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quinta-feira, 1 de maio de 2014

Plim-Plim




Dia 1º de Maio, dia do trabalhador, um ponto marcado na linha do tempo para comemorar as lutas e conquistas da classe operária. Porém, algo novo aconteceu nas comemorações trabalhistas, pois fomos bombardeados por esquadrilhas de jatos bombardeios munidos de bombas mediáticas em forma de canetas, microfones, câmaras, todas elas explodindo como fogos de artifícios com suas cores hipnóticas reluzentes. Afinal, tivemos uma grande homenagem da nossa grande imprensa ao trabalhador, ao real produtor das riquezas existentes? Perplexo como um bovino que caminha em corredor de matadouro, constatei que toda essa festa pirotécnica era para chorar a morte vintenária de Aírton Senna!

Cada Pais tem a imprensa que merece, pensei. Como uma trágica coincidência pode ser personagem principal de uma peça que foi escrita com suor, lágrimas e sangue dos trabalhadores ao longo de um tempo árduo e cruel? Que somos um povo que nunca se desligou de um passado monárquico e ao mesmo tempo atolado em um capitalismo individualista e possessivo, isso não é novidade alguma, constatação essa que talvez explique a indiferença ou mesmo uma  certa dose de antipatia ao labor produtivo. Acho até que devíamos rebatizar esse dia com o nome de Aírton Senna e não ia causar perplexidade ao mundo que já se acostumou com o nosso gostoso jeitinho de ser.

O Brasil calça chuteiras, como declarava solenemente, Nelson Rodrigues? Que nada, os brasileiros usam sandálias de pneu! Pelo menos é essa constatação que chegamos em decorrência das pesquisas de opinião, realizadas com furor de um coelho procriador, por nossa genial imprensa. Pasmem: o nosso garoto de velocidade inesquecível foi escolhido como o maior desportista do Brasil, restando a Pelé e outros, algumas migalhas percentuais. Não que o nosso Aírton não mereça a nossa eterna lembrança, mas suplantar Pelé, Emerson Fitipaldi, Eder Jofre, Maria Ester Bueno, pessoas que em suas específicas modalidades foram desbravadoras e deram visibilidade grandiosa ao País, abrindo um espaço de respeitabilidade para o mundo, alguma coisa está errada e fora do prumo.

O risível de tudo isso é que pessoas que declaram seu ódio pela Vênus Platinada, acusando-a de manipuladora desonesta, são as mesma que esqueceram de alguns detalhes importantes, quando banhadas em lágrimas de cevada (de preferência da Granja Comari) repetem o bordão galvaniano: "Aírton Senaaaaaa. Brasillllllllllll!". E que detalhes foram esquecidos! Esqueceram, por exemplo, que em uma época de grandes pilotos, tempo onde pontificava o Escocês Voador, Nick Lauda e tantos outros, Emerson Fitipaldi foi bicampeão e deu visibilidade e referência ao País. Segundo opiniões dos especialistas, o nosso Emerson foi o mais técnico piloto da F1, jamais colocando sua vida em risco, pois desconhecia a palavra vaidade, ao contrário de um Aírton impetuoso que representava um papel mediático, escrito por patrocinadores e trombeteada pela voz fanhosa, oportunista, malandra do Galvão Bueno.

Exagero? Pode ser. No entanto, apesar das lágrimas que escorrem dos olhos frios dos vorazes crocodilos nesse clima aquático desse 1º de Maio, a nossa Vênus do Platinada segue olimpicamente risonha, pois percebe que os seus críticos mais ferrenhos com seus adjetivos cortantes, nos interstícios das suas frases, nas franjas dobradas das palavras, está escondida a Fadinha mágica prateada. Assim, esses críticos despejam vômitos ácidos, arrotam fogo, mas ao esquecerem que 1º de Maio é o dia do Trabalhador, confundindo-o com um dia de finados especial, ou que um jogador habilidoso que beirou à imbecilidade é um "fenômeno" indiscutível, eles falam Plim-Plim por outros meios.

Ivan Bezerra de Sant Anna

Publicado no site http://www.facebook.com/ibezerra52; http://ibezerra.xpg.com.br e no Blog http://terradonunca-ibezerra.blogspot.com/




terça-feira, 29 de abril de 2014

Reflexões de um Macaco






Apesar de não ser minha comida predileta, mordo com prazer uma banana, uma fruta com sabor amolecido, cheiro sem cheiro, de nascente verde e poente amarelo. Em verdade, o que me dá maior prazer é descascar da dita cuja. De galho em galho, tal qual um lúdico sketista ou um surfista maneiro, ao dar combalhotas, rodopios, amparado por cipós  que vertem copiosamente dos cabelos volumosos das árvores, sinto intenso prazer, somente comparado aos afagos da macaca trapezista, paridora dos meus macaquinhos.

Entre uma macacada e outra, paro para pensar. Afinal, não é esse o limite divisor entre os macacos e os outros animais? Não foi isso que afirmou aquele macaco sabido afrancesado? Não estou muito convencido desse preceito símio-racional, mas ainda não inventaram nada melhor que nos mantenha a vaidosa suposição da superioridade macacal. Querem um exemplo: um macaquinho está jogando com outros e de repente, como uma única gota de um precário chuvisco tropical, uma banana despenca do céu. Ele sabe que aquela oferenda não veio de um paraíso peludo, mas das mãos de um macaco supostamente albino que se julga o filho eleito do Grande Outro Macaco. Entretanto, o nosso macaquinho jogador ver a amarelinha como uma dávida e em seguida crava os dentes na fruta insultosa.

Lindo gesto, não? Vou concordar, porém me reservo a uma faísca de dúvida. O problema é que por um fato longínquo e confusamente explicado, as bananas viraram um objeto de intermediação de trocas, uma moeda corrente nas comunidades macacais, fato esse que não se explica pelo seu valor alimentar (valor de uso) ou por sua cor amarela madura, como também  pelo verde de nascença. O certo é que uma coisa que deveria servir para aplacar a fome dos multicores macacos, acabou sendo um fascinante instrumento de Poder. Foi criado o Bananismo, onde a finalidade das bananas é sua ampliada multiplicação, tendo como controlador, o Bananeiro, macaco individualista que se julga o senhor do pedaço, mas que não passa de um escravo do bananal, cultuando um novo Deus ex-machina, a Grande Banana Dourada.

O problema, caros símios leitores, é essa dúvida piolheira que me aperreia, dando-me uma imensa coceira. Será que o ato do nosso macaquinho jogador foi mesmo expontâneo, já que sabemos que existia uma campanha publicitária de um outro macaco jogador em andamento? Não será que algum Bananeiro queria multiplicar bananas e ao mesmo tempo dar realce a um determinado macaquinho jogador? Esse solitário símio bramquelo da arquibancada não estaria a serviço do Bananeiro? Que dúvida atroz! Me ajudem, macacada...

O racismo é antiquado e feroz, como uma hiena carniceira que ronda as nossas paragens em busca dos nossos filhotes indefesos, em momentos de descuido. Apesar das nossas diferenças culturais e das variadas matizes coloridas, somos todos macacos. As bananas existem para serem multiplicadas e consumidas por todos, como fez certa vez um profeta, um bom macaco, mas que os antecessores do bananeiros lhe pregaram de braços abertos em uma árvore. Acho que um macaco consciente não gosta de bananas jogadas, mesmo que sejam elas oriundas de boas intenções caridosas, como as bananas cotistas ou bolsistas. Macaco que se preza, planta bananas em conjunto, comendo-as em um banquete fraterno, como uma Tocata de mil vozes, executada por muitos, ouvida para o deleite de todos.

Um abraço, macacada.



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domingo, 27 de abril de 2014



O vôo da Andorinha





Não vi o seu ultimo vôo de serenidade furiosa, rasgando a seda do ar, indo e vindo em volteios gargalhadas, rindo como um giz que risca um quadro. Qual a próxima jornada, onde pretende chegar, Anduras? "Pergunta idiota, companheiro", diria, entre o mastigar sem sabor uma pilha de sanduíches e com a mão esquerda segurando uma pilha de livros, tal qual uma "mama mia" agasalha um pirralho de irritante insatisfação renitente.

Olhe, vou lhe dizer uma coisa, Augusto. Esse apelido que lhe foi ofertado por seu grande amigo, Armandus Von Britus - meu compadre que mostra suas garras e uiva em noite de lua cheia, como para disfarçar o seu grande coração de humanidade feminina- não traduz com fidelidade a indomável águia de vôos longínquos que era. Se o acaso podou suas asas, nublou seus olhos, cegou suas garras, retirou a avidez saborosa do seu bico curvo, no entanto, não foi capaz se sepultar os seus sonhos e na sua atualidade sofrida, lento e desengonçado como um albatroz em um convés de navio, você sorria abobado como um maluco beleza, alheiado dos sorrisos perversos dos infelizes.

Vá, andorinha de garras profundas, olhar quilométrico e coração em explosão de humanidade dos pássaros de serena coletividade. Dê um arranque e ultrapasse as nuvens cumeeiras como uma feroz águia; mergulhe vertiginosamente como os pássaros mergulhões em busca das águas fraternas e como um albatroz, o cruzador dos ares, voe em busca da Terra do Nunca, um local sem local, um chegar sem chegar. E para que alcançar algum lugar? Não basta voar por voar? E quando entre um volteio e outro, avistar o Crocodilo Tic-Tac, dispare: "Olha, otário, você nunca me pegará, pois apenas devorou minha existência cronológica, mas nunca os seus sonhos existenciais".

Ivan Bezerra de Sant Anna  


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