É um dos casos que podemos afirmar que a personalidade empírica se extingue, mas fica a personalidade artística, irretocável e de singularidade única. Umberto Eco foi um pensador profundo, um estudioso em semiologia, sempre apresentando ideias inovadoras que levavam à reflexão aos sinuosos caminhos da interpretação. Entre suas muitas obras, destaco a instigante viaje aos meandros das intrincadas antinomias kantianas, em sua portentosa obra, Kant e o ornitorrinco, onde passeia com brilho e inteligência sobre as estruturas formais do conhecimento na apreensão dos fenômenos em tensão dialética com o experimental e o performático.
Se na literatura não foi um Dostoiévski , Lev Tolstói, Balzac, Thomás Mann, Cervantes, Goethe, Shakespeare, Gabriel Garcia Lorca, Machado de Assis e outros tantos, no entanto, com o seu maravilhoso romance, O Nome da Rosa, galgou os degraus do Panteão dos gênios. Uma obra filosófica, histórica, semiótica, tecida por um enredo brilhante, se torna nas mãos modeladoras e criativas de Eco, um gostoso passeio pelas diversas camadas de significações, um delicioso romance policial da idade média, uma busca pelo labirinto da biblioteca guardada pelo cego Borges que termina com uma bela surpresa: um livro sobre o humor irônico de Aristoteles, talvez o mais subversivo livro já escrito, capaz de destruir as verdades pretensamente imutáveis.
Vá em paz, mestre, pois você cumpriu com maestria e dignidade o desafio de uma vida autêntica.