A fé insana!
Quando vejo uma publicação como essa, realizada por uma das pessoas que pertence ao status maior da candidatura Bolsonaro, sou invadido pela intuição que esse atentado tem muitos mistérios que a vã consciência não alcança, pois somos levados à ideia de que tem algo de podre no reino da Dinamarca, ou melhor: no reino Principe da Ordem do Dragão, o nosso príncipe Vlad III tupiniquim. Postar uma foto como essa, mostrando a suposta vítima com o rosto encoberto, com uma barriga costurada, como se costura um porco recheado, é um atentado à mínima inteligência das pessoas, e porque não dizer, uma exposição ridícula e caricatural, uma piada que desestrutura o sério. Isso demonstra a canalhice desse grupo de salafrários, pessoas sinistras que vivem nas sombras do mundo.
O que está acontecendo com as pessoas que outrora se davam ao exercício da dúvida filosófica? O que está levando às pessoas a um processo de imunização cognitiva, tornando-as torcedores fanáticas, odiando os adversários, crentes obtusas? Como um velho professor de português, homem afável, tolerante, deixa-se cair nas teias do maniqueísmo ingênuo? E nesse caso, ecoa a profética música do Milton, o prenúncio do irremediável destino das forças das trevas: “O brilho cego de paixão e fé, faca amolada”.
Um venho amigo que lutou ao meu lado no movimento estudantil, votando sempre na Tendência Construção, movimento ligado ao velho PCB, chama-me agora de velho. Ele tem razão. Meu corpo envelhece, um fato indiscutível, e que é a destinação de todo ser vivente. Entretanto esse velho nunca vai abdicar à luta contra às múmias do lado sombrio da história do mundo. Vai sempre cultivar a dúvida e lutar contra homens falastrões, obtusos, machistas, homofóbicos, aqueles que têm o desplante de insultar o meu passado de lutas, como o Bolsonaro, quando elogia Pinochet e defende torturadores. Muitos companheiros morreram pelo ideal da Democracia, amigo querido, e esse imbecil fascistóide insulta-os e cospe em seus túmulos.
Isso jamais permitirei, enquanto me restar o último alento de vida, pois, o nosso passado, embora carregue um grande fardo de erros, muito contribuiu para as conquistas dos espaços democráticos ampliados, adubando as sementes das liberdades civis, e não vai ser um bando de renegados que traiu as nossas bandeiras, ou um fascistóide tupiniquim entreguista, quem vai destruir o eterno ideário de liberdade, igualdade e fraternidade.
Embora com o esprito firme e aguerrido, estou triste. Não tenho ódio ou raiva daqueles que transformaram as palavras, esses tesouros da sociabilidade, em punhais afiados. É que em alguns momentos da história, a noite do mundo cobre-nos com seu manto escuro das incertezas e extremas dificuldades, e, nesse período, o mundo perde as cores, os tons cinzas, e nos telhados de zinco, todos os gatos são pardos. É o reino de Maniqueu, gerador das farsas dicotômicas destrutivas, do empobrecimento da inteligência, do ressurgimento da animalidade de sobrevivência, e, quando isso acontece, os nossos demônios, as nossas dores e frustrações pensávamos estar aprisionados em um passado-mais-que-perfeito, irrompem no mundo dos vivos com a força destrutiva do irracionalismo dos Titãs. E para não sermos capturados, muito pouco nos resta, a não ser a graça da dúvida, acalentada por nossos travesseiros recheados de sonhos, a única esperança de sermos humanos e dignos da vida verdadeira.
Ivan Bezerra de Sant’ Anna.
Nenhum comentário:
Postar um comentário