civilizado. Vaiamos uma Copa que foi realizada para enriquecer alguns, um torneio em que a FIFA exerceu um singular autoritarismo, sendo presenteada por uma imensa isenção de imposto, fato que não aconteceu em nenhum País que sediou a Copa, inclusive na subdesenvolvida África do Sul. Vaiamos as obras superfaturadas, os elefantes brancos inacabados, o uso das Forças Armadas no policiamento das ruas, a voracidade da nossa elite vampiresca e ao mesmo tempo tão subserviente aos interesses da FIFA. 

Vaiamos porque amamos o Brasil e vamos continuar vaiando, amando, chorando, torcendo pela canarinha, pelo verde de nossas matas, por nossa Pátria com chuteiras rotas e mágicas. 

Ivan Bezerra de Sant Anna
 
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quinta-feira, 19 de junho de 2014

Meu caro amigo



Meu caro amigo






Meu caro amigo me perdoe, por favor, por essa carta incisiva. Ao que parece, o grande Chico Buarque que encantava à sofrida "classe média", enchendo os auditórios, solfejando as suas músicas nas ruas perigosas, está muito distante, brilhando em algum ponto da parede do céu. O povão nunca entendeu as sua música, preferindo os Amados Batista da vida, inconscientemente apoiando os militares, enquanto nós, uma pequena parcela da sociedade, arriscávamos nossas vidas, embaladas por um sonho de dias melhores. Todos estávamos juntos, inclusive o Lula e a Dilma, podendo afirmar que eles são o que são, graças aos nossos votos e nossa constante luta. Não somos uma "classe média" venezuelana, um agrupamento social reacionário, mas pessoas com dignidade que sempre encheram as ruas com coragem e destemor. Você existiu porque comprávamos seus discos e cantarolávamos suas músicas no negrume das noites ditatoriais. Qual é sua origem, a de Dilma e da maioria dos dirigentes petistas? Não eram filhos de famílias brancas, endinheiradas que tomaram a reflexão critica como um dever e a luta como necessidade? É algum crime continuarmos tendo dúvidas, cultivando o Pensar crítico, vaiando, protestando, como você nos ensinou com a sua música?

Caro amigo, infelizmente, 
"Aqui na terra 'tão jogando futebol 
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll 
Uns dias chove, noutros dias bate sol 
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta 
Muita mutreta pra levar a situação 
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça 
E a gente vai tomando que, também, sem a cachaça 
Ninguém segura esse rojão" 
É, caro Chico, a coisa aqui tá preta e ao que parece, somente os "brancos e endinheirados" percebem isso. O que mudou, caro amigo, você com seu Lulismo ou nós com as nossas vaias? Aliás, mesmo nos velhos tempos, já vaiamos você quando insistia entrar ébrio nos shows, devido a sua atávica timidez. Está esquecido? No entanto, tínhamos a consciência que devíamos separar a personalidade artística da empírica, para preservar e manter intacta sua obra, das eventuais bobagens do Francisco de Holanda. Infelizmente, não fomos tão condescendentes com o Nelson Rodrigues como deveríamos ser, pois enxovalhamos a sua grande obra em decorrência das suas empíricas vivências reacionárias.

Você diz que não entendemos que um país que foi espoliado durante séculos por elites vorazes, não poderia mudar em pouco espaço de tempo, e que não enxergamos os grandes avanços sociais proporcionado por Lula. Entendemos e enxergamos, caro amigo. Mas esses "avanços" com uma melhoria no poder de compra da população, começou com o Plano Real, com a bolsa família de Ruth Cardoso e com o uso do BNDES para financiar o trôpego e desonesto capitalismo brasileiro. E o que dizíamos disso, lembra-se? Você e o agrupamento de Lula não diziam que essas medidas eram populistas, esmolas eleitoreiras? Se o Lula foi um FHC, multiplicado por dez, por que não podemos continuar dizendo? Se FHC distribuiu bolsas famílias, usou o BNDES para financiar grandes empresas  é um diabo, e quando Lula faz a mesma coisa é um santo salvador, onde vai parar a boa e velha lógica? 

Responda-me, caro amigo: é correto o Lula e seu filho possuírem inúmeras fazendas, quotas acionarias na Oi Telecom e uma empresa de processamento de carne, a Friboi? Acha certo, por tudo que lutamos, que altos dirigentes petistas estejam atolados na corrupção? E o Maluf, Sarney, Collor, e tantos outros representantes das velhas elites que em vários séculos saquearam o Brasil, poderiam ser aliados de um governante que se diz mudancista? Poderia explicar essa mágica? Afinal, quem é essa terrível elite pirata? Os aliados atuais da Sra. Dilma que outrora estavam apoiando a Ditadura militar, ou somos nós, os "classe médias brancos endinheirados" que no passado, ouvíamos sua voz fanhosa, embalando os nossos sonhos? Você não estaria dramatizando as diferenças entre Lula e FHC, tentando esconder as grandes semelhanças? Quem representa as velhas elites que secularmente espoliaram o Brasil, FHC, Serra, Mario Covas ou Maluf, Sarney, Collor, Delfim Neto, Emilio Oderbrect, José Alencar e outros? O primeiro grupo capitaneado por FHC, salvo engano, sempre lutou contra as elites e estava nas ruas contra a Ditadura. Quanto ao segundo grupo comandado pelo Sarney, hoje aliado ao Lulismo, sempre esteve contra o povo. Estou faltando com a verdade, Francisco de Holanda?

Aliás, como devo lhe chamar, Chico Buarque ou Francisco de Holanda? Você mesmo não sabe, não é? Que roda viva, caro amigo! Acho que você murchou a sua festa, não guardando o velho cravo renitente, aquele cravo do Patrício Lubumba, e possivelmente serão os garotos das ruas endinheiradas, aqueles protestam nas ruas, que plantarão a semente em algum canto do jardim. O tempo foi muito cruel para você, caro amigo. Não estou dizendo isso pelas suas profundas rugas que sulcam seu rosto, tal como leitos dos riachos calcinados pelo inclemente sol, mas por ter absorvido a seiva pegajosa das eternas crenças senis. Melhor seria o silêncio de Francisco, pois já não é o dono da voz e das mãos que outrora construíram frases de grande densidade poética, formataram sonhos e galgaram o cume da transcendência.

O samba está na rua, dançado e cantado pelos descamisados, pelos "endinheirados dos extratos médios"  e por você, caro Chico Buarque. Se Francisco de Holanda vai estar de galeria com as "elites populares do Sarney", batendo palmas educadas como turista, apenas diremos: "Quem te viu; quem te vê".

Ivan Bezerra de Sant Anna


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terça-feira, 10 de junho de 2014

A Copa do jogo da bola




Está havendo uma limpeza das ruas brasileiras, no sentido de retirar os pedintes, ambulantes, os diversos tipos de marginalizados que poderiam criar uma péssima  impressão aos turistas da Copa do Mundo. O nosso Exército brasileiro está ajudando nessa gloriosa tarefa, pois em um país com uma grande densidade democrática, o nossos gloriosos soldados da pátria possuem inúmeras funções, dentre elas, as policiais. Vejo que a Ditadura militar foi quem introduziu essas inúmeras funções, o que se pode afirmar que os nossos generais plantaram uma semente democrática nos momentos de chumbo, interpretação baseada na sobrevivência dessas práticas.

Pelo que parece, a proibição nos EUA do Exército  ir às ruas das cidades é uma tradição um tanto obsoleta, bem como essa proibição que vige em outros países da Europa, como demonstra os atuais avanços democráticos no Brasil. Claro que quando houve a Copa do Mundo na França, Inglaterra, Alemanha, o policiamento era feito pela Polícia e os dignos soldados das forças armadas desses países, ficavam na caserna e vendo a Copa pela televisão. Já na África do Sul que é uma das mais avançadas democracias do mundo, assim como o Brasil, usou as gloriosas forças armadas para policiar as ruas. Pelo visto, o Brasil do Lulismo é mais que moderno, onde as baionetas, canetas judiciais, a bola, as bolsas "disso é daquilo" formam uma bela salada de frutas tropicalente.

O Brasil é um país fantástico! Tudo funciona do jeitinho brasileiro. A pobre taça Jules Rimet que consegui sobreviver a 2ª Guerra mundial, a tentativa de roubo na Inglaterra, mesmo com a proteção dos braços aberto do Cristo Redentor, teve um triste fim e hoje, possivelmente, descansa em alguma galeria de um rico colecionador, apesar do relatório policial declarando que a pobre Jules virou barra de ouro. O que foi derretida foi a vergonha desses policiais com essa conclusão cínica que objetivou encobrir alguém.

Já somos o País mais corrupto do mundo ou em palavras mais amenas: um País com uma elite compostas de pessoas muito sabidas que alternam com muito eficiência a tapeação e o tacape. Infelizmente é Copa do mundo só veio confirmar esse título que foi  conquistado ao longo do tempo por jogadores habilidosos e criativos, sempre driblando a moralidade pública com firulas imortais, fazendo inveja ao Pelé, Garrincha e outros. Quem é a nossa verdadeira Seleção de craques? Será a de Neymar, Fred, Marcelo, Thiago? Ou a de Sarney, Emilio Oderbrect, Maluf, Lula, Constantino? Esse último escrete já é vencedor imbatível no jogo da bola, e o primeiro escrete vai tentar ser hexa, chutando a bola. Chutar ou pegar a bola, eis a diferença de um jogo para outro. Seja qual for o resultados dos nossos esforçados garotos chutadores de bola, mesmo antes de começar a Copa, já seremos super campeões de um esporte onde colocar a mão na bola não é infração, mas o caminho para ovação e para a ribalta.

As cidades fervilham em protestos, imensos movimentos sob diversas óticas e interesses, sem comandos hierárquicos, uma massa quase amorfa que combina diversos tipos de protestos, inclusive aqueles de uma grande violência destrutiva. "Isso é fascismo; são movimentos factuais que destroem o tecido democrático", dizem os governantes, respondendo com as tropas federais nas ruas. Em nosso País, as legiões sempre cruzaram o rio Rubicão e os resultados nunca foram dos melhores. Entretanto, o que as nossas elites governantes não conseguem ou não querem ver é que esses famosos movimentos "sem lenço e sem documentos", tem suas origens e motivações na destruição do velho espaço normativo-instituicional, dos planejamentos urbanos acordados em lei, substituídos por uma plasticidade pragmática e pontual das demandas sociais. Tudo isso moldado por princípios indefinidos, manipulados pelos flexíveis planejadores estatais e pelo Judiciário.

E,nada melhor do que deixar os "bolsistas desvalidos"  invadirem áreas de proteção ecológicas, terrenos públicos reservados para obras públicas, pois essas serão as áreas futuras que Capital imobiliário possessivo usará para a construção da sua pós-modernidade neo-liberal, preferencialmente financiada pelo dinheiro público. A fórmula é simples: "vamos deixar invadir em nome das demandas alternativas e depois tomaremos em nome da lei, criada e recriada pelo nosso aliado, o Judiciário". Afinal, o neo-liberalismo é contra o monopólio, a não ser que seja ao seu favor.

Cinicamente, os governantes atuais, acobertados sob as vestes de falsas tintas rubras, lamentam a ausência de organização dos movimentos das ruas, como se esse fenômeno fosse algo que irrompeu de um misterioso Id freudiano, forças atávicas titânicas. Essa miopia, um tanto desonesta, não os permitem ver que foram eles que desmobilizaram os movimentos de massas organizados, os agrupamentos da sociedade civil, anexando-os por suborno ou por obediência ideológica-partidária, à máquina governamental. Não percebem ou não querem perceber, a violência do Capital neo-liberal que se impõe sobre a sociedade e o espaço de convívio das cidades. O mal de Alzheimer que se alastra e destrói os poucos neuróticos saudáveis de alguns integrantes do Lulismo, provoca uma amnésia lastimável em relação ao processo dialético que outrora faziam uso, inclusive da bela mensagem do poeta alemão, B. Brecht, que diz: "Dizem violento o rio, mas esquecem as margens que o oprime".  



A Copa é tudo e representa o melhor dos mundos, mesmo que seja por um mês. E depois, como fica a saúde, o transporte urbano, a educação? Bom, existem as Arenas e quando o seu filho adoecer, não se faça de rogado: corra com a criança nos braços para as benditas Arenas, administradas pelas empreiteiras, pois nelas estão o dinheiro que deveriam ir para os hospitais.

Ivan Bezerra de Sant Anna



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quarta-feira, 4 de junho de 2014

Que sapiência, Presidenta!





Que mundo estranho! Esse reino da pós-modernidade que tem Deleuze como um dos ícones, um topos ideológico baseado em uma confusa alteridade que relativiza a verdade ao sabor do doce pragmatismo constitutivo. Poderá ser a última acomodação explicativa do capitalismo que esvazia todo conteúdo simbólico-normativo do edifício econômico e social, deixando os conceitos submetidos aos princípios abstratos, indefinidos, e definidos pelas acomodações do mercado. Em outra palavras: pura e indigesta salada de variedade, revestida sob uma bela e sofisticada capa teórica que impulsiona o populismo intelectual e político que, em terras brasileiras, nem sempre se dá ao trabalho da sofisticação.

Esse descuido da senhora presidente pode ter muitas explicações, dentre elas, a sua necessidade imperiosa e compulsória da afirmação dos seus atributos femininos. Uma mulher pode ser Presidente, gerente ou qualquer coisa, sem que isso precise recorrer a um ato de puro arbítrio, violando a gramática de uma maneira tão bisonha, beirando a fronteira crepuscular da ignorância. A palavra "presidência" denota a função de presidir e é um substantivo feminino, Sra. Presidente! Se a palavra já é feminina, por que substitui-la por outra de existência negada pelos  verdadeiros gramáticos? Duplicar a feminilidade dessa palavra não é somente um erro grosseiro, como poderá ser a afirmação  da sua negação, mesmo que não seja o seu real objetivo. Não lhe ensinaram na sua época de guerrilheira de esquerda que na Dialética uma dupla negação afirma um certo conteúdo da tese negada e que uma dupla afirmação é tentar escamotear a sua negatividade?

Entendo que esses atos de arbítrios são decorrentes de inseguranças existenciais e políticas, pois quando o arcabouço institucional normativo-simbólico não atende às variadas demandas sociais e econômicas, o único recurso existente é o populismo e quando esse se mostra insuficiente, o autoritarismo entra em cena. Como Marx afirmava que a base econômica é predominante,  essencial para o desenvolvimento e manutenção ampliada de uma ideologia, quando a crise se instala ou está em uma virtualidade explosiva, o autoritarismo é uma pedra de muitas pedras que pavimentam o caminho do totalitarismo.

Uma palavra feminina que é sinônimo do Poder Executivo e quando inscrita em uma chapa de um veículo, quer apenas dizer que o referido veículo está a serviço do referido Poder e nunca o sexo do chefe que o preside. Essa simples mudança ingênua de palavras, Sra. Presidente, não vai resolver nada, a não ser a demonstração inequívoca que um ato caprichoso pode violar o conhecimento adquirido com muito esforço pela humanidade e construir banalidades perigosas. E pior: para algumas pessoas embaladas por medos paranóicos, essa translação de Presidência para Presidenta pode ser um ato influenciado por desejos reprimidos inconfessáveis, exemplificado por um acontecimento de triste recordação, quando a Sra. Marilza em sua santa devoção, confundiu a titularidade de propriedade de uma obra de arte que era um Cristo da Presidência, com um Nazareno do Presidente, consequentemente, da "Presidenta" Marilzenta. No entanto, Lula é Lula, o Cara de Obama, o filho dileto de Deus e sendo assim, não cometerá nunca violação ao 7º Mandamento, pois estará sempre amando o próximo como a ele mesmo. E um crucifixo, o dinheiro público podem estar bem próximos...

Se trocar a palavra Presidente por Presidenta já é considerado um grave erro gramatical, imagine Presidência por Presidenta. Aliás, essa palavra é um puro capricho seu, aplaudido por gramáticos aduladores e interesseiros. Como é o particípio ativo do verbo presidir, essa palavra não pode ser flexionada em gênero. Por exemplo: o particípio ativo do verbo Ser é a palavra "ente" e nunca poderá ser "enta", pois por associação melódica, impulsionada por um falso feminismo,  pode soar como "anta".

Coitada da nossa falsa República!



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domingo, 1 de junho de 2014

Partes

Somos partes
De um mundo partido
Paridos em partes
De quem, ninguém sabe
Mistérios que  chegam
Mistérios que partem

Quando eu me vejo
Não me espanto
Que do mundo me reparte
Você sou eu
Eu sou você
A melhor parte

Ivan Bezerra

sábado, 24 de maio de 2014

As elites estão contra Lula?





Lula apareceu na televisão, no programa do PT, e como um artista de uma telenovela chorosa, cuspiu salivas ácidas, tal como um Dragão de Komoto, derramando lágrimas sonolentas como um jacaré satisfeito com sua última refeição. Demonstrando  indignação falou aos brasileiros e brasileiras que estava sendo vítima de um complô orquestrado pelas elites com a finalidade de destruí-lo, e tudo porque não o perdoava por ter criado a bolsa família, um programa governamental de distribuição de renda. Esse velho bordão que já teve seu apogeu em épocas que era oposição, quando chicoteava ferozmente sua língua enrolada contra os integrantes dos governos, hoje, em dias atuais, merece uma boa reflexão.

Quem são essas terríveis elites que estão contra Lula? No passado, quando se dizia socialista e ferozmente brandia seu punho cerrado, era fácil identificar, pois eram todas as pessoas poderosas que queriam manter um modelo político autoritário, patrimonialista e populista. E na atualidade quem são essas elites refratárias ao Lulismo? Os empresários da construção civil que derramam elogios a ele e são beneficiados pela torrente cachoeira de fluxos financeiros da Caixa Econômica? Os empresários do sistema de educação privada que são financiados e mantidos pelo PROUNI? Os banqueiros que nunca lucraram tanto  como agora? Os ruralistas que atualmente podem invadir as terras amazônicas e que tem como aliado, o empresário rural Lulinha? Ou os integrantes da base de apoio parlamentar ao PT, distribuídos por vários Partidos políticos, dentre eles, o PMDB? Afinal, quem são essas terríveis elites que não apreciam o sabor suculento de uma lula ao vinho de jurueba?

Bom, quem sabe se não são os empresários de outros países poderosos, auxiliados por um coro polifônico de chefes de Estado? Nesse caso, como se explicam os elogios rasgados da imprensa internacional, as louvações de Bush e Obama, a chuva torrencial de doutorados Honoris Causa e o espaço dado por um grande jornal conservador americano para que o nosso Pai do Povo se expresse com suas "mal traçadas linhas"?  Que Fidel Castro, Evo Morales, Cristina Kirchner, Nicolás Maduro Moros declarem que são vítimas de uma terrível perseguição das elites poderosas é um fato aceitável, pois são constantes alvos de ataques sistemáticos pela grande imprensa financiada pelo Departamento de Estado dos EUA que já reservou um lugar privilegiado para eles nas labaredas tostante do Inferno.

Lula é um mágico, um notável em prestidigitação, um ilusionista, capaz de convencer a todos que Maluf, Sarney, Collor de Mello, Emilio Oderbrect, Nenê Constantino, Cachoeira, Eike Batista  e seus parlamentares seguidores não são integrantes de uma elite patrimonialista e corrupta? Um fenômeno de hipnose coletiva ou insuficiência cognitiva, oportunismo, um ato de fé fundamentalista, a honradez agradecida dos "desesperados" bolsistas? Como o leitor explicaria tal fenômeno?

Ora, afirmar que a Rede Globo pertence ao grupo das elites contrárias ao Lulismo é, no mínimo, uma grande desfaçatez, para não falar, um oportunismo deslavado! É esquecer a grande e prestimosa ajuda  que sempre deu ao governo petista (ela sempre faz com todos os governos), chegando a demitir vários repórteres por exercerem suas opiniões críticas em relação ao Lulismo, como por exemplo, Ricardo Boechat, Alexandre Garcia e outros. No entanto, a Vênus Platinada não pode ficar surda às manifestações da rua, sob pena de perder totalmente a sua credibilidade, consequentemente, o mercado. Então, efetuando um raciocínio por exclusão, sobraria a  reacionária Revista Veja e uns poucos semanários independentes que, associados com políticos do PSDB, formariam essa temível elite que vocifera contra o povo. Esse raciocínio não é tacanho e o uso de uma bala de canhão para matar um formiga? Ou melhor: destruir uma elite tão pequenina que caberia em uma velha Kombi? Não estaria o Lula e seus seguidores, dramatizando as diferenças para esconder as semelhanças?

Quem está contra Lula? Os integrantes dos extratos médios sociais que a cultora de Espinoza, a Sra. Marilena Chuai, diz professar um ódio eterno, cometendo um erro conceitual ao confundir extratos (associação contigente de pessoas de classes diferentes, agrupadas por semelhanças de status e acesso financeiro) com classe social? Aliás, o que não falta são intelectuais que fazem incursões tortuosas na dialética, recriando a lógica, sadomizando o entendimento, com a única finalidade de mascarar as contradições, provando que o  vermelho pode ser preto em situações especiais (o que eles chamam da lógica da diferença), trocando os conceitos por mitos, colados e seriados pelo oportunismo criador. Uns verdadeiros cultores do pós-moderno, não acham?

Serão elites refratárias as pessoas que estão nas redes sociais, nas ruas, protestando e exigindo um sistema público de saúde digno para população; transportes públicos de bom nível; o fim da imensa corrupção, uma ulceração cancerígena que se alastra pelo corpo da Nação? São aquelas que pedem a construção de de uma verdadeira República, onde se ouça os acordes da Marselhesa? São os que pleiteiam a modificação da bolsa família que, mesmo sendo de muita importância social, não pode ser um vil instrumento de compra de votos que até os gatos e cachorros são brindados? Esses terríveis vândalos da "classe média" não teriam razão quando perceberam que seus recursos financeiros arrecadados pela Fazenda Pública, estavam financiando 20 milhões de bolsas famílias (quando existem apenas 12 milhões de desempregados) e irrigando as caixas das grandes empresas, consequentemente, através do BNDES, mantendo um capitalismo financiado pelos recursos públicos?

Lula, responda uma coisa. Essa "classe média" que tanto causa horror aos seus seguidores intelectuais, não é a mesma que protestava contra a ditadura militar, que foi de maior importância nas "Diretas já"? Não foi essa "classe média" que pediu nas ruas a saída de Collor? Não a mesma "classe média" que sempre votou em você, antes de ir ao Poder? Quem mudou, Lula, ela ou você? Sei que para você é uma tarefa árdua, mas que tal ser honesto pelo menos uma vez na vida?

Ivan Bezerra de Sant Anna



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