O machismo essencial
Muitas mulheres estão indignadas com a candidatura de uma certa pessoa, por motivo de sua clara opção machista. Aplausos para elas, mesmo que uma boa parte dessas mulheres convivam com homens machistas, oportunistas e cafajestes, uma pequena contradição que não retira o rubor indignado das suas faces, realçado com um cosmético “vermelho açaí”. Afinal “O meu homem é machista possessivo, mas gosto dele e seu ciúme é uma prova de amor”, pensam elas, ao mesmo tempo que gritam a todos os pulmões, “elenão! Mil vezes não!” Esse grito pode fazer coçar as orelhas dos seus maridos, amantes, companheiros? Claro que não, pois o machista é o marido da vizinha, o namorada da amiga, mas nunca, nunquinha, os respectivos consortes das feministas ”elenão”.
Carnaval fora de hora? Não, caro leitor, esse é o País do Carnaval, faça chuva ou faça sol, e aqui não vige “isso é isso”, mas, aos sons dos tamborins e dos surdos marciais, a sentença do Rei Momo: “isso é isso e ao mesmo tempo é aquilo”. Portanto, que não cause espanto a vocês quando o nosso Jacutinga JaMente vomitar o jorro do “disse, não disse”, pois ele é uma mente que des(mente) a mentira que seu dente sente.
Entretanto, caros leitores, como conhecer um machista essencial, aquele que apesar do não dito, o dito por não dito, simboliza o arquétipo do machismo? Tenho um método simples, o teste da insegurança e da possessividade genérica. É tiro e queda!
Observe se o investigado no seu cotidiano, no emprego, em casa, em suas ações políticas - se for o caso -, demonstra um grande grau de insegurança em relação ao que acha que é exclusivamente seu - pode ser uma mulher, um mandado governamental, etc. Como insegurança todo mundo pode ter, cada um em graus diferenciados, então é necessário saber como ele lida com esse problema. Se o investigado se preocupa em convencer, usando a persuasão lastreada com discursos exemplificados por uma prática, nesse caso, trata-se de uma pessoa que almeja alcançar o convencimento hegemônico das suas ideias sob o embate efetuado por um processo comunicativo reflexivo.
Entretanto, se o investigado usa a dissimulação, o engodo, a compra de favores e das consciências, aliciamentos, ameaças veladas, essa pessoa é um aparelhador de consciências, um colonizador de mentes, uma machista essencial, um perigoso possessivo que na luz solar é um radiante libertário, um professor do tipo “todos aprovados”, anda de bike da humildade, porém, quando as últimas labaredas solares fogem para a linha do horizonte, o manto da noite se revela impávido, a partir desse momento em que todos os gatos são pardos e o morcego voa com soberania, ele caminha lentamente pelo calçamento irregular das ruas escuras, compassado por coincidências macabras: um faca amolada, aviões que desabam, corpos que tropeçam.
Mas ao raiar a madrugada, momento em que mesmo a tristeza esboça um sorriso, o nosso machista essencial coloca a máscara professoral da simpatia, rouba uma flor do jardim do vizinho para oferta-la às mulheres que o veneram. Enquanto a mulherada grita “elesim”, ele pensa no triste fim do seu Policarpo Quaresma, o seu deus encacerrado, entretanto, como lhe foi ensinado, “rei morto, rei posto”, agora é sua vez.
Que Deus proteja as mulheres do machista essencial, porque do machista bravo se livram elas.
Ivan Bezerra de Sant’ Anna
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