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sábado, 3 de agosto de 2019

A simplória divisão: a doença infantil de Maniqueu

A simplória divisão: a doença infantil de Maniqueu

Segundo Roland Barthes, o racional finca suas raizes na argumentação, e o “argumentar significa que o Ego e Alter defendem seus pontos de vistas na expectativa de um entendimento ultimo, isto é, de um consenso, pois de outro modo não estariam entre si numa relação argumentativa, e sim numa relação estratégia, baseada no poder e na violência", e na esteira de Kant e Habermas, acredito nisso! O racional não é a verdade, mas um valioso instrumento cognitivo-discursivo para alcançá-la.

Entretanto, o racionalismo pode se transformar em uma relação estratégica de Poder, onde a incontinência e a violência verbal são tônicas dominantes. Nesse caso, Maniqueu entra em cena, banhado pelos holofotes da ribalta, e não é ingenuidade afirmar que ele seja brasileiro, pelo menos de adoção, pois em um país em que os argumentos são substituídos por verdades preestabelecidas, os conhecimentos são relativizados pela força da crença ou do oportunismo, as instituições republicanas estão aparelhadas por partidos políticos, a dúvida apaixonante da filosofia desaparece, dando lugar a uma crença monótona dos crentes apaixonados e dos inescrupulosos ladinos.

Tragédia ou comédia? Ambas, creio eu, uma vez que de acordo com uma bela reflexão de Thomas Man, em Dr. Fasto, "a tragédia e a comedia brotam do mesmo tronco, bastando então, que se modifique a iluminação para que uma se transforme  na outra". Assim, nesse palco mambembe, banhado por holofotes polarizados, não há lugar para as reflexões alternativas, pois no mundo do “preto e branco” não existe a escala das tonalidades cinzas, e nessa dicotomia perversa, a única escolha possível é entre Deus e o diabo, ficando claro que estamos com Deus e os discordantes com o diabo.

Nessa dramatização das diferenças, que tem como maior objetivo ocultar as grandes semelhanças, fatos baseados em documentos e depoimentos são escondidos, como, por exemplo, a atual questão que envolve o presidente da OAB, o Sr. Filipe Santa Cruz, filho de Fernando Santa Cruz, que integrava um grupo político da Ação Popular, organização ligada à Igreja Católica.

Qual é a verdade? Infelizmente, só existem versões dela, elocubrações e acusações maldosas. Seria o Sr. Fernando vítima dos algozes militares ou foi justiçado pelos próprios companheiros? Mesmo sendo as declarações do Sr. Presidente cruéis, impiedosas, desrespeitosas para com a família do militante Fernando, os antigos comunistas - me incluo nessa lista -, sabiam que a prática do justiçamento existiu, uma prática que visava a proteção dos companheiros em relação aos informantes do regime, sendo exemplar o caso de Elza Fernandes, codinome de Elvira Cupello Colônio, que foi uma militante política do Partido Comunista Brasileiro, enforcada em 1936, pela suspeita de trair os comunistas. Em nossa cidade, conheço dois casos que me foi relatado por um ex-companheiro que foi executor de dois integrantes do PCB que eram informantes da polícia.

O vídeo que circula na net, a bem da verdade, é verdadeiro, mas não se refere explicitamente ao militante Fernando Santa Cruz, segundo nota divulgada pelo site g1.globo.com, explicitando que o depoimento concedido ao repórter Geneton Moraes Neto pelo Sr. Carlos Eugênio Paz, em nenhum momento “fala sobre Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira“. No entanto, para o melhor esclarecimento da verdade dos fatos, torna-se necessário aprofundar as investigações.

O fato do Presidente da OAB ser petista de carteirinha e usar a instituição para fins partidários, ter envolvimento com contratos milionários com os governos petistas, pelos quais foi beneficiado, não autoriza ao Sr. Presidente acreditar na máxima popular, “filho de peixe, peixinho é”, uma vez que uma acusação dessa monta deve ser provada, e mesmo se isso acontecer, não ficou bem para um homem que é Presidente da República descer a rampa do Palácio do Planalto para bater boca com militantes raivosos que, mesmo não respeitando os resultados das urnas, deveriam usar argumentos substanciais, em vez de acusações adjetivadas pelo ódio ou pela malícia dos interesses escusos.

Sr. Filipe Santa Cruz: quem destruiu a legitimidade da OAB não foi a incontinência raivosa do Sr. Bolsonaro, mas foi você e o seu grupo de petistas que aparelharam a instituição, colocando-a sob a batuta do Lula, visando candidaturas políticas - em nosso Estado, o exemplo do Sr. Henry Clay é elucidativo -, e, como ninguém é de ferro, auferir contratos vultosos com o Governo Federal.

Depois do que escrevi, não aceitando o conselho do Nelson Rodrigues, "Finge-te de idiota, e terás o céu e a terra", agora é esperar porradas de todos os lados dos maniqueus tupiniquins, nessa terra de zumbis desesperados.
 
Ivan Bezerra de Sant’ Anna