Convém usar com parcimônia o humor e o riso quando o alvo for a corrupção. O humor irônico, subversivo e desestruturador, não deve servir para banalizar a corrupção, colocando-a como algo engraçado que devemos conviver naturalmente em nosso cotidiano. A corrupção é algo que deve gerar revolta e indignação, instrumentos emocionais agregadores na luta contra esse grande mal, e como já disse a filósofa Hannah Arendet, "banalizar o mal é pior do que o próprio mal".
O riso revolucionário e desagregador, e essa é a lição de Henri Bergson, alveja as paixões simuladas, a seriedade dos rituais de dominações de caráter hipócritas, mostrando a face contraditória das majestosas e heróicas elites que mesmo orçadas por pompas e circunstâncias, não passam de palhaços ridículos.
Certa vez conheci uma advogado, lá pelas bandas do município de Ilhéus, que nunca teve nenhuma participação nas lutas pela democracia, no entanto, ao surgir os tímidos raios dos novos tempos, esse colega transformou-se em um socialista, negociou com uma grande central sindical todas as possíveis ações plurimas trabalhista, recebendo vultosos honorários, mesmo que os mesmo fossem excessivos, levando-se em conta que eram decorrentes de ações com muito postulantes. Se um trabalhador lhe perguntava se podia lhe pagar os honorários de 10%, ele respondia que a OAB determinava 20%. Ele se tornou um homem muito rico e se auto intitulou de advogado proletário.
Para mim, tanto quando a Defensora pública do município, ambos remunerados por magros salarios, esse título de advogado popular e proletário tinha melhor caimento em nossas cabeças e não em um rico advogado que nadava em acordos políticos muito compensadores. No entanto, o advogado das massas proletarias insistia nessa honraria, escrevendo um livro para contar suas aventuras heróicas.
Ao saber do livro, fui acometido por um acesso de riso, rebeldes gargalhadas que não queriam cessar. Quiz até ficar indignado, raivoso e preenchido pelo ódio, mas foi impossível. Finalmente percebi que deparava-me com um típico caso de competência exclusiva do riso, um relato de um falso Salvador que derrapa no ridículo.