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domingo, 8 de dezembro de 2013

O casamento e o tempo

O tempo não é cruel ou maravilhoso. O tempo é o tempo, apenas. Não possui finalidade, objetivo, apenas flui sob o bater ritmado da natureza. No entanto, sem ele tudo restaria imóvel, congelado, um único momento de verticalidade infinita, a eternidade inexistente para consciência que só toma rumo com o fluir do tempo.

Se o tempo cronológico flui contado e inexorável, o existencial é composto de vivências, momentos  de intensidade infinita, formando um complexo amalgamado, sem ordem sequencial. Dessa forma, sonhar voltar ao passado é perder a dimensão da magia do vivido, uma ilusão que esquece que o passado nunca se foi, mas já está incrustado em nosso Ser, queiramos ou não.

Estou feliz com a idade que tenho, pois é um referencial do meu intenso vivido, das inúmeras fases, das dores, das conquistas, dos amores e, principalmente, observar em uma pessoa muito especial, as diferentes fases do meu viver é do meu amor por ela, todas diferentes, por isso mesmo, uma magia crescente do amor. Sem o natural tempo, não poderia dizer: "uma diferença que nunca perdeu o mistério, mas sempre lhe amei, Lara".

Em seu casamento, ao longo do trajeto que me dirigia ao seu lado para o local de celebração, lugar onde esperava o meu filho adotivo, Toni, pensava sobre aquele momento. Lá estavam as pessoas presentes e pressentia a presença ausente de outras tantas muito queridas e entre elas, meu Pai que olhava para minha mãe e possivelmente, pensava: "velhinha, parabéns pelos 84 anos de dignidade".

Lá estavam alguns poucos parentes e amigos que ousavam desafiar o tempo do esquecimento, pois outras tantas ficaram em momentos passados, mas deixaram perpetuada em nossos viver, as suas existências. Assim, não fique triste, minha filha por elas não estarem presentes, inclusive aquelas que foram importantes na sua meninice, atestada por fotografias amareladas pelo tempo. Elas, por diversas razões, sucumbiram ao tempo, um primo perto, outros primos mais distantes, um caro amigo, tios queridos de outrora, todos eles que envocam uma parte maravilhosa de sua vida. Não existe nada a perdoar, mas de agradecer o que um dia eles foram para você.

É a cada passo que dava ao seu lado, sob os olhares dos amigos que brigam contra o tempo, ao som da transcendental música dos Beatles, pensava: "onde estavam os primos que carinhosamente me chamavam de Tio? Onde estavam alguns tios queridos? E os amigos convidados que gostaria de vê-los? Onde estava um filho que nunca me dignificou com a palavra Pai? Entre as crianças, não vi a minha neta que nunca vi". Bem, não é consolo, mas se desapareceram da minha existência, elas, de certa forma, estavam representadas pelos amigos resistentes, pelas alegres crianças, dentre elas, a bela daminha Yasmim.

E viva o tempo! O tempo que reafirmará sempre o nosso amor, minha filha. Um dia, um belo dia na beira mar e ao pôr do sol, estará casando meu neto, ao lado dos parentes e amigos resistentes e saberá que estarei presente, mesmo que invisível, pois o tempo me legará outros caminhos.

Lembra da sua música que fez quando pequenina? Essa coleção de frases, um plágio da verdadeira poesia, tenta retratar o quanto sua música faz parte da minha existência.

Menina Ruiva


Menina ruiva
Uiva o tempo
Existes porque existo
Existo no seu andar

Onde vais?
Como chegar?
Não importa
Ruiva menina
Contento-me o caminhar

Ruivinha mimo
Que mulherão!
Caia o queixo, caranguejo
O que me diz de um passeião?

Espumas, ondas, marolas
Rios, oceanos ou marés
importa amanhecer vermelho
Seu ruivo sonho andar
Ventos, velas, viagem
Navegar
Navegar
Mulher ruiva menina
com quatro patas no ar

Um grande beijo