Quem são os canalhas?
Depois de longos anos pousando de estadista, proferindo frases políticas que não eram autenticamente da sua autoria, Lula retorna às barricadas usando aquele velho vocabulário que encantou uma boa parte dos brasileiros. Rouco e com a famosa língua presa, ele volta com carga máxima contra uma misteriosa elite da direita conspiratória, com palavras chulas que são impróprias até para os botequins de cachaça que frequentava.
Ora, essas palavras que Lula usa recentemente, não causa espanto, nem é alguma novidade, levando-se em conta o seu grau de escolaridade e sua historia de vida, permeada e determinada pelos abusos que sofrera de um pai brutal e cachaceiro. Não fosse o amor da sua abnegada mãe, possivelmente o garoto Lula hoje seria um arruaceiro qualquer, morando em algum recanto do triste sertão pernambucano. Infelizmente, abusos, vícios, comportamentos individualistas extremados, o embuste colorido do camaleão, são reproduzidos por pessoas que foram vitimadas por esses valores, decorrente da ausência de uma reflexão crítica dos seus passados.
Todos nós, Lula, somos culpados por não ajudá-lo nessa tarefa de retorno crítico, pois estávamos preocupados em usá-lo para os nossos propósitos bem intencionados. Criamos um mito com pés de barro e nem todos entre nós, cultivávamos bons propósitos sociais. De uma forma ou de outra, fizemos uso da sua personalidade distorcida pela fome, por violências do passado, pelos vícios suavizadores e por um individualismo feroz de sobrevivência. Como erramos, Lula! Você que nasceu sendo joguete de um destino cruel, onde a fome e a violência determinavam às consciências, continuou sendo marionete de grupos manipuladores que o enxergava como um bom trampolim para a conquista do Poder. Nesse sentido, Frei Beto e Nenê Constatine são iguais, sendo que o último e seu grupo souberam tirar proveito da sua consciência oculta de lumpen proletário, onde a revolta e o ódio escondem uma ideologia capitalista extremadamente individualista e pervertida. Assim, não me causou nenhum espanto saber que você e seu filho são hoje grandes pecuaristas.
Causa-me espanto, porém, essa sua fúria santa contra uma elite que não sabemos qual é. Quem são os "safados, os canalhas" que estão querendo destruí-lo? Não creio que esteja a se referir aos velhos companheiros como Frei Beto, Marina da Silva, Ferreira Gullar, Hélio Bicudo, Chico Oliveira, Heloisa Helena, Plínio, Cristovam Buarque e outros que ajudaram na criação do Partido dos Trabalhadores. Nem, tampouco, acho que se refere aos senhores Sarney, Jader Barbalho, Renan Calheiros, Collor de Melo, Paulo Maluf que atualmente são seus aliados, assim como os banqueiros, os empresários da construção civil liderados por Emílio Odebrecht, Nenê Constantine da Gol, Elke Batista e os ruralistas, grupo que atualmente você e seu filho pertencem.
Também não creio que se refira ao velho companheiro Olívio Dutra que um dia dividiu um quarto com você. Hoje ele é um velho rabugento que teima andar com aquela bolsa fora de moda, usar ônibus como seu transporte favorito, no entanto, não se pode duvidar do seu caráter e amor pelo Partido dos Trabalhadores.
Não creio que se refere àquela revista de direita denominada de Veja. Aliás, não entendo como essa solitária revista faz oposição ao senhor, quando a Rede Globo, a Record, a Isto É, Carta Capital e a grande parte da mídia lhe apoia. Talvez a explicação se encontre no grau de reacionarismo da Revista Veja que teima ver semelhanças entre você e os senhores Hugo Chávez e Fidel Castro. Essa revista está sendo injusta, pois a distância ideológica entre você e os líderes caribenhos é a mesma que sempre existiu entre o Capital e o Trabalho. Quem sabe se os editores dessa revista de direta não gostem do seu jeito rude e populista e prefiram um "socialista" mais culto para liderar os interesses das elites dominantes? Como dizia Marx, a historia se repete como tragédia ou comédia e como relata em 18 Brumário Luiz Bonaparte, certas lideranças possuem um tempo determinado de serventia. Nesse sentido, a Revista Veja está sendo profética e prognóstica.
Afinal, Lula, quem são esses safados poderosos que estão contra você? Confesso que até o presente momento não consegui identificá-los. Está sendo uma tarefa extenuante encontrá-los em qualquer local ou nos grupos das elites. Possivelmente, só você saiba. Que tal dar nomes aos bois? Ou essa boiada só existe na sua cabeça, como aquela imaginária que se manteve bem guardada ao longo da sua vida, para se tornar real com o Lulinha pecuarista? De bois, coronelismo, pecuária, você entende muito, porque viveu todas as fases transitivas que vão de vitima explorada, a patrão explorador.
Mahatma Gandhi quando indagado porque iria dialogar com os canalhas ingleses, respondeu: "Vou dialogar com os canalhas ingleses porque eu os entendo, pois o maior canalha do mundo sou eu". Claro que Gandhi não era nenhum canalha, mas sabia que possuía todas as personas do mundo em sua cabeça e por essa razão tinha que ser tolerante. Lula, você deveria exercitar a tolerância, mergulhar nas profundezas abssais da sua mente e lá quem sabe, em algum recanto bem secreto, encontre os canalhas que tanto odeia. Não se assuste ao vê-los, pois podem ter vários rostos que conhece ao longo da sua vida. Pode ser o rosto sofrido de uma criança maltratada pela fome e pelo chicote paterno; pode ser o rosto de um sindicalista ambicioso que propositadamente confundia ódio com consciência de classe; ou pode ser a face de um homem que queria ser rei e descobriu que não passa de uma marionete rica e ornamentada nas mãos dos poderosos.
Ivan Bezerra de Sant Anna.