A Falange tupiniquim
Dizia Mikhail Bakhtin que “o riso impede que o sério se fixe e se isole da integridade inacabada da existência cotidiana”, e a indiferença com que tratamos certas manifestações trágicas ou épicas, isolando-as do seu contexto pretensamente dramático, as colocam sob os holofotes do risível, desnudando o corpo trôpego de um rei que ansiava desfilar no tapete da epopeia, mas que acaba em uma avenida carnavalesca com uma coroa de Momo. Não é uma boa prova? Quantas ações épicas resistiriam a uma prova desse gênero? Não teria razão Henri Bérgson ao dizer que “não veríamos muitas delas passar de chofre do grave ao jocoso, se as isolássemos da música de sentimento que as acompanha”?
Assim sendo, caro leitor, convido-os a um passeio prazeiroso por um texto povoado por palavras saltitantes, sapecas e irreverentes, uma história de um homem que queria ser rei e sua guarda pretoriana, um homem oriundo do interior das Alagoas onde a jagunçada dos coronéis se confundiam tragicamente com os cangaçeiros do Virgulino, e que até os dias atuais, nunca soube a diferença entre um chapéu de cangaceiro e um barrete republicano.
Entretanto, caro leitor, antes de mais nada uma advertência: essa história pode ser cômica, mas fica a lição de Thomás Man, no seu portentoso livro Dr. Fausto, que "a tragédia e a comedia brotam do mesmo tronco, bastando então, que se modifique a iluminação para que uma se transforme na outra”. Assim como o épico-trágico pode se transformar em comédia, um revólver, uma bala, um corpo ao chão, pode levar a comédia se transformar em tragédia. Portanto, convém não brincar com essas metamorfoses perigosas.
Essa história versa sobre a guarda municipal, que, para algumas pessoas, não passa de um regimento de milicianos fardados a serviço do Prefeito, uma Falange que trafega entre o oficial e o informal. O certo é que são inúmeras denúncias sobre a atuação dessa corporação que ressaltam a sua inutilidade à proteção dos cidadãos, uma vez que esquece a missão legal que deve cumprir, e em vez disso, distribuem arrogância e violência à população, como se todas as pessoas fossem delinquentes. Guardando as devidas proporções, essa guarda municipal me faz lembrar da polícia mirim do saudoso Chefe Walter - aquele memorável chefe do escotismo - que era composta por garotos cheios de frustrações de classes, e por essa razão, lançavam-se como matilhas impiedosas em busca das presas, ou melhor, dos outros garotos desfardados.
Recentemente, durante uma manifestação do Movimento dos Sem Tetos, alguns integrantes do Movimento notaram que uma pessoa cambaleante e com um volume na cintura, denunciando uma arma de fogo, destacava-se de maneira grotesca do demais. Por cautela, dirigiram-se ao indivíduo, indagando porque o mesmo estava filmando e se ele era do Movimento. Para a surpresa de todos, ele sacou o revólver, ameaçando a galera geral, proferindo palavras insultuosas e prometendo matar viados, comunistas e invasores. Se identificou verbalmente como pertencente ao serviço de inteligência da guarda municipal, e ao ser interpelado por dois advogados do Movimento, disse que os advogados eram uns bostas e que atiraria nas cabeças da advogada Isadora Brito e do advogado Toni Dias, e todo esse comportamento assistido por alguns integrantes da Guarda Municipal que apenas assistiam divertidamente.
Não tenho nenhuma dúvida que os serviços de inteligência das forças armadas de outros países deveriam aprender essas novas táticas do nosso serviço de inteligência municipal. Que disfarce! O espião “secreto” da Guarda Municipal estreou um novo disfarce de grande eficiência, que em poucos dias já é conhecido como o “cangaceiro cachaceiro 51”, talvez uma graciosa referência à origem “lampionesca” do Sr. Alcaide e do seu etílico padrinho político. Não resta dúvida que o nosso James Bond merece todos os elogios possível. Que rapaz inteligente. Benza Deus! Entretanto, não sejamos injustos: ele deve muito ao talento do nosso zabumbeiro Edvaldo das Alagoas, um rapaz inexpressivo que devagarinho foi se aconchegando nos seios maternos da Jacutinga, coçou o ego de Marcelo Deda e se tornou Prefeito da Capital. Incrível? Não! Incrível é uma grande parcela da população votar nele, e possivelmente vote em Jackson Barreto, um embusteiro psicótico que fez da mentira a sua arte maior.
Estão achando que essa história é trágica, caros leitores? Então, como fazia Napoleão Bonaparte, quando se via em frente de uma situação dramática, convido-os a sentar, pois como dizia o Corso, o ato de sentar não tem “nada melhor para cortar uma cena trágica; pois, quando sentamos, tudo vira comédia.”
Ivan Bezerra de Sant’ Anna
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