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quinta-feira, 20 de março de 2014

Partes

Somos partes
De um mundo partido
Paridos em partes
De quem, ninguém sabe
Mistérios que  chegam
Mistérios que partem

Quando eu me vejo
Não me espanto
Que do mundo que me reparte
Você sou eu
Eu sou você
A melhor parte

segunda-feira, 17 de março de 2014

Criança que um dia foste
Menina com cheiro de mar
Mulher de contornos suaves
Ancas lindas abastadas
Seios que fazem sonhar

Quantas mãos lhe tocaram
Modelaram o seu andar
Mãos calosas do trabalho
Mãos de acenos obscenos
Umas de doce venenos
Outras que fazem sonhar

Seus filhos edipianos
Com sina de castração
Você mãe e mulher
Qual a escolha?
Que tentação!

O verde que vestia
Quase nada ou pouco resta
O egoísmo dos seus filhos
Salpicados de cimento
Arrancaram a sua veste

Ah, Ara... Que saudades do doce mel dos seus cajus...

ARACAJU

Terra amada!
No simbólico do poeta,
à semelhança daquele tronco sagrado
da mitologia escandinava,
nas tuas areias quentes
e ao sopro das brisas vinda do mar,
plantei as raízes da minha vida

E como o tronco sagrado
que verticalizou para o infinito,
Procurei elevar ad tranças do pensamento
em busca das luzes distantes
espalhadas no firmamento.

Mas; nuvens escuras acasteladas,
nos siderais caminhos,
toldaram o destino da árvore imensa...
E dos galhos gigantes parecendo tentáculos,
as folhas caídas, - versos de minha alma,
são arrastadas pelos ventos
para mesclar de húmus tuas areias...


João Baptista de Sant Anna
Aracaju do grande poeta José Sampaio, companheiro do PCB, amigo do meu Pai.

"CANTO DA CIDADE AMIGA

Aracaju caminhado nas mãos dos arquitetos.
Nas mãos suadas dos carroceiros,
dos poetas,
dos seus artistas,
sentindo no coração
as pancadas dos pés das mulheres da noite.
Criaturas que levam no silencio dos olhos
o rumor desses gritos que morrem trancados dentro do peito.

Nas casas apagadas na sombra
o amor florescendo
que o amor é um milagre infinito.

Já ouvi os poetas de Aracaju.
Vi as suas ruas largas de luxo.
Queria agora caminhar com os ladrões da noite,
atravessar os subúrbios escuros e sujos
para sentir a grande poesia que está perdida.

Apertar cordialmente as mãos dos maloqueiros,
passar a noite de inverno debaixo da ponte ouvindo as suas historias,
para que eu sentisse o coração de Aracaju batendo no silencio da noite

Acariciar a cabacinha suja de areia
desses pequenos desamparados
que fugiram dos bairros diminuídos.

Ouvir as vozes que estão mortas nos seus rostos cavados,
para que eu pudesse ouvir o coração de Aracaju batendo de noite, no silêncio."