Reflexões de um Macaco
Apesar de não ser minha comida predileta, mordo com prazer uma banana, uma fruta com sabor amolecido, cheiro sem cheiro, de nascente verde e poente amarelo. Em verdade, o que me dá maior prazer é descascar da dita cuja. De galho em galho, tal qual um lúdico sketista ou um surfista maneiro, ao dar combalhotas, rodopios, amparado por cipós que vertem copiosamente dos cabelos volumosos das árvores, sinto intenso prazer, somente comparado aos afagos da macaca trapezista, paridora dos meus macaquinhos.
Entre uma macacada e outra, paro para pensar. Afinal, não é esse o limite divisor entre os macacos e os outros animais? Não foi isso que afirmou aquele macaco sabido afrancesado? Não estou muito convencido desse preceito símio-racional, mas ainda não inventaram nada melhor que nos mantenha a vaidosa suposição da superioridade macacal. Querem um exemplo: um macaquinho está jogando com outros e de repente, como uma única gota de um precário chuvisco tropical, uma banana despenca do céu. Ele sabe que aquela oferenda não veio de um paraíso peludo, mas das mãos de um macaco supostamente albino que se julga o filho eleito do Grande Outro Macaco. Entretanto, o nosso macaquinho jogador ver a amarelinha como uma dávida e em seguida crava os dentes na fruta insultosa.
Lindo gesto, não? Vou concordar, porém me reservo a uma faísca de dúvida. O problema é que por um fato longínquo e confusamente explicado, as bananas viraram um objeto de intermediação de trocas, uma moeda corrente nas comunidades macacais, fato esse que não se explica pelo seu valor alimentar (valor de uso) ou por sua cor amarela madura, como também pelo verde de nascença. O certo é que uma coisa que deveria servir para aplacar a fome dos multicores macacos, acabou sendo um fascinante instrumento de Poder. Foi criado o Bananismo, onde a finalidade das bananas é sua ampliada multiplicação, tendo como controlador, o Bananeiro, macaco individualista que se julga o senhor do pedaço, mas que não passa de um escravo do bananal, cultuando um novo Deus ex-machina, a Grande Banana Dourada.
O problema, caros símios leitores, é essa dúvida piolheira que me aperreia, dando-me uma imensa coceira. Será que o ato do nosso macaquinho jogador foi mesmo expontâneo, já que sabemos que existia uma campanha publicitária de um outro macaco jogador em andamento? Não será que algum Bananeiro queria multiplicar bananas e ao mesmo tempo dar realce a um determinado macaquinho jogador? Esse solitário símio bramquelo da arquibancada não estaria a serviço do Bananeiro? Que dúvida atroz! Me ajudem, macacada...
O racismo é antiquado e feroz, como uma hiena carniceira que ronda as nossas paragens em busca dos nossos filhotes indefesos, em momentos de descuido. Apesar das nossas diferenças culturais e das variadas matizes coloridas, somos todos macacos. As bananas existem para serem multiplicadas e consumidas por todos, como fez certa vez um profeta, um bom macaco, mas que os antecessores do bananeiros lhe pregaram de braços abertos em uma árvore. Acho que um macaco consciente não gosta de bananas jogadas, mesmo que sejam elas oriundas de boas intenções caridosas, como as bananas cotistas ou bolsistas. Macaco que se preza, planta bananas em conjunto, comendo-as em um banquete fraterno, como uma Tocata de mil vozes, executada por muitos, ouvida para o deleite de todos.
Um abraço, macacada.
Publicado no site http://www.facebook.com/ibezerra52; http://ibezerra.xpg.com.br e no Blog http://terradonunca-ibezerra.blogspot.com/
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