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domingo, 29 de junho de 2014

Qual o seu estilo, Felipão?

 Qual o seu estilo, Felipão?


Após a Seleção brasileira ter escapado de uma desclassificação humilhante - graças às duas traves mineiras - Felipão tentando encobrir sua frustração e esforçando-se para engolir sua baba colérica, tal qual um Dragão de Komoto de sangue gelado, vaticinou que voltaria a ser o velho Luis Felipe, um homem violento que não faz concessão a ninguém. Mas, será que alguém que cultiva a arte de pensar acreditou nas mudanças do gladiador dos pampas? O papel do bom velhinho, bem humorado, plantando cevada na Granja, analisando os adversários com imparcialidade, o paizão do Brasil, não fazia parte de uma canhestra novela global que a mídia construiu? No entanto, ninguém é de ferro, e como deve ter sido difícil para uma pessoa acostumada a dar bordoadas nos adversários, de uma dia para a noite, manter o riso das hienas congelado no rosto, ou verter lágrimas como um crocodilo faminto dos rios tenebrosos. Afinal, morder adversários não é exclusividade de Luis Soares, e existem muitos tipos de focinheiras.

Será que o verdadeiro estilo do Felipão era aquele de um pretérito jogador medíocre que chutava as canelas ousadas e criativas dos adversários? Ou de um técnico que armava seus times para impedir a arte futebolista, propiciando verdadeiras carnificinas, espetáculos deprimentes que, na sua fase gremista, alcançou seus objetivos devido aos aplausos da imprensa e dos olhares cúmplices dos árbitros? Se foi esse estilo que o saudoso técnico da Canarinha quer resgatar, então cabe aqui um lembrete com a tonalidade vermelha das advertências: a sua fórmula estratégica que teve sucesso no Grêmio, em outros times, não obteve os resultados esperados, a não ser encenar espetáculos de guerra, como foi o caso da participação de Portugal na Copa de 2006, ou sua passagem lamentável pelo Chelsea, a qual os torcedores ingleses preferem esquecer.

Essa fórmula (jogadores obedientemente medíocres + violência + cegueira arbitral), segundo algumas pessoas, não deu certo na Copa de 2002? A resposta é afirmativa, no entanto, devo lembrar que o Brasil se classificou e passou das oitavas graças às cataratas que cobriam os olhos dos árbitros das partidas contra a Turquia e Bélgica. Nessas duas oportunidades, a Seleção brasileira, que tinha quatro volantes  no meio campo e foi profundamente vaiada, e a torcida pedindo a substituição do Fenômeno, o jogador global da Nike. Depois tudo foi aplauso e elogios da imprensa brasileira, esquecendo de dar os créditos aos verdadeiros heróis do título: Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo. Será que essa história vai se repetir ou será uma comédia trágica, impulsionada por um retorno a um passado que deveria ficar sepultado pelo tempo verbal, o pretérito-mais-que-perfeito? Felipão, apegado a sua mágica fórmula, acha que sim e a prova disso é a sua revolta contra as declarações dos técnicos de outras Seleções, preocupados com as arbitragens que possam beneficiar a Seleção Canarinha. Ora, a Turquia não era a Croácia, a Copa não era no Brasil, as outras Seleções - mas de perto, a pobre Bélgica - esqueceram da terrível influência do Havelange, e de uma certa dívida da Nike e da FIFA para com a Canarinha, em decorrência daquela final fatídica contra a França em 1988, tese preferida pelos paranóicos plantonistas. Entretanto, mesmo sem levar em conta essa teoria da conspiração, os adversários do Brasil deveriam ter tomados certas precauções, como estão fazendo no atual momento, denunciando uma possível interferência dos árbitros em favor da Canarinha.

Será que o raivoso Felipão tem razão quando afirma que os técnicos das outras Seleções estão criando preconceitos nas cabeças dos árbitros, dando como exemplo, os erros do árbitro inglês em favor do Chile? Em primeiro lugar, não houve erros por parte do árbitro inglês, mas uma arbitragem imparcial e correta. Em segundo, depois de toda gritaria da imprensa internacional e dos adversários, se existe mesmo essa conspiração, a FIFA jamais repetiria a dose, pois seria dar um recibo assinado que a Copa é uma farsa. Entretanto, convém aos adversários não baixarem a guarda, porque a influência de Havelange não pode ser banalizada; as concessões do governo brasileiro, nunca feitas para outros países sediantes, como é o caso da isenções de impostos que são altamente suspeitas; e as denúncias de corrupções atuais da FIFA são preocupantes.

Ora, Felipão, essa saliva furiosa que escorre do seu queixo, não é a baba de um velho leão cansado, mas um líquido que umedece a língua de um gatinho de pensão, acostumando com as paredes e móveis de uma casa. A quem você quer enganar? A imprensa desportiva que sempre passou a mão sob a sua cabeça, considerando você um Deus, esquecendo de exercer uma crítica eficaz que criassem obstáculos a sua eterna fórmula? Quem convocou jogadores que jamais poderiam estar na Seleção e esqueceu de convocar jogadores com maiores experiências, como, por exemplo, Kaká, Robinho e outros? Sua fórmula entediante não está funcionando, até o presente momento, a não ser no quesito violência, mas isso é muito pouco, pois seus jogadores medíocres e obedientes estão perdidos dentro do campo, e a cegueira dos árbitros só existiu no jogo com a Croácia. Teria sido bom que o árbitro inglês estivesse com catarata, não é? Assim, Hulk teria sofrido uma penalidade máxima e teria feito um gol com ajuda do seu braço, e isso seria muito bom, não é verdade? Porque para o nosso possesso técnico o importante é ganhar, mesmo com um futebol que desmerece a nossa história honrosa de arte e talento.

Essa Copa não é a vingança do desastre acontecido em 1950, como a de 1994 não vingou a derrota do Brasil em 1982. A Seleção de 1950 era um grande time, formado de grandes jogadores e que foi derrotada por ter comemorado na véspera, banalizado totalmente o adversário. Situação análoga se deu com a Seleção brasileira contra a Itália que perdeu por problemas emocionais, mas que marcou um página inesquecível na história do futebol mundial. Quase todas as pessoas nos diversos países do mundo rendem homenagem a grande Seleção Brasileira de 1982, assim como colocaram a Holanda de 1974 no mais alto Panteão do futebol mundial. Futebol é arte, apesar de a FIFA hesitar em mudar as regras antiquadas que beneficiam o futebol-força e esquemas de compactação, nos quais qualquer jogador obediente é eficiente. Quem se lembra da Seleção brasileira de 1994 do teórico Parreira, um treinador que fazia dos jogadores apenas meras peças de manipulação? Somente o genial  Romário é lembrado e com toda razão: em meio a um aglomerado de jogadores medíocres, o "baixinho" brilhava como uma estrela solitária.

Felipão não vai retroceder, pois ele nunca mudou e tudo não passou de uma maquiagem de péssimo gosto. Com essas regras atuais vigentes, Felipão poderá até ser campeão se conseguir colocar um meio-campo no time, pelo menos razoável. De qualquer maneira é necessário que o Felipão reze todos os dias, para todos os Santos, principalmente para as Santas Balizas.

Ivan Bezerra de Sant Anna
 


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