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sábado, 24 de maio de 2014

As elites estão contra Lula?





Lula apareceu na televisão, no programa do PT, e como um artista de uma telenovela chorosa, cuspiu salivas ácidas, tal como um Dragão de Komoto, derramando lágrimas sonolentas como um jacaré satisfeito com sua última refeição. Demonstrando  indignação falou aos brasileiros e brasileiras que estava sendo vítima de um complô orquestrado pelas elites com a finalidade de destruí-lo, e tudo porque não o perdoava por ter criado a bolsa família, um programa governamental de distribuição de renda. Esse velho bordão que já teve seu apogeu em épocas que era oposição, quando chicoteava ferozmente sua língua enrolada contra os integrantes dos governos, hoje, em dias atuais, merece uma boa reflexão.

Quem são essas terríveis elites que estão contra Lula? No passado, quando se dizia socialista e ferozmente brandia seu punho cerrado, era fácil identificar, pois eram todas as pessoas poderosas que queriam manter um modelo político autoritário, patrimonialista e populista. E na atualidade quem são essas elites refratárias ao Lulismo? Os empresários da construção civil que derramam elogios a ele e são beneficiados pela torrente cachoeira de fluxos financeiros da Caixa Econômica? Os empresários do sistema de educação privada que são financiados e mantidos pelo PROUNI? Os banqueiros que nunca lucraram tanto  como agora? Os ruralistas que atualmente podem invadir as terras amazônicas e que tem como aliado, o empresário rural Lulinha? Ou os integrantes da base de apoio parlamentar ao PT, distribuídos por vários Partidos políticos, dentre eles, o PMDB? Afinal, quem são essas terríveis elites que não apreciam o sabor suculento de uma lula ao vinho de jurueba?

Bom, quem sabe se não são os empresários de outros países poderosos, auxiliados por um coro polifônico de chefes de Estado? Nesse caso, como se explicam os elogios rasgados da imprensa internacional, as louvações de Bush e Obama, a chuva torrencial de doutorados Honoris Causa e o espaço dado por um grande jornal conservador americano para que o nosso Pai do Povo se expresse com suas "mal traçadas linhas"?  Que Fidel Castro, Evo Morales, Cristina Kirchner, Nicolás Maduro Moros declarem que são vítimas de uma terrível perseguição das elites poderosas é um fato aceitável, pois são constantes alvos de ataques sistemáticos pela grande imprensa financiada pelo Departamento de Estado dos EUA que já reservou um lugar privilegiado para eles nas labaredas tostante do Inferno.

Lula é um mágico, um notável em prestidigitação, um ilusionista, capaz de convencer a todos que Maluf, Sarney, Collor de Mello, Emilio Oderbrect, Nenê Constantino, Cachoeira, Eike Batista  e seus parlamentares seguidores não são integrantes de uma elite patrimonialista e corrupta? Um fenômeno de hipnose coletiva ou insuficiência cognitiva, oportunismo, um ato de fé fundamentalista, a honradez agradecida dos "desesperados" bolsistas? Como o leitor explicaria tal fenômeno?

Ora, afirmar que a Rede Globo pertence ao grupo das elites contrárias ao Lulismo é, no mínimo, uma grande desfaçatez, para não falar, um oportunismo deslavado! É esquecer a grande e prestimosa ajuda  que sempre deu ao governo petista (ela sempre faz com todos os governos), chegando a demitir vários repórteres por exercerem suas opiniões críticas em relação ao Lulismo, como por exemplo, Ricardo Boechat, Alexandre Garcia e outros. No entanto, a Vênus Platinada não pode ficar surda às manifestações da rua, sob pena de perder totalmente a sua credibilidade, consequentemente, o mercado. Então, efetuando um raciocínio por exclusão, sobraria a  reacionária Revista Veja e uns poucos semanários independentes que, associados com políticos do PSDB, formariam essa temível elite que vocifera contra o povo. Esse raciocínio não é tacanho e o uso de uma bala de canhão para matar um formiga? Ou melhor: destruir uma elite tão pequenina que caberia em uma velha Kombi? Não estaria o Lula e seus seguidores, dramatizando as diferenças para esconder as semelhanças?

Quem está contra Lula? Os integrantes dos extratos médios sociais que a cultora de Espinoza, a Sra. Marilena Chuai, diz professar um ódio eterno, cometendo um erro conceitual ao confundir extratos (associação contigente de pessoas de classes diferentes, agrupadas por semelhanças de status e acesso financeiro) com classe social? Aliás, o que não falta são intelectuais que fazem incursões tortuosas na dialética, recriando a lógica, sadomizando o entendimento, com a única finalidade de mascarar as contradições, provando que o  vermelho pode ser preto em situações especiais (o que eles chamam da lógica da diferença), trocando os conceitos por mitos, colados e seriados pelo oportunismo criador. Uns verdadeiros cultores do pós-moderno, não acham?

Serão elites refratárias as pessoas que estão nas redes sociais, nas ruas, protestando e exigindo um sistema público de saúde digno para população; transportes públicos de bom nível; o fim da imensa corrupção, uma ulceração cancerígena que se alastra pelo corpo da Nação? São aquelas que pedem a construção de de uma verdadeira República, onde se ouça os acordes da Marselhesa? São os que pleiteiam a modificação da bolsa família que, mesmo sendo de muita importância social, não pode ser um vil instrumento de compra de votos que até os gatos e cachorros são brindados? Esses terríveis vândalos da "classe média" não teriam razão quando perceberam que seus recursos financeiros arrecadados pela Fazenda Pública, estavam financiando 20 milhões de bolsas famílias (quando existem apenas 12 milhões de desempregados) e irrigando as caixas das grandes empresas, consequentemente, através do BNDES, mantendo um capitalismo financiado pelos recursos públicos?

Lula, responda uma coisa. Essa "classe média" que tanto causa horror aos seus seguidores intelectuais, não é a mesma que protestava contra a ditadura militar, que foi de maior importância nas "Diretas já"? Não foi essa "classe média" que pediu nas ruas a saída de Collor? Não a mesma "classe média" que sempre votou em você, antes de ir ao Poder? Quem mudou, Lula, ela ou você? Sei que para você é uma tarefa árdua, mas que tal ser honesto pelo menos uma vez na vida?

Ivan Bezerra de Sant Anna



Publicado no site http://www.facebook.com/ibezerra52; http://ibezerra.xpg.com.br e no Blog http://terradonunca-ibezerra.blogspot.com/




terça-feira, 20 de maio de 2014

Existe segurança pública?

Existe segurança pública?





A nossa Polícia vive na mídia divulgando os saquinhos de maconha apreendidos, xeretando a vida das pessoas, descendo a borracha em pobres e mestiços, e enquanto isso, o pobre cidadão mal pode andar nas ruas da cidade, pois a qualquer momento pode ser assaltado. Eles adoram celulares e também o dim-dim dos pobres incautos. Também gostamos de celulares, mas, ao contrário dos delinquentes, vamos para um loja e compramos. Por falar em compras, as pessoas deviam perceber que quando compram celulares nas inúmeras lojas do Calçadão, aquelas que fazem propagandas em carros, possivelmente estão comprando celulares roubados. Todo mundo sabe disso, menos a Polícia. Esses donos de lojas que compram celulares roubados são os verdadeiros organizadores do crime que apenas terceirizam o trabalho de captação. E os constantes assaltos no bares do Mosqueiros? Os assaltantes todo mundo conhece e vivem livres, garbosos, assustando pessoas e protegidos das ações policiais. Dizem, os moradores, que alguns são filhos de policiais.

A violência e a criminalidade no Brasil são fatos cotidianos e em Sergipe, crescentemente  assustadora. Quais são as causas? As desigualdades sociais não explicam satisfatoriamente, pois se formos pesquisar em uma comunidade como a da Terra Dura, por exemplo, vamos verificar que apenas uma parcela mínima de pessoas são delinquentes. A grande maioria da população é constituída por pessoas pobres, de salários baixos, muitos estando à margem da sociedade, no entanto, sobrevivendo à custa de trabalhos temporários. Essa história que a pobreza gera necessariamente a delinqüência é o lado charmoso do preconceito.

A ineficiência da máquina policial e as confusas interpretações judiciais em relação a um ideário abstrato de direitos humanos são elementos de grande importância para explicar essa explosão de criminalidade. Não existe em nenhum País que se diga civilizado, um sistema policial bifurcado em duas policias distintas, uma civil, outra militar. Isso é um absurdo que somente se explica como uma herança autoritária de um País que sempre viveu sob a tutela das baionetas. Temos quartéis cheios de soldados sem nenhuma atividade, e contraditoriamente, o comando militar vive afirmando que precisa de mais soldados. Vamos dar somente um exemplo: uma cidade como Japaratuba possui aquartelados inúmeros soldados e quase nenhuma viatura, em contrapartida,em qualquer condado dos estados norte-americanos com uma população similar, não possui mais de 10 policiais, no entanto, possui cinco veículos totalmente equipados. Treinamento, equipamentos, veículos, interligações entre Distritos são elementos prioritários para o combate eficaz a criminalidade.

Os nossos policiais militares podem ser eficazes nas repressões aos movimentos de massa, no entanto, totalmente ineficientes no combate a criminalidade. Falta tecnologia, treinamento, e a corrupção é um câncer que se alastra na máquina policial. Quanto a polícia civil, como em países civilizados, deveria ser um departamento de investigação de um só Polícia, sendo os integrantes selecionados dentro de um quadro evolutivo de cargos e patentes. Delegados e inquéritos policiais? Isso somente existe no Brasil, pois em outros países os Distritos Policiais são comandados por tenentes que cumprem funções de comando administrativo. Nesses países, são os Detetives que investigam, preparam relatórios e remetem ao Ministério Público. Não é sem propósito ou apenas mera sobrevivência de regras burocráticas, a manutenção de uma rígida hierarquia seriada que vai do inquérito policial à uma sentença, pois em cada desses momentos, abre-se uma grande possibilidade de situações negociais. Por exemplo: um delegado pode esquecer ou não investigar alguns fatos importantes; o Promotor pode se omitir e colocar a culpa no Delegado; e por fim o juiz coloca a culpa nas autoridades precedentes e com um suspiro, justifica: "Como posso condenar se as provas são insuficientes?" Para evitar essa situação foi que alguns países criaram o Juizado de Instrução, concentrando a responsabilidade no juiz.

Quanto os obstáculos que o Judiciário coloca para melhorar o controle da criminalidade, esses são muitos e variados. Primeiro, o uso pragmático de um ideário abstrato de direitos humanos e princípios indefinidos  que levam às sentenças de diversos naipes de interesses, flexibilizando em demasia o princípio da legalidade, introduzindo indicadores confusos e contraditórios para a sociedade. Não são  poucos os casos de bandidos perigosos, chefes de quadrilhas que se albergam com habeas corpus, e não são raros os casos de policiais corruptos e brutais que são expulsos das suas corporações, mas que o Judiciário manda reintegra-los, com uma grande compensação financeira e promoções. Existem até policiais que foram condenados por mais de quatro anos de reclusão, mas mantiveram seus cargos, mesmo com a lei penal exigindo a perda do cargo.

E quem são os criminosos no Brasil? Apenas uns tantos inconseqüentes que vivenciam um individualismo possessivo extremado, oriundos dos tristes extratos sociais, sonhando com o poder de mando e do falso prestígio social, assaltam, matam e roubam? Ou não deveriam estar incluídos os assaltantes dos cofres públicos que se beneficiam da corrupção, sinalizando para a sociedade que o crime compensa e são prestigiados, ovacionados pelas mesmas pessoas que fogem assustadas ao observarem menor sinal visual da cor preta, misturada com pobreza? Esse não são os principais mentores do crime, os que desviam os recursos públicos, sonegam impostos e enganam? E onde eles estão, na cadeia? Eles são protegidos pelo Poder Judiciário e não podem estar nas  masmorras frias, no entanto, podem ser encontrados no Poder Executivo, Legislativo e Judiciário, ocupando os cargos de mando, e entre os grandes empresários que se beneficiam da corrupção. Esses não são criminosos, mas espertos, inteligentes e empreendedores, enquanto a negada pobre que tentam imitá-los, trocando a caneta corrupta pelo revólver, são os temíveis bandoleiros.

Enquanto isso, as pessoas se agrupam em condomínios fechados, supostamente protegidas por uma segurança privada (quase sempre integrada por policiais fazendo bico), fogem das ruas, das praças e se refugiam nos espaços protegidos dos Shoppings, os novos palácios do consumo e lazer. E quando esses espaços mertiolates são invadidos por rolezinhos praticados por garotos dos extratos sociais humildes, elas, apavoradas, exclamam: "Oh, meu Deus, até aqui?" A avestruz enfia a cabeça em um buraco, mas às vezes as tocas são invadidas pelas cobras criadas. Preconceitos, omissões, individualismos são ingredientes importantes para a manutenção da violência social e como alertava Hanna Arendt, se alguns são culpados pelo mal, no entanto, todos são responsáveis.

Somente posso acreditar em uma mudança verdadeira que vise o combate efetivo da criminalidade, quando houver uma mudança real no rosto desfigurado dessa República. Uma Assembléia Nacional Constituinte seria bem-vinda, até porque esses Congressistas viciados e corruptos jamais atirariam nos próprios pés.

Ivan Bezerra de Sant Anna


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