Pesquisar este blog

terça-feira, 2 de outubro de 2012

A dialética do bem e do mal

A dialética do bem e do mal





A resultante operativa da dialética pode em alguns momentos parecer cruel. No entanto, ela não é boa ou má, justa ou injusta, falsa ou verdadeira, pois resulta das ações humanas que acertam ou erram. A dialética não é caprichosa; o capricho existe em não percebê-la como uma mulher, o processo essencial da vida, e não como posse usada e manipulada.

Existe um argumento, uma forma de reflexão que se denomina de raciocínio por dicotomia. Longe de ser dialética, essa forma de reflexão caracteriza-se pela existência de dois pólos opostos, rígidos e irredutíveis. É um raciocino tipicamente religioso, pois em um polo se colocam os que acreditam em uma certa crença e, portanto, são os bons. No outro polo se colocam aqueles que discordam da crença, e nesse caso, são os maus.

Desse raciocínio - o preferido pelos religiosos fundamentalistas e déspotas - facilmente decorre sentenças como, "aos santos, o paraíso; aos pecadores, o inferno" ou "aos amigos, tudo; aos inimigos, porrada". Não dá para ver claramente os inimigos? Ora, fabricam-se!

Os militantes do PCdoB usam com maestria esse argumento, colocando do lado bom as pessoas que circunstancialmente querem, e no outro lado, os inimigos construídos. Eles chamam isso de dialética! Pode ser, mas seguramente não é a de Hegel e Marx. Por exemplo: Collor de Melo já foi santo para eles em determinada época e diabo em outra. Valadares era diabo enquanto estava com os militares, virou santo quando "rompeu" com os amigos fardados, voltou a ser diabo quando decretou a intervenção municipal e agora é santo outra vez.

Acho que a dialética que pratica o Sr. Valadares é a do eterno retorno, ou em palavras mais simples, a dialética do camaleão. E a dialética dos "comunistas" do PCdoB?

Bom, eles falam em retornos dialéticos, uma espécie leninista "de um passo atrás para dar dois a frente", caracterizado por alianças com grupos políticos que estão em conflitos transitivos para melhor avançar. O raciocínio que é muito mais estratégico e pragmático que dialético, tem a seguinte linha de desenvolvimento: a vanguarda da classe revolucionaria promove alianças com grupos políticos em crise existencial com a finalidade de vencer os verdadeiros inimigos de classe. Levando-se em conta que essa vanguarda é verdadeiramente revolucionária (existem dúvidas sobre isso), será que o grupos aliados estão em crise quanto aos horizontes políticos ou fingem estar para alcançarem o Poder? Quem usa quem? Possivelmente quem tiver maior força política e poder de barganhar no mercado político. E os verdadeiros inimigos serão tão verdadeiros assim, ou foram construídos para demarcar o conflito de guerra entre o bem e o mal?

Vamos examinar alguns exemplos concretos dessa estranha dialética. O PT comandado por Lula visando transformar o Brasil em um Paraíso dos trabalhadores, aliou-se com Sarney, Jader Barbalho, Collor de Melo e outros, objetivando destruir o verdadeiro inimigo dos trabalhadores, o PSDB de Fernando Henrique Cardoso. O problema deu-se em determinar a densidade de cada termo, pois a avaliação a ser efetuada era se Lula e seu grupo (e não a totalidade do PT) estavam com reais intenções transformadoras; se o grupo de aliados estava em crise política existencial (Sarney em crise?); e se FHC era o verdadeiro inimigo dos trabalhadores. Afinal, quem usou quem, nessa aliança? Bem, com a existência do mensalão, dos altos níveis de corrupção governamental, o enriquecimento de Lula e seu filho, os desvios de verbas da educação, a intensa terceirização da maquina pública, pode-se afirmar que essa estranha dialética foi profundamente negativa para os bons propósitos do PT.

E essa dialética da dicotomia como funcionou em relação ao segundo termo, o "aliado" Antônio Carlos Valadares? Percebendo que o barco militar fazia água, o ex-auxiliar da Família Franco aliou-se com Jackson Barreto, o PCdoB, e João Alves contra os seus antigos amigos militares, oferecendo-se para ser candidato a Governador contra uma aliança do PMDB e a família Franco. Quando assumiu como Governador, o novo progressista voltou a aliar-se com a família Franco, cassou o mandado de Jackson Barreto e, de quebra, distribuiu bordoadas na oposição que lhe tachou de ditador e corrupto. Mas essa "recaída dialética" ou a decaída do novo anjo, logo foi perdoada por suas vitimas, que não tardaram em vê-lo com um bom aliado contra o terrível polo do mal, ocupado desta vez por João Alves Filho. Essa dialética funcionou bem para o anjo renovado, pois ganhou um mandado parlamentar e seu aliado Jackson perdeu a eleição para o Negão da maldade que deixou de ser tão mau em 2000, quando Valadares foi candidato a Prefeito de Aracaju. Depois de algumas penitências, o Sr. Valadares voltou a ser o aliado confiável contra o polo da maldade, construído outra vez para o Sr. João Alves.

Em que essa aplicação da dialética dos opostos irredutíveis, tendo como aliado o Sr. Valadares ajudou ao PT e ao PCdoB alcançarem êxito nas eleições municipais? Nunca, pois em 2000, ano em que a dobradinha ganhou, o Sr. Valadares estava em outro lado. Essa estranha dialética construída pelo equivocado oportunismo do PCdoB só foi benéfica ao Sr. Valadares, que espera mais uma vez voltar ao Poder através do seu obediente filho. Enquanto seus aliados de "esquerda" pensam com a lógica da dicotomia, uma espécie de dialética pragmática, o Sr. Valadares usa uma fria lógica estratégica de guerra. Quem levou vantagens? Bem, seus "aliados" vão e vêem, enquanto o Senador segue vitorioso em seus propósitos.

Por duas vezes o PCdoB renegou o Sr. Valadares, acusando-o de tirano e corrupto, para depois perdoa-lo com direito ao título pomposo de socialista. Isso foi decorrência da razão dialética ou fruto da lógica do oportunismo?

Por que essa "esquerda" erra tanto? O núcleo duro do grupo Lulista que escondia o seu real objetivo, usou a mesma lógica do Senador e conseguiu o seu intento. Entretanto, a maioria dos militantes erram por confundir a dialética com uma crença ingênua do culto à personalidade e seus intelectuais erraram por vaidade e ambição. É bastante conhecida uma máxima do senso comum que por melhor que seja um vigarista, ele jamais conseguirá enganar ou hipnotizar alguém; apenas atiça as ambições das pessoas, o que é o bastante para elas passarem de caçadoras a pato.

A dialética não corre em um fluxo linear. Quando as contradições são mal avaliadas e as ações são equivocadas, os resultados podem provocar um retrocesso e voltarmos às situações pré-constituídas. Nesse caso, abre-se a possibilidade de uma nova reflexão avaliativa das contradições, possibilitando, dessa forma, um novo caminhar na linha temporal. O retrocesso pode ser provocado pelos equívocos dos chamados agentes de transformação que confundem política popular com o populismo protofascista, ou pelos adversários conservadores que conseguem legitimidade em um processo de luta por espaços políticos.

No Brasil, o processo de sedimentação da Democracia foi mal avaliado pelas esquerdas que, em alguns momentos, apressadamente, optaram por caminhos mais fácies e muita vezes pragmáticos. Tivemos muitas escolhas, mas optamos pelas piores. Jamais deveríamos ter aceito uma eleição indireta para Presidente e muito menos, uma aliança com forcas políticas da oligarquia, comandada pelo Sr. José Sarney. Foi um erro concordarmos com um congresso constituinte, quando o correto seria uma Assembleia Constituinte. Se estávamos pensando que a dialética corria o seu fluxo inexorável e as forças da oligarquia estavam perdendo o vigor, erramos redondamente. Foram eles que nos usaram para legitimar uma democracia de aparências, fraudulenta e seduziram os nossos companheiros com valores ordenadores do mercado político, em contínua reprodução ideológica.

Usamos pragmaticamente o raciocínio por dicotomias opostas com enquadramentos analíticos facilitados e simplórios e esquecemos da lógica dialética. Dessa forma, Sarney, Valadares seriam aliados circunstanciais que nos ajudariam em nossa caminhada. Ao contrario, esses camaleões usaram-nos, utilizando de uma consequente lógica estratégica de guerra, baseada em valores do mercado político vigente. Nessa arena, a derrota foi inevitável ou a capitulação diante de um sistema corrupto e injusto, como fez Lula e seus seguidores.

Que fazer? Restam duas alternativas: começar uma luta por uma Democracia Revolucionária que rompa com essa farsa democrática, baseada em mudanças constitucionais por plebiscito, ou em caso de retrocesso (o que é muito possível), um retorno à radicalidade pré-construtiva, reagrupando forças e refletindo novas idéias e trajetórias.

Em um processo de mudança verdadeiro, perdem os antigos detentores do Poder e ganham os revolucionários. Quando existe um acórdão, uma conciliação das elites, o povo é quem perde, pois "mudar para que nada mude" é a bandeira dessa falsa renovação.

Ivan Bezerra de Sant Anna


Publicado no site http://www.facebook.com/ibezerra52; http://ibezerra.xpg.com.br e no Blog http://terradonunca-ibezerra.blogspot.com/



- Posted using BlogPress from my iPad

Nenhum comentário:

Postar um comentário