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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Tenho compaixão por você.

Tenho compaixão por você....





Tenho compaixão por você, porque o meu coração arranca vertiginosamente em busca das estrelas, uma constelação chamada Humanidade, e lá, com certeza, és um ponto minúsculo como todos os viventes, mas se ausente, dobrariam os sinos com seus dolorosos sons.

Peço perdão pelas palavras duras, cravejadas de fogo ardente que lanço contra ti. No entanto, tenho que proferi-las, atendendo ao ímpeto de minha alma e ao ressoar da minha consciência perpassada pela história. Não sou um santo, os pecados são imensos, e por vezes, as tentações me assaltam em um turbilhão de desejos inconfessos, e nesse momento, resta-me a vontade e a Graça. Não aquela que falava São Paulo, mas a Graça da coerência, um sentimento de integridade, um êxtase de felicidade por festejar diariamente o milagre da vida com dignidade.

Pensando com vagar, acho que você padece de algo que todos nós somos acometidos: a ânsia pelo Poder. Essa é a nossa maior contradição existencial! Nascemos sob a égide da incompletude e por consequência lógica, deveríamos fazer uma flexão em busca do outro, para suprirmos essa carência essencial. Ao contrario, voamos furiosamente para as paredes do céu, como fazem as águias solitárias em busca do destaque e do Poder. No entanto, temos a vida para refletirmos sobre o egocentrismo e a possessividade, transformando essa contradição em um elemento impulsor do desenvolvimento humano.

Imagino quantas frustrações você acumulou na sua adolescência, sendo suplantado por colegas mais fortes, ágeis e inteligentes. Mas você soube domar seu ego, seus desejos de Poder, esperando os momentos certos para galgar os íngremes e perigosos degraus do sucesso pessoal. Os outros podiam ser mais bonitos, fortes, cultos, mas você aprendeu o domínio da lógica estratégica, da dialética da guerra, o que se denomina na atualidade de inteligência emocional.

Quantas humilhações teve que suportar sob o comando do velho usineiro Augusto Franco. Afinal, os humores de um oligarca rural são oscilantes e por vezes, prepotentes e violentos. Entretanto, você soube se calar, engolir seco, até sorrir, um sorriso amarelo, vermelho, preto, incolor, pouco importava, desde que eles ocultassem os seus sonhos secretos. Foi nessa época que percebeu a existência de um pequeno animal que mudava de cores dependendo do ambiente e, dessa forma, conseguia confundir os seus predadores. Era ele! Os outros que se mostrassem como leões, tigres ou águias. Sim, um pequeno lagarto de cores mudancistas, supostamente inofensivo, era o disfarce ideal para a sua sobrevivência em uma floresta misteriosa. Que os seus adversários percebessem seu tamanho diminuto e sua vontade oscilante, pois isso lhes deixariam entretidos, acomodados, distraídos ao ponto de não perceberem uma questão de perspectiva e angulação: um lagarto pode virar Dragão!

O único sentimento que nutro por você é a pena. Com todas as suas limitações, você poderia se considerar um vencedor, mas seu ego fragmentado queria muito mais. Almejava objetivos que estavam além das suas forças e competência, o que sempre lhe causou muitas frustrações, ressentimentos e rancor, sentimentos que suas cores mutantes eram insuficientes para disfarçar. Você deveria saber que mesmo sendo um sujeito ardiloso, com muita inteligência emocional, jamais seria carismático ou um esbanjador de charme. Você sempre foi opaco, sem graça e nunca perdeu o semblante de guarda noturno, apesar de todo seu esforço para tentar sorrir com franqueza, mas suas mandíbulas contidas, sua face contraída revelavam os anseios mais íntimos e secretos da sua alma.

E no fundo de sua alma estão o seu medo, seu sentimento de inferioridade e sua extrema vaidade. Talvez isso explique porque quando chegou sua vez de ser Dragão, o Poder se liqüefez, esvaindo-se entre seus dedos impotentes. Quanto mais tentava afirmar sua força com atos tirânicos, sua foto cômica e caricata ganhava maior nitidez. Você não percebeu que querer ser é sublime, mas julgar-se ser pode cortejar o ridículo. No fundo, apesar das suas bravatas autoritárias, você nunca deixou de ser um garotinho assustado do Povoado Pau do Leite, e por essa razão, jamais galgaria a posição de Senhor, mas, no máximo, a de um plantonista das Trevas.

Não coloco em julgamento o profundo amor que nutre por seu filho, mas também sou tomado pela duvida de que construiu essa candidatura mais para você do que para ele. O garoto é um bom moço, disso não tenho dúvidas, pois basta olhar para a sua face límpida e honestamente alegre, ao contrario da sua, contraída e hesitante. Por esse motivo, não tem bom caimento as palavras preconceituosas deferidas contra aqueles que alcançaram a terceira idade, pois elas não somente ferem o seu adversário político, mas ao senhor que trafega na faixa sexagenária. Sei que o garoto não acredita no que disse, apenas como um bom filho obediente, aceitou recitar essas e outras palavras distorcidas pelo grotesco preconceito.

Rogo-lhe, Senador: não queira fazer com seu menino o que fez com algumas pessoas crédulas que acreditavam no senhor, como foi o caso do saudoso Lauro Maia. Deixe que o menino dê os seus passos em busca dos seus próprios objetivos e não queira que os seus sejam os dele. E quem sabe, se isso acontecer, não se surpreenda com a sua conquista de territórios que o senhor só alcançou nos sonhos. Portanto, Senador, pouco importa onde seu menino chegue, o importante é que ele caminhe com dignidade e altivez. Quanto ao senhor, afaste esse secreto sentimento de inferioridade, retire o rancor do coração e perceba que foi como poucos, um mestre no manejo da lógica de guerra, um estrategista de primeira linha, e nesse mercado político eivado pela corrupção e pelas cartas marcadas, um vencedor.

Ivan Bezerra de Sant Anna



Publicado no site http://www.facebook.com/ibezerra52; http://ibezerra.xpg.com.br e no Blog http://terradonunca-ibezerra.blogspot.com/






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terça-feira, 2 de outubro de 2012

A dialética do bem e do mal

A dialética do bem e do mal





A resultante operativa da dialética pode em alguns momentos parecer cruel. No entanto, ela não é boa ou má, justa ou injusta, falsa ou verdadeira, pois resulta das ações humanas que acertam ou erram. A dialética não é caprichosa; o capricho existe em não percebê-la como uma mulher, o processo essencial da vida, e não como posse usada e manipulada.

Existe um argumento, uma forma de reflexão que se denomina de raciocínio por dicotomia. Longe de ser dialética, essa forma de reflexão caracteriza-se pela existência de dois pólos opostos, rígidos e irredutíveis. É um raciocino tipicamente religioso, pois em um polo se colocam os que acreditam em uma certa crença e, portanto, são os bons. No outro polo se colocam aqueles que discordam da crença, e nesse caso, são os maus.

Desse raciocínio - o preferido pelos religiosos fundamentalistas e déspotas - facilmente decorre sentenças como, "aos santos, o paraíso; aos pecadores, o inferno" ou "aos amigos, tudo; aos inimigos, porrada". Não dá para ver claramente os inimigos? Ora, fabricam-se!

Os militantes do PCdoB usam com maestria esse argumento, colocando do lado bom as pessoas que circunstancialmente querem, e no outro lado, os inimigos construídos. Eles chamam isso de dialética! Pode ser, mas seguramente não é a de Hegel e Marx. Por exemplo: Collor de Melo já foi santo para eles em determinada época e diabo em outra. Valadares era diabo enquanto estava com os militares, virou santo quando "rompeu" com os amigos fardados, voltou a ser diabo quando decretou a intervenção municipal e agora é santo outra vez.

Acho que a dialética que pratica o Sr. Valadares é a do eterno retorno, ou em palavras mais simples, a dialética do camaleão. E a dialética dos "comunistas" do PCdoB?

Bom, eles falam em retornos dialéticos, uma espécie leninista "de um passo atrás para dar dois a frente", caracterizado por alianças com grupos políticos que estão em conflitos transitivos para melhor avançar. O raciocínio que é muito mais estratégico e pragmático que dialético, tem a seguinte linha de desenvolvimento: a vanguarda da classe revolucionaria promove alianças com grupos políticos em crise existencial com a finalidade de vencer os verdadeiros inimigos de classe. Levando-se em conta que essa vanguarda é verdadeiramente revolucionária (existem dúvidas sobre isso), será que o grupos aliados estão em crise quanto aos horizontes políticos ou fingem estar para alcançarem o Poder? Quem usa quem? Possivelmente quem tiver maior força política e poder de barganhar no mercado político. E os verdadeiros inimigos serão tão verdadeiros assim, ou foram construídos para demarcar o conflito de guerra entre o bem e o mal?

Vamos examinar alguns exemplos concretos dessa estranha dialética. O PT comandado por Lula visando transformar o Brasil em um Paraíso dos trabalhadores, aliou-se com Sarney, Jader Barbalho, Collor de Melo e outros, objetivando destruir o verdadeiro inimigo dos trabalhadores, o PSDB de Fernando Henrique Cardoso. O problema deu-se em determinar a densidade de cada termo, pois a avaliação a ser efetuada era se Lula e seu grupo (e não a totalidade do PT) estavam com reais intenções transformadoras; se o grupo de aliados estava em crise política existencial (Sarney em crise?); e se FHC era o verdadeiro inimigo dos trabalhadores. Afinal, quem usou quem, nessa aliança? Bem, com a existência do mensalão, dos altos níveis de corrupção governamental, o enriquecimento de Lula e seu filho, os desvios de verbas da educação, a intensa terceirização da maquina pública, pode-se afirmar que essa estranha dialética foi profundamente negativa para os bons propósitos do PT.

E essa dialética da dicotomia como funcionou em relação ao segundo termo, o "aliado" Antônio Carlos Valadares? Percebendo que o barco militar fazia água, o ex-auxiliar da Família Franco aliou-se com Jackson Barreto, o PCdoB, e João Alves contra os seus antigos amigos militares, oferecendo-se para ser candidato a Governador contra uma aliança do PMDB e a família Franco. Quando assumiu como Governador, o novo progressista voltou a aliar-se com a família Franco, cassou o mandado de Jackson Barreto e, de quebra, distribuiu bordoadas na oposição que lhe tachou de ditador e corrupto. Mas essa "recaída dialética" ou a decaída do novo anjo, logo foi perdoada por suas vitimas, que não tardaram em vê-lo com um bom aliado contra o terrível polo do mal, ocupado desta vez por João Alves Filho. Essa dialética funcionou bem para o anjo renovado, pois ganhou um mandado parlamentar e seu aliado Jackson perdeu a eleição para o Negão da maldade que deixou de ser tão mau em 2000, quando Valadares foi candidato a Prefeito de Aracaju. Depois de algumas penitências, o Sr. Valadares voltou a ser o aliado confiável contra o polo da maldade, construído outra vez para o Sr. João Alves.

Em que essa aplicação da dialética dos opostos irredutíveis, tendo como aliado o Sr. Valadares ajudou ao PT e ao PCdoB alcançarem êxito nas eleições municipais? Nunca, pois em 2000, ano em que a dobradinha ganhou, o Sr. Valadares estava em outro lado. Essa estranha dialética construída pelo equivocado oportunismo do PCdoB só foi benéfica ao Sr. Valadares, que espera mais uma vez voltar ao Poder através do seu obediente filho. Enquanto seus aliados de "esquerda" pensam com a lógica da dicotomia, uma espécie de dialética pragmática, o Sr. Valadares usa uma fria lógica estratégica de guerra. Quem levou vantagens? Bem, seus "aliados" vão e vêem, enquanto o Senador segue vitorioso em seus propósitos.

Por duas vezes o PCdoB renegou o Sr. Valadares, acusando-o de tirano e corrupto, para depois perdoa-lo com direito ao título pomposo de socialista. Isso foi decorrência da razão dialética ou fruto da lógica do oportunismo?

Por que essa "esquerda" erra tanto? O núcleo duro do grupo Lulista que escondia o seu real objetivo, usou a mesma lógica do Senador e conseguiu o seu intento. Entretanto, a maioria dos militantes erram por confundir a dialética com uma crença ingênua do culto à personalidade e seus intelectuais erraram por vaidade e ambição. É bastante conhecida uma máxima do senso comum que por melhor que seja um vigarista, ele jamais conseguirá enganar ou hipnotizar alguém; apenas atiça as ambições das pessoas, o que é o bastante para elas passarem de caçadoras a pato.

A dialética não corre em um fluxo linear. Quando as contradições são mal avaliadas e as ações são equivocadas, os resultados podem provocar um retrocesso e voltarmos às situações pré-constituídas. Nesse caso, abre-se a possibilidade de uma nova reflexão avaliativa das contradições, possibilitando, dessa forma, um novo caminhar na linha temporal. O retrocesso pode ser provocado pelos equívocos dos chamados agentes de transformação que confundem política popular com o populismo protofascista, ou pelos adversários conservadores que conseguem legitimidade em um processo de luta por espaços políticos.

No Brasil, o processo de sedimentação da Democracia foi mal avaliado pelas esquerdas que, em alguns momentos, apressadamente, optaram por caminhos mais fácies e muita vezes pragmáticos. Tivemos muitas escolhas, mas optamos pelas piores. Jamais deveríamos ter aceito uma eleição indireta para Presidente e muito menos, uma aliança com forcas políticas da oligarquia, comandada pelo Sr. José Sarney. Foi um erro concordarmos com um congresso constituinte, quando o correto seria uma Assembleia Constituinte. Se estávamos pensando que a dialética corria o seu fluxo inexorável e as forças da oligarquia estavam perdendo o vigor, erramos redondamente. Foram eles que nos usaram para legitimar uma democracia de aparências, fraudulenta e seduziram os nossos companheiros com valores ordenadores do mercado político, em contínua reprodução ideológica.

Usamos pragmaticamente o raciocínio por dicotomias opostas com enquadramentos analíticos facilitados e simplórios e esquecemos da lógica dialética. Dessa forma, Sarney, Valadares seriam aliados circunstanciais que nos ajudariam em nossa caminhada. Ao contrario, esses camaleões usaram-nos, utilizando de uma consequente lógica estratégica de guerra, baseada em valores do mercado político vigente. Nessa arena, a derrota foi inevitável ou a capitulação diante de um sistema corrupto e injusto, como fez Lula e seus seguidores.

Que fazer? Restam duas alternativas: começar uma luta por uma Democracia Revolucionária que rompa com essa farsa democrática, baseada em mudanças constitucionais por plebiscito, ou em caso de retrocesso (o que é muito possível), um retorno à radicalidade pré-construtiva, reagrupando forças e refletindo novas idéias e trajetórias.

Em um processo de mudança verdadeiro, perdem os antigos detentores do Poder e ganham os revolucionários. Quando existe um acórdão, uma conciliação das elites, o povo é quem perde, pois "mudar para que nada mude" é a bandeira dessa falsa renovação.

Ivan Bezerra de Sant Anna


Publicado no site http://www.facebook.com/ibezerra52; http://ibezerra.xpg.com.br e no Blog http://terradonunca-ibezerra.blogspot.com/



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