Pesquisar este blog

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Vou embora para Passargada

Vou embora para Passargada

 


Se Dilma ganhar essa eleição, uma coisa é certa: o brasileiro é desonesto e corrupto, vive a cultura da Lei de Gérson (é preciso levar vantagem em tudo), curva-se perante os poderosos e exclama com ingenuidade: "Ela rouba, mas faz". Uma frase cunhada para Ademar de Barros e mantida ao logo do tempo como um parâmetro avaliador do eleitor pragmático. Se uma instituição tem grande responsabilidade pela manutenção dessa maneira de ser dos brasileiros, ela atende pelo nome de Judiciário, órgão que jamais cumpriu sua majestosa função de árbitro democrático, punindo com rigor esse individualismo possessivo. Ao contrário, os nossos juízes brasileiros vivem censurando a lei, impondo a censura às vozes democráticas, baseados em princípios vagos, abstratos e indeterminados.

Com rostos de anjos platônicos - alguns possuem até o sobrenome anjo -,  dizem que um determinado Partido tem honra a ser defendida nas barras dos tribunais e depois, mais suavemente, falam que um determinada família política não pode ser alvejada por denúncias sem provas. Tudo isso seria lindo se essas pessoas não fossem personalidades públicas e suas honras aviltadas fossem privadas.  No entanto, uma informação que afete a honra de uma pessoa será lícita e legítima, quando se refere a fatos de relevância pública que questionam a honradez de uma figura pública ou de uma pessoa privada envolvida em tema de relevância pública e quando existe um interesse legítimo dos membros da sociedade em discutir assuntos que incidam diretamente naquela sociedade. Para Humberto Nogueira Alcalá, na área pública, a mácula sobre a honradez não se dá pelo simples fato de se expressar livremente, informando a sociedade sobre determinado ato praticado pelo agente, de forma a duvidar-se de sua honra ou probidade, mas "em tales casos las personas afectadas se deshonran em virtud de sus propios actos". Essa orientação é seguida por todos os Judiciários dos verdadeiros países democráticos, pois essa garantia da liberdade ampla de expressão é o pilar básico da Democracia. E o que é o nosso Judiciário? Um órgão de manutenção da velha e sempre nova, oligarquia brasileira.

É triste admitir, mas a desonestidade, a corrupção, são relativizadas, ao ponto de serem confundidas com atos de esperteza, instrumentos pragmáticos para a realização da competição capitalista. No fundo, todos são contra a corrupção, desde, é claro, que os seus interesses não sejam contrariados. É possível que, em um primeiro momento, um escândalo provoque indignação geral. No entanto, aos poucos, esse sentimento se dilui quando se pensa na manutenção de um cargo público, uma bolsa "disso e daquilo", uma velha história a ser mantida, ou os terríveis defeitos do adversário, dramatizado por um maniqueísmo cruel. Vamos deixar de preconceitos! Pouco importa que seja um analfabeto, um pobre, ou um doutor, todos se comportam da mesma maneira, centrados em um lastimável individualismo possessivo. Como uma pessoa com um bom nível cognitivo, bem informada, consegue deixar cair sob seus olhos o manto da cegueira, ao ponto de defender teses de defesas ingênuas, favorecendo os desonestos? Isso é Brasil e essas coisas são possíveis, devido a uma cultura do pragmatismo, típica de países onde apenas ouviram ecos distantes da Marselhesa e jamais vivenciaram o estatuto de cidadania republicana. 

Os eleitores dessa falsa República possuem a governante que merecem. Depois de tantos anos de lutas, avassala-me o sentimento de ser um estrangeiro em meu próprio País, pois como falou o poeta, o Brasil pode ser do samba, da malandragem e do futebol, mas com certeza não é o meu País.

O meu País tem que ser reinventado nas ruas, no clamor dos embates, com a bandeira factual da desobediência civil, longe das falsas instituições mantidas pelas elites, um processo eleitoral que caminha em círculos e que não permite mudanças reais, mas "um mudar para que nada mude". Não devemos ter medo de soluções autoritárias, nem de um possível retorno às situações pré-constituídas, porque ver com coragem olhos da tragédia é voltar a sonhar e construir projetos de soluções, que se afaste da famigerada conciliação das elites, uma orientação ideológica oportunista, centrada no pragmatismo sem princípio, que sempre abortou os potenciais revolucionários.

Sabemos com antecipação do resultado das eleições, principalmente um pleito realizado por intermédio de urnas eletrônicas sob suspeita de fraude, e sob o comando de um Presidente do TSE que, algum tempo atrás, era advogado do PT e cupincha de Lula. Portanto, entre esse trágico Brasil real e o sonhado, existe o caminho das ruas, a explosão das contradições reais, o chicote que rasga a pele e desperta, o conflito dolorido que faz alcançar a maturidade republicana.

Ivan Bezerra de Sant Anna
 


Publicado no site http://www.facebook.com/ibezerra52; http://ibezerra.xpg.com.br e no Blog http://terradonunca-ibezerra.blogspot.com/