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quarta-feira, 9 de setembro de 2015

A criança e a águia

A criança e a águia 

A foto de uma criança morta na praia, vítima de um trágico afogamento, correu os ares do mundo como uma gaivota triste, cantando um monótono estribilho. Parecia estar dormindo, banhado por águas plácidas e acolhedoras de um Atlântico de azul profundo, mas o belo oceano pode ser cruel e traiçoeiro, como todas as forças insondáveis da Natureza.

Entretanto, não foi as mãos do acaso que a colocaram sob os auspícios das forças contraditórias da Natureza, mas o egoísmo possessivo de uma ideologia perversa, temperada por condimentos nacionalistas e religiosos. Não muito longe, milhares de crianças são mortas sob as esteiras de tanques israelitas que hasteiam a bandeira de um povo eleito por Deus, ansiando pela expansão territorial, não importando o custo da empreitada. Que Deus estranho! Talvez agora se explique o Holocausto nazista, as famigeradas Cruzadas, todos em nome de um Deus de um povo eleito, inimigo mortal de um mundo humano e diferenciado.

Longe de tudo, uma ave de rapina bate suas asas gananciosa, paira soberana, emite um dilacerante assobio pelo seu temível bico curvo. Para ela não existem os deuses dos povos que guerreiam, mas um só Deus, a divindade do Capital que reina sobre o mundo. Que se matem por seus deuses, criem facções, dividam os países, destruam culturas milenares, pois tudo isso levará ao deus do Capital a um longo e grandioso reinado.   Por gastar suas garras afiadas se pode financiar guerras civis, como, por exemplo, a do Egito, Líbia e Síria? E uma ajudinha do enlouquecido Estado Islâmico é sempre bem recebida, - para isso existe o teatrinho de ódios hipócritas - a exemplo da preciosa ajuda de Abin Laden no Afeganistão comunista. Quanto aos refugiados dessas guerras insanas, isso é problema para Europa. Ela que se vire para alimentar e arranjar empregos para os refugiados, que já a muito tempo fazem esse percurso. E se a França, por exemplo, se tornar um estado islâmico, devido ao aumento constante da população muçulmana? Ah, tudo ao seu devido tempo, pois a única preocupação da portentosa ave é proteger os filhos de David, irmãos diletos e cúmplices, unidos pelo laço da ganância pelo vil metal,


Não foi Netuno que fez adormecer eternamente a desafortunada criança em uma solitária praia. Os deuses gregos, mesmo saboreando humores díspares, são demasiadamente humanos. Se seus olhinhos não mais verão as luzes das estrelas, suas mãos não poderão  acariciar uma flor, seus pés não mais correrão pela mágica relva da vida, isso se deu por exclusiva responsabilidade de uma ideologia egocêntrica, cultuada por aqueles que detém quase toda riqueza do mundo, e vivenciada por nivelados consumidores, despidos de toda a dignidade diversificada do ser humano.

Ivan Bezerra de Sant Anna