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sábado, 15 de setembro de 2018

Entrevista com Zé do Mercado

Entrevista com Zé do Mercado

Devo confessar que foi Zé do Mercado, aquele ceboleiro arretado, quem me fez ler a passagem do apóstolo Mateus sobre o grande mal, o skandalon, um conceito que Jesus não precisou, mas usando metáforas, foi enfático em afirmar que são atos pérfidos que o perdão ou a punição não podem reparar, pois, como disse Jesus, "Seris melhor para ele que uma pedra do moinho fosse dependurada ao redor do seu pescoço e ele, lançado ao mar". Uma grave falta, uma ofensa à ordem do mundo, um obstáculo à verdade, e não é à toa que a palavra skandalon é um termo grego, que tem origem no termo hebraico mikshowl, significando “pedra de tropeço”.

Que mal é esse que não pode ser perdoado? Em meio às parábolas e metáforas, Jesus deixou pistas interpretativas, e foi por essas e outras que entrevistei o amigo Zé, homem que trafega com destemor  no encontro das águas revoltas da filosofia e teologia.

“O Skandalon”, explicou Zé, “é o mal puro, desmotivado  de qualquer interesse, a não ser, a satisfação ao atendimemto de um ego despedaçado, que sonha grande, de uma vontade arrogante, ilimitada, alimentado pelo prazer da manipulação e da mentira, um gozo supremo pelo tropeçar dos outros. Tudo o mais é relativizado, de pouca importância, pois quem pratica o Skandalon pensa estar acima do bem e do mal, quando, em verdade, ele é o próprio mal em seu estado puro, um mal que é a razão do próprio mal”.

Por que quem pratica o Skandalon não pode ser perdoado? - indaguei. “O ser humano Skandalon se nega duas vezes, e, nesse sentido, ele é um renegado por ato de vontade, pois nega o que afirmou para depois negar a negação e a afirmação, e com isso, conduz às pessoas ao tropeço, tornando-as manipuláveis, objetos para o seu prazer de supremo egoísmo. Ele faz o uso da perversão do processo dialético, efetuando sucessivas negações, onde a síntese, ora recupera totalmente a tese, ora nega tudo.  Diferentemente do traidor, daquele que decai, ele nunca acreditou em nada, pois trai aquele que deixou de acreditar e renega quem apenas fingiu acreditar, e por essa razão, Jesus dizia que ele nunca deveria ter nascido; mas um vez nascido, deveria ter uma pedra amarrada ao pescoço e lançado ao mar. Entendo, porém, que a pedra e o mar eram integrantes de uma metáfora, pois para um Nazareno pacifista, o lançamento ao mar queria significar, o arremesso de tal pessoa nas águas do esquecimento, através do ato coletivo de renegação. Se ele não podia ser perdoado ou punido - nenhuma das hipóteses tinham algum significado para ele, pois não sente arrependimento e o remorso - a única coisa a fazer era lançá-lo ao oceano do esquecimento”.

O Lula seria um Skandalon? “Existem muitos homens Skandalon que se dissolvem nas multidões, sendo que no mundo político ou religioso, alguns se destacam. Lula não é um Skandalon, pois apesar de ser um arrivista, usar a mentira como uma arma, tudo que ele faz tem uma motivação, ou seja: buscar a riqueza e o Poder pessoal para suprir suas frustrações passadas de um garoto que foi muito pobre, acossado pelo coronelismo nordestino, e nada melhor do que se transformar em um novo coronel do Brasil. Para ele, portanto, bastará um severa punição, pois como ele sempre afirma em seus delírios etílicos, em graus maiores e menores, existe um Lula em todos nós, queiramos ou não.”

Você pessoalmente conheceu algum Skandalon, Zé do Mercado? “Infelizmente, conheço e já votei nele. Jackson Barreto é um exemplo típico de Skandalon. Ele é uma pessoa - se é que podemos chamá-lo de pessoa - que sua única motivação para seus atos é o prazer que sente em enganar, manipular pessoas, e quando externa ódio ou amor, ele o faz sem acreditar nesses sentimentos, apenas como instrumentos para levar às pessoas ao tropeço com a verdade. Mentir e enganar é o seu orgasmo, o seu prazer vital. É uma criança irascível, ególatra, que foi despida de todos os sentimentos de solidariedade - ele nunca se coloca no lugar das pessoas -, e com seu rostinho de “mamãe quero mais”, ele se passa como uma eterna vítima, provocando a compaixão das pessoas de boa fé”.

Dê alguns exemplos concretos. "São muitos exemplos que poderia lhe dar, no entanto, vou me centrar em um exemplo típico dos seus comportamentos. Quando foi Prefeito, ele construiu uma tese que o Sr. Valadares tinha se tornado um democrata, portanto, um precioso aliado. Claro que ele não acreditava nisso, pois a tese era para sua conveniência, pois bastou que o Governador Valadares pedisse a sua destituição do cargo de Prefeito, para que ele negasse a tese anterior, chamando-o de "assassino da sua mãe", senhor das trevas, e outros adjetivos nada publicáveis. Ficou por aí? Claro que não, pois alguns anos depois, construiu uma síntese provisória, denominado o Sr. Valadares de irmão socialista, dando-lhe o PSB como brinde. O que se extrai desse exemplo é que ele não acredita em nada, construindo  tudo para o deleite do seu ego doente".

Mas ele não tem amigos? "Jackson não é amigo nem dele próprio. Seus "mui amigos" são para ele apenas objetos manipuláveis, e nada mais que isso. Já traiu a todos - sempre se dizendo traído - e quando o amigo "traidor" se rende à sua magnificência, ele o reintegra, cobrando um alto preço pelo seu ato de “bondade”. Assim, não é difícil entender, porque alguns amigos reintegrados gravaram um vídeo afirmando a glamorosa mentira que o Dep. Federal Jackson Barreto usou seu mandado federal para defender os presos políticos. Como ele poderia ter feito isso, pois se foi eleito em 1978 e a anistia foi declarada um ano após? Um mandado federal retroativo? Como se percebe, a humilhação que Jackson submeteu aos seus “amigos” é degradante, fazendo-os esquecer que o Deputado Federal que lutou ao lado dos presos políticos foi o Sr. José Carlos Teixeira, um esquecimento vil, desonesto, uma bofetada nos rosto da história.

Mas, pelo que sei, você votou no Skandalon na eleição passada para Governador. “Eu não votei nele, mas, confesso que torci para ele ganhar”. Não estou entendendo nadinha de nada, pode me esclarecer isso? “É simples, Sr. Sant’ Anna, não é nada complicado. Jackson, depois que apoiou Albano Franco para o governo, começou declinar drasticamente, então, sabedor que Marcelo Deda estava com câncer do pâncreas, aceitou ser vice do líder petista, porque sabia que iria assumir. Entretanto, como não conseguiu assumir no tempo que desejava, apostou tudo no segundo mandato. Se ele perdesse a eleição, iria se fazer de vítima, apontando traidores por todos os lados, incluindo os seguidores do falecido Marcelo Deda. Nesse caso, iria sempre restar a dúvida de que se ele fosse governador, o paraíso em Sergipe iria se realizar.  Por isso fiquei feliz quando ele ganhou a eleição, pois sabia que seria seu enterro político. Ele teria de governar, entendeu? E tudo aconteceu com eu previ! Terminou o mandato como o pior governador da história de Sergipe, odiado por todos, e mais de perto, pelos os professores que sempre foram seus fiéis eleitores. Enfim, como ele não pode ser perdoado ou punido, chegou o momento da renegação, do banimento, de jogá-lo no mar do esquecimento”.

Macabro,Zé. Muito macabro! Me dá arrepios só em pensar que um dia fiz política ao lado de uma pessoa tão maligna! Se bem que senti na pele o seu poder maligno, quando, depois de tentar me humilhar no meu local de trabalho, colocando-me em um corredor - a chefe da assessoria jurídica me disse  que não havia lugar para mim na sala - mandou o seu maior puxa-saco, o sicário Gama, me demitir da EMURB, juntamente com mais vinte trabalhadores, sendo que alguns eram fundadores da Associação dos Trabalhadores da EMURB.

Sabe, Zé, não tenho nenhuma raiva dele. O que ele sempre fez aos outros, estava no seu essencial instinto, assim como o escorpião ferrou a rã que o ajudava atravessar um rio. Gostava de D. Neuzilce, e fico a pensar como uma mulher destemida e protetora colocou um ser tão perverso, desprovido de remorsos, um egocêntrico dominador,  no mundo. Era melhor ele não ter nascido, não é, Zé? Mas ele nasceu e espalhou o mal por onde passou! Só nos resta bani-lo, dando-lhe o único título honorífico que ele merece: o de renegado, o Skandalon, o homem que nunca devia ter nascido!


Ivan Bezerra de Sant’ Anna

domingo, 9 de setembro de 2018

Fé insana

A fé insana!

Quando vejo uma publicação como essa, realizada por uma das pessoas que pertence ao status maior da candidatura Bolsonaro, sou invadido pela intuição que esse atentado tem muitos mistérios que a vã consciência não alcança, pois somos levados à ideia de que tem algo de podre no reino da Dinamarca, ou melhor: no reino Principe da Ordem do Dragão, o nosso príncipe Vlad III tupiniquim. Postar uma foto como essa, mostrando a suposta vítima com o rosto encoberto, com uma barriga costurada, como se costura um porco recheado, é um atentado à mínima inteligência das pessoas, e porque não dizer, uma exposição ridícula e caricatural, uma piada que desestrutura o sério. Isso demonstra a canalhice desse grupo de salafrários, pessoas sinistras que vivem nas sombras do mundo.

O que está acontecendo com as pessoas que outrora se davam ao exercício da dúvida filosófica? O que está levando às pessoas a um processo de imunização cognitiva, tornando-as torcedores fanáticas, odiando os adversários, crentes obtusas? Como um velho professor de português, homem afável, tolerante, deixa-se cair nas teias do maniqueísmo ingênuo? E nesse caso, ecoa a profética música do Milton, o prenúncio do irremediável destino das forças das trevas: “O brilho cego de paixão e fé, faca amolada”.

Um venho amigo que lutou ao meu lado no movimento estudantil, votando sempre na Tendência Construção, movimento ligado ao velho PCB, chama-me agora de velho. Ele tem razão. Meu corpo envelhece, um fato indiscutível, e que é a destinação de todo ser vivente. Entretanto esse velho nunca vai abdicar à luta contra às múmias do lado sombrio da história do mundo. Vai sempre cultivar a dúvida  e lutar contra homens falastrões, obtusos, machistas, homofóbicos, aqueles que têm o desplante de insultar o meu passado de lutas, como o Bolsonaro, quando elogia Pinochet e defende torturadores. Muitos companheiros morreram pelo ideal da Democracia, amigo querido, e esse imbecil fascistóide insulta-os e cospe em seus túmulos.

Isso jamais permitirei,  enquanto me restar o último alento de vida, pois, o nosso passado, embora carregue um grande fardo de erros, muito contribuiu para as conquistas dos espaços democráticos ampliados, adubando as sementes das liberdades civis, e não vai ser um bando de renegados que traiu as nossas bandeiras, ou um fascistóide tupiniquim entreguista, quem vai destruir o eterno ideário de liberdade, igualdade e fraternidade.

Embora com o esprito firme e aguerrido, estou triste. Não tenho ódio ou raiva daqueles que transformaram as palavras, esses tesouros da sociabilidade, em punhais afiados. É que em alguns momentos da história, a noite do mundo cobre-nos com seu manto escuro das incertezas e extremas dificuldades, e, nesse período, o mundo perde as cores, os tons cinzas, e nos telhados de zinco, todos os gatos são pardos. É o reino de Maniqueu, gerador das farsas dicotômicas destrutivas, do empobrecimento da inteligência, do ressurgimento da animalidade de sobrevivência, e, quando isso acontece, os nossos demônios, as nossas dores e frustrações  pensávamos estar aprisionados em um passado-mais-que-perfeito, irrompem no mundo dos vivos com a força destrutiva do irracionalismo dos Titãs. E para não sermos capturados, muito pouco nos resta, a não ser a graça da dúvida, acalentada por nossos travesseiros recheados de sonhos, a única esperança de sermos humanos e dignos da vida verdadeira.

Ivan Bezerra de Sant’ Anna.