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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Voz Traiçoeira

Voz traiçoeira



A calmaria da tarde alegrada por um cavaquinho mimoso, um pandeiro alegre, um violão com cordas saudosistas, uma cantoria ritmada por um contraponto do riso e o soluço, foi bruscamente quebrada por uma voz triste, supostamente profética. A voz de palanque ressoou chorosa, entrecortada por pausas e palavras em balbucio. Era a voz do político ou do menino Edvaldo que um dia sonhou com a humanidade feliz?

Lá estava Cleomar, deitado serenamente, dormindo e sonhando o seu último sonho. Seu último? Quem sabe dizer. Sonhos, ele sonhou muitos, durante toda a sua vida tracejada por dores, alegrias e amores. Sua mão traçava palavras, frases e parágrafos, ritmados pelo fluxo dialético da vida e pelo pulsar do seu coração. Morreu como viveu: sonhando, brigando, cantando.


Aquela voz tristonha não precisava ter prometido que lhe colocaria no rol da fama da Orla do Por do Sol. Deveria ter ouvido outras vozes superiores, antes de sonorizar palavras desonestas e infiéis. Mesmo porque, ao por do sol a Coruja de Minerva sempre piou para ele e lá pelas tantas horas da madrugada, o Galo gaulês sempre lhe anunciava o amanhecer. Cleomar Brandi não precisa de estátuas, pois suas ações densamente humanas eternizaram-se na linha do tempo infinito.

No entanto, aquela voz dissonante sensibilizou uma mãe que chorava a morte de um filho, como qualquer mãe que vê o acaso cruel violar a lei natural da vida. Ela acreditou na sua voz, Edvaldo Nogueira. E quando a morte a carregou solenemente em seu manto, o seu coração crente continuou acreditando.

Quem é mesmo o dono de sua voz, Edvaldo? Não importa. Você e a sua voz não dignos de um homem que chamava-se Coração Valente.

Ivan Bezerra de Sant Anna



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