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quarta-feira, 13 de abril de 2016

O que é golpe?

O que é golpe?



A palavra golpe, na sua acepção genérica, é todo movimento de ataque que tenta atingir o adversário, não havendo exame de valor no tocante a qualidade, se é bom ou ruim, por isso mesmo é que coloca-se um adjetivo para valora-lo, como, por exemplo, "um golpe baixo".

O problema é que a palavra golpe está sendo usada sem nenhuma preocupação conceitual, o que é perfeitamente aceitável a nível de panfleto politico que visa tão somente impulsionar as paixões das torcidas políticas. No entanto, usada por pessoas que se dizem intelectuais, versadas em sociologia política, é, no mínimo, um ato pragmático que depõe contra os preceitos essenciais da ciência. Que relativismo safado! Falta quase pouco para chegar o dia em que as palavras perderão a sua denotatividade e, como macacos, usaremos gestos mímicos para a comunicação. 

Afinal, o que é um golpe político? Uma revolução não é um golpe na estrutura simbólica-normativa de um País? Pelo que percebo, para os intelectuais petistas que sempre foram cultuadores das práticas revolucionárias, golpe é uma revolução efetuada por forças reacionárias. No entanto, se tento afirmar tal heresia, logo aparecerão vozes em uníssono afirmando que a revolução é feita com o povo, liderara por civis, enquanto o golpe seria uma conspiração das elites, quase sempre lideradas por militares.

Como me filio ao argumento que a Democracia sempre está nas ruas e as revoluções sempre serão uma promessa frente à imobilidade do processo de mudanças, é meu dever refletir com mais profundidade sobre as possíveis diferenças entre golpes e revoluções. Rebuscando a história, verifico que a gloriosa revolução francesa, apesar do amplo apoio popular, - apoio participativo ou passivo por indignação -  foi de fundamental importância a participação das forças militares do General Lafayette, bem como de outras unidades militares, na deposição do Rei Luís XVI e posteriormente a destruição do Estado monárquico. 

A Revolução russa de 1917 foi deflagrada pelos comandados de Lenin, apoiados por forças militares dissidentes e por um pequeno agrupamento de operários, já que a imensa população russa era camponesa, alheia aos acontecimentos políticos. Apesar do pouco apoio popular e da necessária ajuda dos militares, louvo a Revolução de Outubro como um dos marcos progressistas da história, e se posteriormente apareceu o terror estalinista, essa constatação não desmerece o processo revolucionário russo, tanto quanto o terror das guilhotinas francesas não ensurdeceram o glorioso canto da Marselheisa. 

A Revolução dos Cravos de Abril foi um movimento militar dos capitães, organizado pelo PCP do camarada Alvaro Cunhal, apoiado por grupos de populares, mas que teve uma importância crucial na democratização de Portugal. Vocês ficam imaginando que se um petista estivesse em Portugal, nessa época, possivelmente diria que o movimento dos militares foi um golpe contra o Presidente civil, o grande jurista Marcelo Caetano, sucessor de outro Presidente civil, colocado e mantido por militares, o Sr. Oliveira Salazar.  É razoável fazer essa suposição, pois se os petistas dizem hoje que o uso de um instrumento constitucional, o impeachment, é um golpe, o que não diriam de um grupo de capitães, uma quartelada, marchando para derrubar um presidente eleito? Afinal, uma eleição protegida pelas baionetas não difere muito de uma eleição de votos comprados  de uma população carente. Tapeação e tacape não são os dois lados da mesma moeda?

Lamento decepciona-los, caros leitores, mas os petistas louvaram a Revolução de Abril, mesmo sendo uma quartelada de militares, como sempre aplaudiram todas as participações dos militares ao longo da nossa história, com exceção do movimento militar de 1964, e como sou um dialético, estou em sintonia com a tese do bom petismo. Se hoje eles chamam o impeachment de golpe - não era quando várias vezes peticionaram contra o Presidente Cardoso -, comparam os amplos movimentos das ruas atuais com as uniformes e preparadas marchas "pela família e propriedade", afirmam ou sugerem que qualquer participação dos militares é reacionária, é porque querem preservar o que conquistaram, e nesse País ninguém abre mão da rapadura.

Essas comparações históricas que os petistas fazem são pragmáticas, com um grande teor de oportunismo e descoladas da verdade histórica. O Sr. Lula não é Getulio Vargas, pois com todos os seus defeitos de ditador cruel, não era um oportunista, arrivista e ladrão. A senhora Presidente Dilma está longe de ser um João Goulart, um homem honesto e justo que pensava em um Brasil grande e não em um País dilapidado, comandado por uma quadrilha de malfeitores. E por pensar em grandes reformas, o Sr. Jango foi expulso por militares reacionários, estimulados pelas elites civis poderosas, em nome de uma guerra fria, estimulada pelo Departamento de Estado dos EUA. Se a senhora Presidente for expulsa da Presidência, não vai ser por tentar grandes reformas e por ser esquerdista, mas, no mínimo, por ter sido irresponsável e deixar que a quadrilha comandada por Lula destruísse as esperanças  da Nação brasileira.

Afinal, qual a diferença entre golpe e revolução? Deixando de lado o pragmatismo petista, a estranha dialética onde um conceito se transforma em outro pelo arbítrio da vontade oportunista, diria que uma revolução é um movimento que transforma a sociedade, no sentido de ampliar os direitos individuais, sociais e coletivos, envolvendo-a com o manto da solidariedade. Pouco importa quem a faz, se militares, civis, ou um grupo de revolucionários, assim como se o processo vai se efetivar por organismo processuais-normativos ou pela as forças das ruas, pois o resultado, o julgamento do tribunal da história  sempre será pós, e como disse Hegel, ao anoitecer, no tempo noturno, onde voa a coruja da sabedoria.

Falando sobre esse problemático assunto com o amigo Zé do Mercado, o meu confidente filosófico, ouvi uma curiosa observação:

"Concordo com os petistas com o 'nunca mais'  ao movimento militar de 1964, no entanto, por que não pensar em um Movimento do tipo Revolução dos Cravos para o estabelecimento de um governo provisório, convocando uma verdadeira Assembleia Constituinte e logo após as eleições gerais? Acho que essa proposta de antecipar as eleições presidenciais sem a devida reforma do Estado é um golpe continuísta das elites corruptas".

Ivan Bezerra de Sant Anna 



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