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sexta-feira, 17 de outubro de 2014

O que é um corrupto?

O que é um corrupto? 




Na natureza, um corrupto é um bichinho do mar, uma espécie de camarão sem dignidade, que serve de boa isca para o deleite dos pescadores de molinete. Até o presente momento, não sei porque deram a esse bichinho inofensivo um nome tão ofensivo. Às vezes penso em uma hipótese: será porque a interessante criatura praiana se faz passar por um camarão, e por estar enganado os peixes, ele recebeu esse nome vil?

Deixando ao lado as criaturas do mar, em seus círculos de sobrevivência, volto a minha atenção ao mais criativo - e também mais destrutivo - dos animais: o bicho homem. Por que alguns deles são tachados de corruptos - no Brasil, o crescimento da espécie está virando uma calamidade -, e outros poucos escapam ilesos a esse adjetivo? Quais são as suas principais características e como diferenciá-los?

Em primeiro lugar, apesar da sua aparente fragilidade, o corrupto homem está no topo da cadeia alimentar, alimentado-se de todos, sem nenhum predador que lhe ofenda, já que possui alguns companheiros de toga preta, que existem para a preservação da espécie. Apesar da sua voracidade, a sua alimentação predileta é a bufunfa pública. Ou seja: o nosso sofrido dinheirinho recolhido aos cofres públicos que deveriam financiar o nosso bem estar.

O corrupto e o Capital se diferenciam como a água é diferente do gelo, formando uma tensão dialética, ou melhor: uma trindade tensionada do pai, filho e espírito, que no caso específico, não tão santo. Em ambientes ácidos, o corrupto não sobrevive, como por exemplo, na China e em Cuba, onde são sumariamente fuzilados e ainda pagam o projétil executor. Assim, é um contrassenso afirmar que existem corruptos de Esquerda, pois se alguns usam tons próximos ao vermelho, fazem apenas para enganar os tolos e desavisados. Portanto, não esqueçam: todos os corruptos são capitalistas, sendo que a maioria é adepta ao neoliberalismo, mesmo que alguns avermelhados queiram negar essa verdade.

O corrupto adora obras faraônicas de custo altíssimo e de conclusão duvidosa. Transposições "disso e daquilo", estádios de futebol, Projetos Petróleo Salgado - quem conseguir ver sofre o risco de virar estátua de sal - e construções de linhas de trens de todas as modalidades. Por falar em trens, onde se encontra o famoso Trem Bala? Segundo algumas línguas ferinas, o Trem se foi, ficando tão somente a bala a ser deferida nos adversários sem fé.

Corrupto adora o populismo, pois sabe que a tapeação é a melhor maneira de conseguir os seus objetivos, embora deixe o tacape sempre por perto, para o caso de algumas eventualidades perigosas. Frentes de Trabalho, Leite para Todos, Bolsas "disso e daquilo", dentre outras medidas assistencialistas, foram sempre as preferidas, pois dão a impressão às pessoas que elas estão protegidas, aumenta o consumo local de mercadorias, circula o dinheiro, e de quebra, o pobre incauto pode comprar o "carro mais caro do mundo", em setenta vezes, para a felicidade das Montadoras e dos Bancos. E a saúde pública? Importa-se médicos de outros países e tudo está resolvido! E a educação pública? Ora, o populismo tem uma fórmula perfeita que agrada a todas as demandas: criam-se Campus fantasmas nos interiores para o deleite Ilusório dos bravos "cabras da peste", e para gerar grandes lucros para os donos das escolas privadas, o milagre do PROUNI. Não é genial o populismo corrupto?

A minha região, o Nordeste, que sempre sustentou com votos a política nefasta do coronelismo do passado, hoje é o sustentáculo da política dos novos/velhos coronéis. Não é à toa que nas eleições proporcionais para a Câmara Federal, um voto do eleitor do Piauí valha por 40 votos paulistas. A ditadura militar inventou esse recurso "democrático" e as elites populistas mantiveram na atual Constituição. O corrupto populista não se acanha em colocar uma camisa vermelha e ao mesmo tempo, colocar um chapéu de cangaceiro, festejando a "brabeza" dos seguidores de Virgulino. "O nordestino é sobretudo um forte", dizem para uma população cronicamente pobre, submetida a um assistencialismo enganoso, que paga migalhas com voto. Nada melhor para o corrupto populista que manter o culto ao Cangaço, criando museus, eventos, para evitar possíveis esquecimentos que um punhal vale mais do que mil palavras. Esse punhal brabo que matou e grilhou terras para os poderosos coronéis, hoje é homenageado pelas "facas peixeiras" que os pobres nordestinos carregam nas cinturas, enquanto se postam aos pés dos poderosos para receberem as sobras perversas da exploração.

No entanto, existem alguns populistas corruptos que me causam um imenso temor. São os que outrora erguiam os punhos para o alto, salivavam violência e confundiam luta de classe com ódio da classe dominante. Eles nunca foram dialéticos, mas crentes apaixonados por ideias vagas que nunca compreenderam com profundidade, motivados, quase sempre, pelos hormônios incontidos da juventude ou por outros interesses inconfessáveis, mesmo que inconscientes. Mussolini era um socialista desse tipo e criou o fascismo. Hitler odiava o comunismo, mas tinha o socialismo como uma ideia idílica, criando, consequentemente, o Partido Nacional Socialista. O perigo desse corruptos populistas, transvestidos de socialistas, efetiva-se pelos objetivos de totalizar a sociedade, mantendo os organismos da sociedade civil sob controle, seja por aliciamentos ou pela força. Não tenho dúvidas que se for forçado a optar em votar entre um corrupto sem organicidade e outro que possui uma estrutura totalizante em andamento, farei a opção pelo primeiro, para manter a sociedade civil livre para se organizar.

Alguns jovens de bons propósitos estão defendendo o voto nulo como resposta eleitoral, pois, segundo eles, votar em um ou no outro é trocar seis por meia dúzia. Não deixo de lhes dar razão em alguns aspectos, no entanto, ressalto que a opção de votar em um ou no outro, pode ter consequências diferentes para a sociedade. É muito cômodo não votar ou anular o voto, porque, em princípio, deixaria intacta a nossa pureza ideológica, mas as consequências por uma omissão pode ser até pior do que um ato comissivo. Repito que entre um corrupto sem organicidade e outro com um projeto totalizante, não hesitarei em votar no primeiro, e, logo após o término da eleição, estarei na oposição, pregando nas ruas a necessidade da reinvenção da República brasileira, com a implantação de uma Assembleia Nacional Constituinte, livre e soberana. No entanto, se o corrupto orgânico e autoritário ganhar, essa tarefa fica quase impossível, pois os sindicatos, as associações e os demais organismos da sociedade civil estarão amordaçadas, corrompidas e ameaçadas.

Ivan Bezerra de Sant Anna
 


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