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sábado, 19 de abril de 2014

Danadinhoooooooooooooo!

Não, mil vezes não! Ele jamais diria essa palavra com a multiplicação infinita da ultima vogal e mesmo que o referido merecesse toda a homenagem do mundo, nunca daria esse vibrato eloqüente porque poderia ressoar múltiplas e inúmeras interpretações, dentre elas, algumas de caráter financeiro.

Luciano do Valle era um profissional de um talento ímpar para a narrativa esportiva, conseguindo ter um estilo limpo, sem rebuscamentos  barrocos, mas de uma voz potente, bonita e inflexionada pela emoção. Luciano não é somente um grande narrador, mas uma escola, um padrão de objetividade e imparcialidade, um caráter vibrante e sobretudo, uma subjetividade emocional, pontuada pela honestidade.

Quem não se lembra da final da Copa do mundo de 1998, quando do "fiasco" (será que foi somente isso?) da Seleção brasileira, Luciano do Valle foi de uma imparcialidade fantástica, demonstrando apreensões, dúvidas e não se furtando de fazer as críticas necessárias para um momento lamentável e triste. Ele sempre foi assim, emocional, vibrante, porém honesto, ao contrário de certos narradores que são pagos para laurear, propagandear e adular.

Luciano fez seu nome como narrador futebolista, entretanto, soube emprestar sua bela e empolgante voz para outros esportes, sabedor que precisava ajudar com seu prestígio outras modalidades desportivas. O Vôlei lhe deve muito, assim como o boxe brasileiro e até as mesas de sinucas mereciam a sua atenção e carinho. Era um homem generoso e essa característica é atestada por inúmeros profissionais que tiveram nele, um gesto incentivador e carinhoso, um companheiro de luta, uma referência de talento e dignidade.

Boa viagem, Luciano do Valle. Você não morreu, pois "a morte é a curva da estrada", como disse o grande poeta luso e nós que ficamos aquém dessa curva, não ficamos órfãos desamparados e no momento da abertura da nossa Copa do Mundo, a sua cadeira não estará vazia, pois estará ocupada por uma escola, por um padrão de competência e dignidade, por seguidores que tudo farão para dignificar sua caminhada.

E não era isso que os gregos chamavam de imortalidade, Luciano?

sexta-feira, 18 de abril de 2014

A queima do Judeu

O Sr. Proprietário  está de parabéns por essa iniciativa turística e de lazer que é o seu Bar. Uma boa opção para aqueles que gostam de uma boa música.

Mas, por que queimar o Judas, Senhor? Não acha que essa tradição católica carrega em seu bojo um preconceito ao povo judaico, tendo como elemento nuclear uma extrema violência destrutiva, simbolizada pelas chamas destrutivas das fogueiras? Não bastam os milhões de judeus que foram cremados nas fogueiras da Inquisição e nos fornos nazistas?

Cristo, caro amigo, era judeu, apesar do universalismo das suas pregações. Um povo não deve ser estigmatizado porque sua elite religiosa, no caso, os Saduceus, era fundamentalista, avarenta e violenta. Um pobre apóstolo que ganhou trinta dinheiros para entregar Cristo (será verdade?), não pode ser o símbolo representativo do povo judeu. Ademais, meu caro, Jesus vivia dizendo que devia se dar a outra face frente à intolerância, não pelo gesto vaidoso e magnânimo do perdão,  mas por entender que um Judas, por exemplo, vive dentro de nós, assim como outras personas. Não era esse o entendimento do Profeta, quando ao ver um apedrejamento de uma prostituta, disse: "quem não tiver pecados, atire a primeira pedra".

Que mundo estranho, que teatralidade perigosa, Senhor!  A intolerância, o lúdico se combinam em um Bar e tudo isso por uns míseros trinta dinheiros a mais. Que pena! Porém, os intolerados podem podem suavizar o rosto da intolerância. Quando Jesus estava em uma cruz no Monte Calvário e todos os seus apóstolos tinham desaparecido com receio da perseguição dos Saduceus, houve três pessoas que ficaram ao seu lado, solidárias com a sua dor. O Pai tinha lhe abandonado, mas elas ficaram lá até o seu ultimo suspiro. Maria mãe, Maria apóstola, Maria puta, alvos preferenciais da intolerância machista e religiosa, todas elas Marias, mulheres corajosas e destemidas, a santíssima trindade, o coração pulsante do mundo.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Memórias de minhas putas tristes é um livro singelo, bem escrito, produzido nos anos de maturidade, com a narrativa na primeira pessoa, fato esse que demostra muita segurança de um escritor, com uma paragrafação ritmada, densa e melódica. Um excelente livro, onde a sensualidade mistura-se com a ternura e os sonhos com a realidade.
Dizem que as obras primas são obras simples, porém densas em camadas de significados que permitem a qualquer leitor, o deleite, o caminhar nas trilhas das fantásticas florestas mágicas e cada olhos de leitores diferentes, mundo e panoramas diferentes. Uma obra prima agrada a um leitor mais humilde, tanto quanto, a um leitor mais sofisticado.
Entre Cem anos de solidão, obra de um realismo fantástico, com grande influência dos textos carnavalhizados de François Rebelais, uma obra cheia de metáforas de figuração fantástica, prefiro uma obra singela que não foi construída para demostrar erudição ou aplausos intelectuais, mas um livro onde a forma e o conteúdo se fundem, ora em harmonia, ora em contraponto. Um livro para ser sentido, vivido e rescrito pelo leitor. Esse livro é "Memória das minhas putas tristes", assim como "O velho e o mar", de Ernest Hemingway, um livro de paginação ínfima, mas de uma densidade extrapolativa e transcendental.

Adiós, camarada. Las putas del mundo lamentan su muerte y las campanas de las catedrales de los peajes mundo para ti.