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segunda-feira, 15 de julho de 2013
O Odisseu e suas sereias
Quisera Deus que o judiciário fosse tão eficiente no combate à corrupção, como foi na condenação do jornalista Cristian Góes. O Ministério Público acusou e o Judiciário sentenciou em tempo recorde. Isso é novidade! Que eficiência!
Uma promotora e uma juíza foram as protagonistas desse feito. Duas mulheres, uma sentença, esse é o nome da prosopopeia. O mais interessante é que foram curiosamente rápidas e dinâmicas na leitura do texto coronelesco, conseguindo ver em um simplório jagunço, um Desembargador ajagunçado. Isso não é típico das mulheres, pois elas são mais meticulosas, ponderadas e muito cuidadosas, conclusão que possuo, por ter trabalhado com duas juízas muito sérias e eficientes.
Ah, o grande Homero! O Odisseu e suas sereias! A ilha de Capri não é mais a mesma, nem Ulisses e as sereias. Possivelmente, se um desavisado navegante por lá passar, terá uma surpresa em descobrir que as sereias não mais cantam e encantam, mas são cantadas. Sinal dos tempos pós-modernos, do reino do Capital.
Em minha Pátria, essa naçãozinha muita sapeca, de safadeza varonil, terra em que se plantando tudo dá, viceja o ativismo judiciário, dos sábios juízes, os novos reis legisladores. Claro que tudo muito disfarçado, sob o manto da Justiça independente e imparcial. Independentes são até demais, principalmente das leis elaboradas pelo Parlamento, que apenas servem para serem manipuladas, objetivando acobertar sentenças pragmáticas e interessadas. No entanto, com todos neos "disso e daquilo", o velho mercado persa se impõe, mesmo que emoldurado por nomes, como, por exemplo, neoconstitucionalismo.
E a nossa Imprensa, que diz de tudo isso? Por que insiste em manter esse ridículo temor reverencial a um Poder sem armas e votos, que se esforça usurpar sorrateiramente o Poder popular? O Poder Legislativo, por ser plural e representativo, é a caixa de ressonância da sociedade, o que levou a Câmara dos Lords inglesa denomina-lo como o Poder maior, o Supremo Poder Eleito. No entanto, os nossos jornalistas tecem ácidas críticas à Casa do Povo, o que é muito salutar em uma Democracia, confundindo, por vezes, congressistas com a instituição congressual. O que se espera é o mesmo denodo seja usado em relação ao Judiciário que, infelizmente, protege os corruptos e condena quem denuncia.
Um simples conto sem maiores pretensões foi visto por olhos atemorizados e vaidosos, como injurioso à honra de um Desembargador que, ao assumir o cargo, despiu-se da sua honra privada, assumindo a honra pública. E essa honra pública pertence ao povo que pode esmiuçá-la como quiser, restando ao homem público sua práxis e sua dignidade como defesa. Essas são as regras da verdadeira Democracia e assume cargo público quem tem mérito e coragem para fazê-lo. Como diz o povo: "quem coloca a rodilha, aguenta o pote".
Será que não é subestimar o povo, que sempre repete: "a quem serviu a carapuça, que a vista". A reação estampada foi descuidada, vaidosa e antidemocrática e por essa razão, a carapuça assentou em sua cabeça. Erradamente, creio, pois se lhe conheço bem, esse barrete não lhe cabe.
Quanto aos senhores jornalistas, um lembrete oportuno e necessário. Exerçam suas funções com arrojo, coragem e dignidade, com o mesmo denodo que em outras épocas enfrentaram as baionetas da ditadura militar. E se os tanques, as prisões não lhes causaram medo, como temer meia dúzia de servidores públicos arrogantes, munidos apenas com canetas?
No entanto, muito cuidado! Na Odisséia e nas Ilíadas, o astuto guerreiro grego é o mesmo. Ele usa a espada e fabrica um cavalo de madeira. E nem sempre as muralhas democráticas resistem ao engano.
Ivan Bezerra de Sant Anna
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ISSO É UM ABSURDO!!!
"Na primeira noite eles aproximam-se e colhem uma Flor do nosso jardim e não dizemos nada.
Na segunda noite, Já não se escondem; pisam as flores, matam o nosso cão, e não dizemos nada.
Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e, conhecendo o nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada, Já não podemos dizer nada."
Vladimir Maiakóvski
Um juiz sergipano proíbe que um livro sobre o bandido Lampião fosse divulgado, desconhecendo ou fingindo desconhecer que em uma Democracia, pessoas históricas e públicas como Lampião devem ser analisadas por diversos prismas, pois as ciências compreensivas são essencialmente polêmicas e controvertidas.
NÃO DISSEMOS NADA!
Juiz Federal sergipano rasga a Carta Constitucional, intrometendo-se nos assuntos didáticos de um conselho de professores da UFS e "aprova" um candidato reprovado pela Junta de docentes, porque essa pessoa era uma juíza estadual.
NÃO DISSEMOS NADA E A JUNTA NÃO APELOU!
Agora, um juiz para defender um Desembargador que se achou ofendido com uma ficção escrita em jornal, condena o jornalista. Engraçado, como o escrito era ficcional, por que esse Desembargador - o mesmo que deu uma liminar para João Carlos Paes Mendonça - ficou ofendido? Como diz o povo, "colocou a carapuça e confessou".
VAMOS FICAR CALADOS?
O Judiciário está destruindo a Democracia, exercendo censuras em todos os níveis, protegendo os poderosos e legislando abertamente. Alertava Rui Barbosa que a pior ditadura é do Judiciário. Entendo que a preocupação desse ilustre homem público tinha uma forte razão: o Judiciário é um Poder sem armas e votos, composto por burocratas elitistas que, sem nenhum controle, pode exercer uma ditadura insidiosa, escondida pelo manto das sombras da noite, disfarçada, difusa e eficiente. Em uma ditadura declarada sabemos com quem lutar, mas em uma ditadura acoitada pela penumbra, disfarçada em um mercado persa de opiniões, não vemos claramente os inimigos. A escuridão que tudo camufla, serve para Drácula e para os juízes usurpadores.
VAMOS DEIXAR ISSO ACONTECER?
Ivan Bezerra de Sant Anna
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