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segunda-feira, 20 de julho de 2015

Rosa, a filha da Lua

Rosa, apesar de ser minha sogra, - não existe ex-sogra! - temos mais uma coisa em comum: somos filhos da Lua, conclusão inderrogável para aqueles que nascem sob o signo do simpático caranguejo.

Ora, uma rosa é uma rosa, e desconfio que se ostentasse outro nome, não conseguiria deixar de ser Rosa, como disse Julieta ao abobado Romeo, do alto da sacada dos sonhos. Nenhum nome ou sobrenome poderia ter o poder de ofuscar a sua essência, o perfume que irradia, o brilho clorofila dos seus sonhos.

A sua competência conciliatória, a sua dedicação  obstinada ao trabalho, que para muitos era sua característica indelével,  para mim era uma habilidade estratégica, uma renúncia consciente dos seus verdadeiros anseios, um ato de amor por aqueles que tinha o dever de proteger. Quantas vezes, em meio a uma conversa, descobriámos que não respondia porque estava no "mundo da Lua"? Ou que o aparelho de televisão ligado não passava de um bom e prestimoso sonífero?

E quem é verdadeiramente Rosa?  A linda e faceira morena que ostentava o sobrenome Nascimento, herança do bom e sorridente João, livreiro sonhador que albergava os pensadores de um novo mundo, dentre eles, Jorge Amado? Ou Rosa Freire, sobrenome dignificado pelas lutas escarlates do grande intelectual Franco Freire? Desconfio que por mais grandiosos que sejam esses sobrenomes, Rosa lhes deu uma dignidade impar que jamais tiveram. Algo sutil, luminoso, muito raro em tempos inconclusos: a tolerância libertária!

"Rosa morena
Pra onde vai morena rosa?
Com essa rosa no cabelo
E esse andar de mulher prosa?"

Ah, poeta, isso nem a Lua sabe...

Ivan Bezerra de Sant Anna