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sábado, 29 de novembro de 2014

Mesmo sendo puta...

"Mesmo ela sendo puta", cara? Não entendi! Por que essa triste ressalva? É como Jesus dissesse, "não joguem pedras em Madalena, apesar de ser uma puta". Mas ele não disse isso, ao contrário, disse que essas pedras eram para os próprios apedrejadores. Ao fazer essa ressalva, não sentiu a dor de uma pedra resvalada?

O que as diferenciam das mulheres trabalhadoras, a não ser o desvalor social e o preconceito? Essa talvez seja uma das mais antigas profissões do mundo, mesmo antes da invenção do capitalismo, sistema socioeconômico que transforma todos os atributos humanos em um valor monetário. Não, cara! Elas não podem ser agredidas não por somente serem mulheres, mas por terem atributos especiais, pela coragem em enfrentar os preconceitos diários, por dar seus corpos para o toque suplicante dos solitários, pelo destemor do gozo e das fantasias, e a maioria delas, por pura sobrevivência,

Nunca use a palavra puta como desvalor, pois esse vocábulo sempre foi usado pelos machistas reacionários para cercear a liberdade, impedindo o gozo e as fantasias femininas. E são essas mesma pessoas, que entediadas com a mesmice das suas mulheres acorrentadas, vão ávidos em busca das mulheres livres, ou seja, as putas ou amantes putas. Essa é a grande contradição do machista caçador. O que lhes dá prazer é a liberdade fantasiosa da mulher, no entanto, quando as têm nas mãos, devido ao seu atávico senso de territorialidade e posse, retira as suas liberdades para perder consequentemente o seu tesão, e para resgatar o seu prazer, só lhe resta as intermináveis caçadas de um abutre que sonha ser um condor.  

Certos defensores das mulheres não conseguem disfarçar os seus sentimentos de propriedade em relação ao corpo feminino, mesmo rejeitando o uso da violência como instrumento de manutenção de posse. Estufam os peitos e dizem: "Não se deve fazer uso da violência contra a mulher, mesmo contra aquelas que insistem fazer do seu corpo um território de livre função do prazer". Esquecem esses fariseus vaidosos, que o corpo de uma mulher só a ela pertence, e quando descobre ter asas e nessas asas a brisa sopra, ela voa, faz piruetas, risca e rabisca o firmamento, faz careta de bruxa, e sempre retorna ao coração cúmplice que escolheu para amar.

Dessa maneira, cara, reflita sobre as palavras que expressa, pois elas podem ser mais perigosas, mais ardilosamente eficazes, na manutenção dos preconceitos contra a mulher. Para o machismo religioso e conservador, toda mulher que ousa ser livre é uma puta ou uma bruxa, estando as fogueiras à sua espera, mesmo que representadas por palavras ardentes. Sabe, cara, precisa ser muito homem para perceber que uma puta, uma bruxa, pode ser simplesmente, uns dos milagres de ser mulher.