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sábado, 12 de janeiro de 2013

Andando em círculos


Andando em círculos.


Não entendemos as mulheres. Como são complicadas! Às vezes me pergunto onde se encontra o erro, se na essência complicada do Ser mulher ou em nossas cabeças cheias de valores machistas. Lembro-me de uma piada contada pelo saudoso Zé Miséria em que um homem achou uma lamparina e dela saiu um gênio que lhe concedeu um pedido com até duas tentativas. O homem que já era rico e não era um empresário sediado no Brasil, pediu que ele fizesse uma ponte que ligasse a África e os Estados Unidos. O gênio coçou a cabeça e explicou que essa magia era impossível, pedindo que fizesse outro. O homem rapidamente, disse: “quero conhecer as cabeças das mulheres!” O gênio arregalou os olhos e sem titubear, falou: “como quer a ponte, com duas, quatro ou oito pistas?”.

Uma vez, um amigo cultuador da matemática efetuou um curioso raciocínio. Segundo ele, uma mulher é basicamente curvilínea, mesmo que algumas insistam na quadratura das cinturas. “Ora”, disse-me, “uma mulher é um complexo conjunto dinâmico de linhas curvas que produz fascinação visual e o cálculo da sua área global é sempre aproximado, pois a diferenciação de uma área curva é reduzida a um ponto mínimo que é um quadrado minúsculo. Quando integramos esses minúsculos quadrados sempre dá uma área aproximada, mas nunca exata. Já calcular a área de um homem é uma tarefa muito simples, porque calcular um quadrado é uma tarefa muito fácil e exata”.

Lembrei-me das poesias visuais arquitetônicas de Oscar Niemeyer com suas linhas curvas, sinuosamente femininas, que levavam ao desespero os engenheiros calculistas, acostumados com retas, triângulos e quadrados. Para Niemeyer, uma cidade deveria ser humanizada com as linhas curvas e sensuais da mulher, talvez um retorno dialético a um passado do matriarcado comunista, onde as mulheres por terem a maternidade como filogenia essencial sentiam-se mães e protetoras da sociedade. Um exemplo, dizia o humanista arquiteto, são as leoas que caçam e vivem em bando, protegendo seus filhotes, enquanto os leões individualistas urinam pelos cantos marcando territórios. Já os elefantes machos, dizia com brilho nos olhos, foram humanizados pela alma feminina; são machos que trazem as curvas femininas da solidariedade e o sensualismo da cumplicidade.

As linhas curvas, sensuais, livres e intangíveis levam-me à reflexão sobre um curioso paradoxo machista. A maioria dos homens adora a “outra” e constroem todos os tipos de fantasias excitantes, mesmo que passageira e precária. Mas quem é a “outra”? É obvio que a “outra” não é nossa, mas uma mulher livre que ainda não foi chancelada pela marca da propriedade. E quando ela se torna a “nossa”, o que acontece?  O lugar da “outra” nunca pode ficar vazio e logo é preenchido pelo desejo erótico do prazer.

O que seria tão excitante na “outra” que faz desencadear desejos impetuosos? Acho que é a liberdade e a insinuante precariedade da posse. Mesmo com todas as falsificações glamorosas do sexo efetuadas pela Igreja cristã com a criação fabular do sexo romântico, o sexo sempre será selvagem, conquistador, violento, sedutor e prazeroso. O sexo nunca será virtuoso e bem comportado, pois assim sendo, o desejo e o prazer cedem espaço para a obrigação e a rotina. O sexo alimenta-se da imaginação fantasiosa, do erotismo visual das curvas excitantes, das palavras sem virtudes, da animalidade devoradora, de um suspiro, de um urro de prazer.

E que é o amor, já que o sexo independe de quaisquer manifestações amorosas? Não gosto de definições abstratas, no entanto, arriscaria dizer que o amor entre duas pessoas baseia-se no gostar de estar juntos, nos sonhos conjugados, no companheirismo e na cumplicidade dos prazeres. Amam-se duas pessoas livres com prazeres conjuntos ou bifurcados, mas sempre cúmplices. O prazer de um será o do outro. Não haverá a “nossa”, nem a “outra”. Haverá sempre as outras, sinalizando as curvas sinuosas do desejo prazer e a nossa “outra”, companheira e cúmplice de uma sempre renovada escolha de estar juntos.

Não é preciso cálculos ou magias misteriosas para conhecer uma mulher. Ela está presa em algum recanto do nosso ser, uma persona dentre tantas outras. A mulher é a própria liberdade; não se conhece, vive-se.

Ivan Bezerra de Sant Anna