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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Viva o Rasgadinho!

Viva o Rasgadinho!





O Carnaval não é só um momento de descontração, de alegria, das inversões dos papeis sociais, mas uma celebração dionísica da vida, uma ode popular contra a seriedade dos rituais das elites dominadoras, uma desacralização da morte, colocando-a em um processo de reciclagem natural da vida, tudo isso com muito humor e graça. Afinal, se a dor é essencial para o crescimento humano, os sonhos e risos constroem a magia da existência verdadeiramente autêntica.

É uma pena que a maioria das pessoas que integram a nebulosa e misteriosa classe média vejam apenas o Carnaval como pura diversão higiênica, afastadas o máximo possível do povão, os verdadeiros donos dos festejos de Momo. Engraçado é que muitas pessoas que se dizem de esquerda, falam em integração social e outras milongas, quando não se refugiam nos blocos protegidos do Pré-Caju, vão para um retiro praiano em busca de tranqüilidade. Integração social é uma coisa; sentir o cheiro do povo é outra, dizem elas.

O CarnaCaju, iniciativa do Sr. Nitinho, ajuda a criar um autêntico carnaval? Desde já, felicito-o por esse iniciativa, mesmo sabedor das grandes dificuldades financeiras que a administração João Alves Filho herdou da administração passada. No entanto, não se faz Carnaval com samba-brega, arrocha e com músicos que não possuem nenhuma intimidade com os festejos momescos. A desculpa que o povo gosta dessas músicas não deve ser aceita, mesmo porque isso abriria uma terrível concessão para que essas músicas fossem tocadas nos festejos juninos. Cada manifestação cultural com suas músicas e mesmo sendo o senhor um arrocheiro militante, isso não lhe dá o direito de destruir o espírito carnavalesco, Sr. Nitinho.

Quanto aos festejos carnavalescos, patrocinados pelo grupo político da Dep. Ana Lúcia, merece aplausos a criatividade no uso da poesia grandiosa do saudoso Mário Jorge que embora combativa e revolucionária, harmoniza-se com a irreverência humorada do espírito carnavalesco, por conseguinte, as homenagens valorizam essa tão importante arte, às vezes injustamente esquecida, que é a poesia. Registro, portanto, meus aplausos pela iniciativa da criação desse autentico espaço carnavalesco.

Uma coisa deve ser dita, em homenagem à verdade, mesmo que incomode ao meu ego. Graças ao Rasgadinho, o Carnaval em Aracaju não morreu! Essa belíssima iniciativa, nascida no Bairro Cirugia, tendo a família Barreto como a maior estimuladora desse evento, manteve viva a chama acesa do autentico carnaval. Dois anos atrás, o Rasgadinho trouxe, com muito esforço, Morais Moreira, Banda Sopck Frevo, Pessoa, Armandinho, prometendo nos anos vindouros uma maior integração com os centros carnavalescos do Nordeste. No entanto, o Município e o Estado só dão dinheiro ao grupo do Sr. Fabiano, do Pré-Caju, relegando o nosso Carnaval à categoria de indigente, com a desculpa de fazer Carnaval com a "prata da casa". Tudo bem em prestigiar os nossos músicos, pois temos bandas de alto nível, como é o caso de Los Guaranis, a Banda de Arimateia de Frevo e outras. No entanto, trazer grandes estrelas do Carnaval nordestino ajudaria no estimulo motivador para que as pessoas da classe média se integrassem com a população de todas as classes sociais.

A Banda de Arimateia prenunciava os primeiros acordes da música "Jardineira", percebi que algo estranho estava acontecendo. Estranho!? Existe alguma coisa estranha no Carnaval? Bem, em uma determinada casa, em uma certa mesa, anos atrás, vi o Genelício Barreto doente, alquebrado, mas com um sorriso carnavalesco nos lábios. Senti, no momento, que aquele carnaval seria o seu último, dos inúmeros que participou como incentivador do Rasgadinho. Seu último? Acho que me enganei, pois juro de pés juntos que vi o Genê dançando, rebolando-se, com aquele jeito peculiar que tinha. Ele estava morto e disso tinha plena certeza! Mas, alguém morre para o Carnaval? Essa festa não tem o dom de integrar pessoas, vivas ou mortas? Ele morreu mesmo? Se como disse o poeta português, "morrer é só não ser visto", Genê estava "vivinho da silva", saltitando como uma perereca quando avista água. Será que foi imaginação ou esse é o espirito do carnaval? Seja como for, sorri para ele e pareceu-me ter recebido uma retribuição. Realidade ou imaginação, perdoei-me pelos vários anos que não lhe dirigi a palavra, motivado por raivas passageiras.

O sol já estava rasgando o horizonte, os últimos acordes das marchas carnavalescas ecoavam distantes, caminhava cansado, leve e sereno. Os ódios e raivas ficaram no chão da avenida.

Ivan Bezerra de Sant Anna.



Publicado no site http://www.facebook.com/ibezerra52; http://ibezerra.xpg.com.br e no Blog http://terradonunca-ibezerra.blogspot.com/






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