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sábado, 6 de outubro de 2018

Ceia de outubro

Ceia de outubro

Não consuma o óbvio. Quase sempre aqueles que surgem nas pesquisas como os preferidos são os mais indigestos. Os bons pratos alimentares só serão conhecidos se você der uma chance a eles. Os cozinheiros só farão boas receitas se souberem que se o consumidor não tiver satisfeito vai sempre trocar de receita e produtos. Nada melhor do que uma refeição deliciosa no mês de outubro, período que intermedia a mudança entre a primavera e o verão. Bom!!! É muito bom!!!

INGREDIENTES E RECOMENDAÇÕES

1- Vários sacos de lixo para o descarte de produtos estragados ou sem validade;

2- Use sempre alimentos novos, orgânicos, sem agrotóxicos, evitando principalmente os da marca Corruptus, pois eles corrompem o paladar e arruinam  a sua saúde;

3- Nunca use produtos que possuem glúten Patrão, como, por exemplo, os das marcas Banqueiro, Empresário, Terceirizados (geralmente ostentam o prefixo Multi), e jamais use o glúten Empreiteiro por suas características comprovadamente cancerígenas. Lembrem-se: os glútens tipo Patrão são fortemente egoístas!

4- Nunca confie nos discursos, pois alguns produtos são muito dissimuláveis, enganado com promessas e cores variadas. Procure produtos pelo histórico de uso, ao longo do tempo, se já for conhecido. Se for um produto novo - dê preferências a ele -, faça uma cuidadosa análise da sua origem, de quem os fabrica, e, principalmente, do seu uso em outras finalidades.

5- Nunca use produtos que declarava uma utilidade, mas, sabidamente queria outra, como é o caso dos produtos aromáticos, algumas vezes usados como incensos religiosos.

6- Para dar gosto a peça, não use temperos abundantes e desconfie sempre daqueles de multiuso.

7- Se não tiver problemas de artérias flácidas, use com parcimônia a pimenta, ingrediente delicioso e picante que melhora a sua circulação, irrigando de sangue e renovando o seu cérebro.

8- Use um termômetro para medir a temperatura da peça, de acordo com a sua preferência de cozimento, lembrando que algumas peças devem ser muito cozidas para eliminar bactérias e germes, como, por exemplo, a Tênia Solitária Egoísta. Se as referidas peças, no fim do cozimento, apresentar consistência pastosa, descarte-as!

9- Nunca use peças de cheiros extremados, arrogantes, violentos, que não respeite os cheiros de outras peças genéricas, assim como não se deve usar peças indolores, de personalidades mutáveis, pois como dizia o famoso cozinheiro russo, Vladimir Ilyich Ulyanov, “os opostos se atraem”, e acabam se unindo em uma farofada indigesta.

10- Lembre-se, pois isso é de maior importância: a peça executiva, conhecida aqui em nosso País como a peça principal, deve ser sempre acompanhada por ingredientes de cheiros e gostos semelhantes - os denominados ingredientes parlamentares -, ao contrário, vai haver corrupção recíprocas de sabores, tipo “mensalis corruptus” ou “parlamentus extorsĭo”.

11- Por fim, dê preferência aos alimentos nacionais, evitando os transgênicos, alimentos produzidos por pessoas que compraram as empresas brasileiras e estatais das mãos dos nossos neoliberais,  os bem-amados queridinhos de Trump.

COMO FAZER

1- Ao acordar, no dia 7 de outubro, faça uma sessão de  Ashtanga Yoga - por favor, não confunda com “minha tanga” - para concentrar a mente e corpo. Sugiro lições prévias com algum professor, no entanto, a minha indicação, um tanto paternalista,  é a renovada professora Lara Freire.

2- Em uma panela grande, coloque a peça principal com os ingredientes, acrescente um pouco de vinho ou cerveja, e deixe cozinhar por 16 minutos. Isso é importante! O tempo de 16 é importante para a integridade do sabor e para dar começo ao processo de maturação e urneamemto. Assim, 16 é o tempo certo.

3- Apague o fogo e deixe maturando até o momento de “urnear” o alimento, lembrando que até esse momento, você pode mudar, acrescentando algo ao prato.

Bom apetite!

OBS: Não querendo sugerir nada, mas ao mesmo tempo acossado pelo vírus da sugestão, vou sugerir  a receita “moqueca operária à brasileira” da nutricionista Vera Lúcia, muito pouco conhecida pelos consumidores brasileiros, devido ao fato do pavor que eles têm pelas mudanças, preferindo consumir o “óbvio e ululante”, e, no máximo, um filé de leopardo ao molho de pau-de-arara. Entretanto, para os estômagos mais sensíveis, a sugestão seria a boa receita do Chef Alvaro Dias, um moderado escabeche de peixes oceânicos, lavados com limões “Lava à Jato”.  Porém, uma advertência aos que desejam ousar: ambas não são comidas recomendadas para estômagos neoliberais - sejam de direita ou da esquerda “direita volver” - devido à encorpada condimentação nacionalista, principalmente para aqueles que preferem Miami a Copacabana.

Ivan Bezerra de Sant’ Anna


Quem tem medo do lobo mau?

Quem tem medo do lobo mau?



Quem tem medo do lobo mau?

Vamos imaginar Chapeuzinho Vermelho saindo da casa da vovó, cantarolando: “quem tem medo do lobo mau, lobo mau, lobo mau. Quem tem medo do lobo mau...”

Ao se deparar com suas amigas, uma delas exclamou: “Chapéu, por que essa alegria toda? Na história, sua vovó era comida pelo lobo mau e um caçador aparecia para lhe salvar”. 

- Tô sabendo, miga, mas tamos no Brasil, e aqui o lobo é velho, desdentado, meio palhaço e sem garras. Quando entrei na casa da vovó, ela estava dando gargalhadas das idiotices do Lobo que insistia em afirmar que iria cortar o décimo terceiro salário  dela. Foi engraçado, miga.

- E o caçador, Chapéu? Ele não apareceu? Que estranho essa história, afinal, Lobo é Lobo!

- Apareceu, mas vovó botou ele para correr com a vassoura na mão. Ele estava se aproveitando das idiotices que o lobo vive dizendo para levar vantagem, destruindo todos os bichinhos do mato, e com a maior cara de pau, matou as galinhas da vovó dizendo pensar que eram Perdizes. Que cara safado! Sem falar, miga, que ele bebe muito, e o filhinho dele, o cacadorzinho,  não fica atrás, pois de um dia para uma noite se apossou das terras da floresta e transformou em pasto.

Peço mil desculpas antecipadas, caros leitores, por essa nova versão interpretativa dessa imemorial história. Mas, como alguns sabem, sou um operador do Direito no Brasil, e aqui na terrinha, o território das novas bossas, um texto não é o que ele diz, mas o que desejamos dizer, segundo a teoria da materialidade estendida de nossos doutos e ilustres juristas. Que maravilha, né? Assim, podemos ter em breves espaços de tempo, inúmeras versões da história da Chapeuzinho, cada uma para variados gostos.

 Confesso, antecipadamente, que não resisti à tentação de associar a história da Chapeuzinho com fatos atuais da política brasileira, que, convenhamos, é uma maçaroca contraditórias de desejos escusos, apesar de correr o risco de ser chamado de reacionário, não somente pelos “crentes”, adoradores de um novo Deus, mas, sobretudo, por aqueles que fazem das suas histórias das torturas, um trampolim para a ribalta ou para empregos públicos bem remunerados.

 A tortura é extremamente nefasta, e aqueles que ousam defendê-la é, no mínimo, digno do nosso sincero repúdio. Mas o engraçado são as incongruências dos nossos “indignados” lulistas que chegam ao extremo de colocar os idiotas defensores dessa nefasta prática, os atuais lobos desdentados, no patamar do mal puro, esquecendo-se que o seu líder maior não só se aliou com torturadores, como teve o desplante, a cara de pau, o cinismo, de ter como seu vice um dos maiores financiadores das torturas praticadas por Sérgio Paranhos Fleury - ele adorava assistir sessões de torturas -, o Sr. José de Alencar. Aí me pergunto: onde estava a indignação dos lulistas? Onde estavam as mulheres seminuas, penduradas em pau-de-arara, meladas de mercúrio cromo, dramatizando nas praças o passado “elenão”?

 Possivelmente, a indignação  estava adormecida à  espera do beijo Salvador de um príncipe que, “ao levar a mão a Hera/ viu que ele mesmo era/ a princesa que dormia”. Desculpem, caros leitores, do uso e abuso da poética do grande lusitano Pessoa, mas, convenhamos, tudo isso é uma piada grotesca e de má fé, uma comédia em que eles insistem no terrível perigo fascista do lobo velho e senil, uma construção maliciosa que prepara o caminho do arguto caçador em sua cruzada de colonização de mentes e território. 

 Como pode o Lobão alquebrado decretar o fim do 13º salário, fazer normas de restrições às mulheres e aos homossexuais, se essas atribuições são privativas do Congresso? A não ser que ele feche o Congresso e afaste os ministros petistas do STF, no entanto, vamos falar sério, o Lobão não tem lá esse prestígio todo no mundo político brasileiro, inclusive nas Forças Armadas, e se ele tem um vice general, Lula colocou seu amigo e aliado, o general Fernando Azevedo, ex-chefe do Estado Maior do Exército, militar muito prestigiado nas forças armadas como conselheiro do STF,  acariciado pelas palavras supremas de Dias Toffili de que não houve um golpe militar em 1964.  Assim, quem tem mais possibilidade de se tornar tirano, o Lobão alucinado ou o manhoso “nove dedos”?

 Confesso, caros leitores, que o caçador  me assusta muito mais do que o Lobão senil, pois se alguém pode amordaçar o Congresso, aparelhar as instituições republicanas, esse alguém  é uma pessoa que já utilizou essas práticas e jamais o velho falastrão Lobão.

O amanhecer tem o condão de fazer a tristeza sorrir, portanto não se assustem se o velho lobo for eleito, pois isso será um golpe fatal no populismo mentiroso e enganador sob a liderança  nacional de um psicótico acossado pelo alcoolismo, e que em nosso Sergipe é simbolizado pelo de(mente) JaMente Jacutinga. E assim, depurados do lulismo renegado, podemos voltar às ruas, organizar novamente os trabalhadores, sabendo que possivelmente o velho lobo não cumprirá sua promessa de faxinar a corrupção, uma vez que precisa do Congresso para governar, e como todos sabemos, ele estará cheio de corruptos. Será o último gralhar dos corvos, pois a partir do governo do lobo velho, o discurso perderá a validade, tanto para os falsos esquerdistas, como também para a Direita. Será nesse caos do “menos  que nada” que surgirá a práxis da esperança. Esse é o nosso dever!

Ivan Bezerra de Sant’ Anna


Publicado no site http://www.facebook.com/ibezerra52; http://ibezerra.xpg.com.br e no Blog http://terradonunca-ibezerra.blogspot.com/

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

O machismo essencial

O machismo essencial

Muitas mulheres estão indignadas com a candidatura de uma certa pessoa, por motivo de sua clara opção machista. Aplausos para elas, mesmo que uma boa parte dessas mulheres convivam com homens machistas, oportunistas e cafajestes, uma pequena contradição que não retira o rubor indignado das suas faces, realçado com um cosmético “vermelho açaí”. Afinal “O meu homem é machista possessivo, mas gosto dele e seu ciúme é uma prova de amor”, pensam elas, ao mesmo tempo que gritam a todos os pulmões, “elenão! Mil vezes não!” Esse grito pode fazer coçar as orelhas dos seus maridos, amantes, companheiros? Claro que não, pois o machista é o marido da vizinha, o namorada da amiga, mas nunca, nunquinha, os respectivos consortes das feministas ”elenão”.

Carnaval fora de hora? Não, caro leitor, esse é o País do Carnaval, faça chuva ou faça sol, e aqui não vige “isso é isso”, mas, aos sons dos tamborins e dos surdos marciais, a sentença do Rei Momo: “isso é isso e ao mesmo tempo é aquilo”. Portanto, que não cause espanto a vocês quando o nosso Jacutinga JaMente vomitar o jorro do “disse, não disse”, pois ele é uma mente que des(mente) a mentira que seu dente sente.

Entretanto, caros leitores, como conhecer um machista essencial, aquele que apesar do não dito, o dito por não dito, simboliza o arquétipo do machismo? Tenho um método simples, o teste da insegurança e da possessividade genérica. É tiro e queda!

Observe se o investigado no seu cotidiano, no emprego, em casa, em suas ações políticas - se for o caso -, demonstra um grande grau de insegurança em relação ao que acha que é exclusivamente seu - pode ser uma mulher, um mandado governamental, etc. Como insegurança todo mundo pode ter, cada um em graus diferenciados, então é necessário saber como ele lida com esse problema. Se o investigado se preocupa em convencer, usando a persuasão lastreada com discursos exemplificados por uma prática, nesse caso, trata-se de uma pessoa que almeja alcançar o convencimento hegemônico das suas ideias sob o embate efetuado por um processo comunicativo reflexivo.

Entretanto, se o investigado usa a dissimulação, o engodo, a compra de favores e das consciências, aliciamentos, ameaças veladas, essa pessoa é um aparelhador de consciências, um colonizador de mentes, uma machista essencial, um perigoso possessivo que na luz solar é um radiante libertário, um professor do tipo “todos aprovados”, anda de bike da humildade, porém, quando as últimas labaredas solares fogem para a linha do horizonte, o manto da noite se revela impávido, a partir desse momento em que todos os gatos são pardos e o morcego voa com soberania, ele caminha lentamente pelo calçamento irregular das ruas escuras, compassado por coincidências macabras: um faca amolada, aviões que desabam, corpos que tropeçam.

Mas ao raiar a madrugada, momento em que mesmo a tristeza esboça um sorriso, o nosso machista essencial coloca a máscara professoral da simpatia, rouba uma flor do jardim do vizinho para oferta-la às mulheres que o veneram. Enquanto a mulherada grita “elesim”, ele pensa no triste fim do seu Policarpo Quaresma, o seu deus encacerrado, entretanto, como lhe foi ensinado, “rei morto, rei posto”, agora é sua vez.

Que Deus proteja as mulheres do machista essencial, porque do machista bravo se livram elas.

Ivan Bezerra de Sant’ Anna

domingo, 30 de setembro de 2018

Gramsci e a hegemonia

Gramsci e a hegemonia



Mesmo tendo sido um político atuante e um escritor político de grande porte, autor das Questões Meridionais e outros escritos, foi na prisão que escreveu a sua grande obra, os Cadernos de Cárceres, um conjunto de cadernos confusos, sem referências bibliográficas - em parte porque não tinha acesso às referências teóricas, e também para burlar a censura -, e mesmo com todas limitações, essa obra causou um imenso impacto e fissuras profundas no então pensamento dogmático stalinista, ideologia reinante nesse período histórico. Por suas “heresias”, foi expulso do PCI, morrendo isolado em uma casa, repudiado pelos camaradas do Partido, a quem dedicou toda a sua vida. 

Mesmo sendo banida e colocada no índex das obras proibidas pelo Partido Comunista Italiano, os Cadernos de Cárceres, ao longo do tempo, tomou vulto, ao ponto de ser uma grande referência atual para a esquerda. O traidor de outrora, hoje um profeta desarmado da Democracia como valor universal. Crenças, reduções cognitivas, faca amolada, prostituição da dialética - o processo ontológico do Ser é transformado em uma dama de costumes fácies - são, dentre outros elementos explicativos, fatores que levaram à proscrição desse portentoso italiano. 

As velhas teorias autoritárias, dogmáticas, muitas vezes reproduzindo arquétipos religiosos, foram banidas para a lata de lixo? Engano, cara leitores, muito engano, tal qual aquela bela flor que apressado colhemos para oferta-la à amada, sem apercebermos que o seu talo era de uma urtiga, o popular Cansanção, e quando os nossos dedos engrossados pela imprudência motivada pela ganância ao belo, ao tentar acariciar os cabelos,  a quem a ditosa flor se destinava, possivelmente ouviremos: “que houve com seus dedos, amor? Estão horríveis!” E de maneira sútil, afasta-os com uma sentença implícita: “eles não!”

Essa perigosa flor - pelo menos aos meus dedos - pode ser as velhas teorias maquiadas por cosméticos da ilusão, fazendo que o conceito grasmiciano  de Democracia como essência e valor universal seja transformada em um conceito manipulável, utilitário e descartável. É como esse “novos” teóricos dissessem: “Democracia para conquistarmos o Poder, depois ela será apenas um acessório de ornamento, mesmo assim somente enquanto  se revelar utilitária”. E como eles conseguiram essa torção interpretativa da obra de Gramsci? Ao que me parece, isso aconteceu pela reinterpretação  de manhosa má fé, realizada no conceito de hegemonia gramisciana, na qual o disfarçado conceito de aparelhamento são os pelos da urtiga.

Para Gramsci, em seu conceito de Democracia essencial e universal, o processo democrático deve manter as conquistas de outras épocas históricas, desde da Grécia, passando pelas conquista da Revolução Burguesa, até os dias atuais. Assim, a burocracia estatal deve ser profissionalizada, isenta dos humores partidários e de interesses econômicos, evitando, ao máximo, a existência de cargos de confiança e afins. Manter as regras do jogo estáveis, somente será possível se os aparelhos estatais se mantiverem isonômicos, sendo essa missão, segundo Antônio Gramsci, a condição prioritária e necessária para desenvolvimento das lutas políticas no seio da sociedade civil, a “casamata ideológica”, local onde se desenvolve e se instaura o processo de hegemonia. Trazer as fações das ruas ruas para os órgãos estatais é aparelhamento. A conquista do governo através de um processo eleitoral isonômico pode refletir a densidade da hegemonia conquistada na sociedade civil, e os órgãos republicanos devem garantir essas conquistas, assim como aplicar as novas leis criadas pelos representantes populares. Portanto, a hegemonia é a legitimidade conquistada por uma práxis política que se torna majoritária na sociedade civil, enquanto o aparelhamento é o assalto às instituições republicanas por métodos escusos, como, por exemplo, a nomeação de companheiros partidários, a compra de votos dos parlamentares e eleitores, o uso da corrupção patrimonialista, e, algumas vezes, assassinatos de oponentes políticos. 

O Judiciário deve pautar pela isenção, centrado em regras estáveis, sendo inadmissível que um magistrado que tem a função magnânima de arbitrar os conflitos democráticos, seja ele mesmo um ator político ou mesmo ideológico. Dessa forma, não fica difícil perceber que esses juristas que preconizam o uso de teorias interpretativas centradas em materialidade estendida para uso da magistratura, revelam mais um instrumento de aparelhamento ideológico, pois criam pontos de fuga à obediência dos atos normativos democráticos. Juiz que assim o faz, não é reacionário e nem progressista, é simplesmente um instrumento de aparelhamento ideológico, um perigoso usurpador do processo real democrático. Ser um magistrado é garantir e respeitar a vontade popular. Essa é a sua vocação e seu sacerdócio. Esse é o caminho que percorre solenemente a sua legitimidade e a sua grandeza.

Em resumo, para Gramsci, a Democracia como valor universal garante que novos processos hegemônicos se desenvolvam, mudando e ampliando novos horizontes de conquistas sociais e normativas, entretanto, sem por em risco as estruturas de ações comunicativas e participativas. Assim, para o grande italiano, as forças reais progressistas devem conquistar o Poder pela persuasão de uma práxis inovadora e jamais pelo uso de práticas autoritárias e desonestas que cerceiam o processo democrático e as liberdades civis.

Esse é o real perigo do lulismo! Disfarçadamente, usam o conceito de hegemonia de Gramsci para encobrir o mais puro e descarado aparelhamento dos órgãos estatais, ao mesmo tempo que promovem ações de aliciamentos, chantagens, corrupções, sempre à margem da legalidade. Todos os meios são válidos para os seguidores do lulismo conseguirem o Poder, pois Democracia para eles é um conceito a ser preenchido pelo contraponto da adjetivação dos seus adversários, em um silogismo simplório e cruel: se os outros são fascistas e golpistas, então ao estarmos de lados opostos, somos consequentemente democráticos.

No entanto, pergunto-lhes: existe algo mais próximo do fascismo do que o  culto à personalidade extremada, o uso do MST como agrupamento paramilitar, o aparelhamento conspiratório das instituições republicanas, e a destruição da soberania do Congresso Nacional pela compra de votos? Se existe, quero ser informado, mas só não me venham com essa história manjada de que um capitão falastrão, destemperado, saudoso por uma época em que não viveu, machista, é a encarnação do fascismo, porque isso me dá um acesso de riso.

Portanto, caro leitor, uma severa advertência: se o lulismo voltar ao governo federal, dele não mais sairá, e o voto que se constitue em momento maior do processo de soberania popular  será o algoz da própria Democracia, uma vez que, para o lulismo, a Democracia tem apenas o caráter estratégico e nada mais!

Como votar no segundo turno, já que para a maioria dos brasileiros não percebem o potencial de mudanças do pluralismo do primeiro turno? Será que um voto impulsionado pela lógica dialética deve ser direcionado à Frentes “disso e daquilo”, uniões políticas carnavalhizadas, onde slogans “abaixo o fascismo” ou pelo axé da Daniela “Elenão”, escondem os verdadeiros propósitos do autoritarismo totalitário, ou deve ser vetorizado para a libertação da classe trabalhadora e a renovação da Esquerda? Talvez essa seja a inteligente peripécia da dialética, ou seja: efetuar a negação do falso esquerdismo, corrupto, populista e autoritário, tornar visível a verdadeira face governativa do conservadorismo reacionário do Sr. Bolso, e contra ele, nas ruas, nos sindicatos, nas associações civis, construir um verdadeiro caminho democrático para a Esquerda. Por que acham que o Putin ajudou ao republicano reacionário Tramp? Porque ele sabia que o maior perigo para os outros países era a falseada versão democrática do Sr. Obama e da Sra. Clinton, conhecida como a Senhora Guerra, preferindo ajudar ao assumido reacionário Trump chegar ao governo e expor suas reais contradições. Ser marxista, algumas vezes, é ver os olhos da tragédia, enterrar os nossos mortos ainda insepultos, sentir o odor fétido do bolor do passado, conviver com os riscos, assumindo posições não muito simpáticas aos populistas carnavalescos. E como disse um sábio camponês, "Bolsonaro pode não ser o melhor fertilizante pro Brasil neste momento, mas é o melhor pesticida de que precisamos agora."


 Ivan Bezerra de Sant’ Anna


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