Devemos levar em conta os depoimentos daqueles que estão professando ideias, às quais não concordamos?
Acho que sim! Um bom conselho para isso é a 2ª Lei de Voltaire, explanado que "quanto maior o número de candidatos à prática da imoralidade, maior será o controle da imoralidade alheia." O que ele queria dizer? Em palavras populares, "um sujo falando do mal lavado", um safado apontando a safadeza do outro, pode levar a verdade para as pessoas, pois cada um dos "xingadores", com a finalidade de destruir o outro, vai fundo nas safadezas do adversário. Percebe-se, dessa maneira, que Volteire ao proclamar essa frase, tinha dois objetivos: atender ao princípio da tolerância e deixar realizar a dialética dos argumentos opostos.
Karl Marx dizia sempre que muitas vezes, alguns monarquistas realistas eram mais importantes para se chegar à verdade, do que muitos socialistas ativistas e citava Balzac como exemplo. Devemos estar alertas para os maniqueismos, pois longe de ser um pensamento dialético, na verdade é um dogma baseada na crença.
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quarta-feira, 13 de novembro de 2013
terça-feira, 12 de novembro de 2013
As pessoas, apelidos e os nomes
As pessoas, apelidos e os nomes
As pessoas nascem e seus familiares lhes dão nomes de suas preferências, diferentemente da cultura indígena Siox que esperavam que o pupilo crescesse e escolhesse um nome mais adequado com suas características e personalidade.
Acontece que esses meninos crescem e muitas vezes adquirem apelidos que marcam sua posição familiar, como, por exemplo, Pedro de Paulo ou por espelhar características pessoais. Algumas dessas pessoas são tão conhecidas pelos apelidos que acabam incorporando-os legalmente aos nomes originais. Assim nascem os apelidos e algumas vezes por representarem um perfil amplo do indivíduo, são amplamente representativos.
Outras vezes, com o passar do tempo, o apelido ou um sobrenome, desvincula-se das pessoas, formando uma entidade fictícia, simbólica, mas de grande poder evocativo, uma totalidade predicada pelo inconsciente coletivo, com arquétipos imemoriais. E não é mais a pessoa hospedeira, mas um algo maior. Por exemplo: Hitler não é mais Adolf, Mussolini não é mais Benito, mas uma encarnação sem carne, manipulada muitas vezes por aventureiros que percebem na pessoa hospedeira, uma explosiva mistura de mediocridade, ambição, populismo e uma vontade de potência, estimulada por um ego diminuto e esfacelado. Essa simbiose entre pessoa e persona, essa translação esquizofrênica do Eu para o Ele, em circunstâncias propícias, pode ser uma promessa de um grande mal devastador.
Os arquétipos são formulações de um passado distante com um núcleo duro valorativo e posicional que se amoldam aos novos conteúdos periféricos. Por exemplo, um líder político salvacionista atual pode ser a vestimenta do arquétipo de um patriarca ungido pela crença, com poderes divinos e ilimitados. E o mal nada mais é do que a volta de arquétipos de épocas onde a atuação humana baseava-se simplesmente nas leis de sobrevivência da Natureza, sem alguma valorarão moral ou ética, para além do bem e do mal. No entanto, é essa transcendência para além dos valores humanos que constitui a genealogia do mal.
Hannah Arendt dizia que o mal era superficial, embasado na ausência do pensar e o bem era profundo e radical. Quando os arquétipos são mantidos por obediência e crença de uma imensa legião de medíocres, homens superficiais, como foi o caso de Adolf Eichmann, ela tem toda razão. Entretanto, o que dizer de intelectuais como Martin Heidegger, o ex-Papa Bento, o grande poeta Ezra Pound e outros? O que falar sobre Sartre, Jorge Amado, Neruda e tantos outros que se recusaram a um pequeno momento de dúvida em relação a Josef Stalin? Lenin, como um grande pensador dialético, morreu cheio de dúvidas e as expôs em testamento. Gramsci teve conhecimento dele, opôs-se a deixar de pensar, sendo abandonado pelos companheiros como traidor e no seu enterro, apenas havia duas pessoas.
Claro que esses intelectuais, as grandes lideranças, pensavam! O problema é como pensavam. Usavam a razão instrumental, o pensamento pragmático, a razão argumentativa oriunda de um método dialético formalizado e com esses instrumentos justificavam o princípio egoísta sobrevivente, tão bem descrito por Nietzsche como a Vontade de Potência. E é essa vontade fundada em um individualismo extremado (muitas vezes inconsciente) que evoca os arquétipos imemoriais de sobrevivência, de todos contra todos, amortecidos pela razão justificadora. Aí reside o mal, evocado por razões cínicas e mantido por uma imensa legião de crentes que se recusam a pensar. E esse mal foi amortecido, domesticado e universalizado pela ideologia do capitalismo como competição entre pessoas individualistas e possessivas, um processo alienativo da consciência, tão bem explicado por Karl Marx. Se acreditarmos que o mal é o individualismo possessivo, extremamente competitivo, sem limites morais, um permanente estado de necessidade, então poderemos afirmar com segurança que a ideologia capitalista possui o mal na sua essência.
A filósofa judia tinha razão. O mal é superficial, raso, antiquado e reside no não-pensar. O bem é profundo e radical, pois é necessário ir às raízes, com um pensar profundo e dialético. Um pensar subversivo que não deve respeito a quem pensa, pois é um pensar contra nós mesmos, um diálogo intenso e profundo com as nossas personas, aberto para o outro externo. Não é o diálogo entre o Eu e o daimon socrático como queria a nossa platônica Arendt, mas no conhecimento do Ser que se transforma devido a negatividade que carrega, um caminhar cheios de tropeços e retornos, transformando e sendo transformado, em busca de uma verdade que não está no início e nem no fim, mas no caminho.
E para os crentes bem intencionados, uma advertência: a dúvida é a defesa contra o mal, a hesitação que paralisa as certezas destrutivas, um santuário que homenageia o Bem.
Como estávamos falando de nomes e apelidos, afinal, quem pode festejar o transcurso do tempo? O nome ou o sobrenome? A pessoa ou a persona? O arquétipo ou o vivente? Sopra as velinhas, os viventes, mesmo sendo um medíocre crente. O Salvacionista, o Pai "disso e daquilo" não tem idade, mas um tempo verticalizado, congelado, sem referência histórica, que desafia o devir dialético.
Ivan Bezerra de Sant Anna
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