O axé coronado
Vírus é vírus e não é tarefa fácil enfrentá-los. O pior é quando dois vírus se associam, sendo que um pode potencializar o outro, o que pode ser o caso prejus vírus e o corona vírus. O primeiro, o prejus, pensava-se já extinto em decorrência da ação do Ministério Público que observou a existência de graves irregularidades na administração dos recursos públicos, oriundos de emendas parlamentares que alimentavam o voraz apetite do vírus pelo erário público. O bicho era insaciável, pois não só comia o dinheiro público, como transformava o espaço público em área privada. Bicho danado! Entretanto, ao que parece, as medidas profiláticas não eliminaram os núcleos protéicos do vírus, e o danado está voltando com toda a força, assim como o corona vírus, mais coroado.
Por falar em coroa, o nosso Rei Edvaldo - segundo as más línguas, ele reina, mas quem governa mesmo é o Sr. Laercio Oliveira -, abandonou a zabumba, um resquício plebeu, para virar o rei momo do axé music. Dessa maneira, o nosso ex-foguinho e ex-zabumbeiro, que agora ostenta o pomposo apelido de “asfaltador das ruas das ilusões”, sob aplausos dos irmãos empreiteiros, entrega as chaves da cidade ao Fabiano, o famoso empresário dos prazeres gerais, para que o dito cujo implemente o turismo aracajuano, mesmo que a Orla de aracaju, o Parque da Sementeira, a Orla do Por do Sol, o Calçadão da Treze de Julho, as inúmeras praças da cidade estejam em completo abandono, deterioradas e parcialmente destruídas. Contradição? Pode ser, mas o que dizer de uma cidade que se diz turística, que em pleno período turístico, os bares fecham na segunda feira?
Se estamos todos alarmados com o avanço do corona vírus, e se pode haver uma associação com o vírus axé coronado, que em Aracaju tem o nome de prejus vírus, então cabe uma análise mais aprofundada, e ninguém melhor que Miguel da Musuca para fazê-lo. Diz o nosso sábio da Musuca:
“O axé coronado nasceu na Bahia, um projeto genético das elites preconceituosas baianas que viam no antigo carnaval baiano uma herança popular da idade média, onde a sátira, a ironia e o riso eram fatores destrutivos da seriedade hipocrita dos “bem nascido”. Então nada melhor que um carnaval da exclusão, onde os que se julgam melhores e superiores dançam protegidos por cordas e seguranças e nos camarotes de luxo. Quanto ao povão foi criado a “pipoca”, local onde se comprimem dez pessoas por metro quadrado - os denominados “mal nascido” -, todos embalados por uma música ensossa, repetitiva e sonolenta. Assim, o que esperar de uma acarajé sem óleo de dendê, pimenta e um bom camarão seco? Revolta, raiva, descrença, e por conseguinte, a violência dos excluídos é inevitável, pois o carnaval de rua é de todos e para todos, sem alguma distinção”.
Devo dar razão ao mestre Miguel da Musuca. O espaço público não pode ser privatizado para gerar lucros para o seleto grupo de empresários. Se eles querem realizar seus eventos, que os façam em áreas privadas, locais que possam rentabilizar seus lucros, através de seus variados serviços. É inadmissível, porém, o uso do espaço público e de verbas do erário para engordar seus grandes lucros, uma vez que as referidas verbas devem ser destinadas a eventos culturais públicos, como o carnaval, por exemplo, o que possivelmente não irá acontecer, pois o nosso ex-zabumbeiro está mais preocupado em agradar os empresários, formentando um grande núcleo de apoio para sua reeleição e para a futura eleição do seu grande mentor, o Sr. Laercio Oliveira.
O leitor mais ansioso está a perguntar: onde entra o corona vírus nessa história? Ora, como falam os especialistas do assunto, quanto maior a concentração de pessoas por metro quadrado, maior o risco de contaminação, e raciocinando dessa maneira, os pipoqueiros populares que são comprimidos como sardinhas em latas, evidentemente, serão os alvos preferenciais do corona vírus, esse terrível bichinho que possivelmente será transmitido por algum “bem nascido”, porque somente essa categoria de folião tem o privilégio de ter ido ou conhecido alguém que foi à China.
Ivan Bezerra de Sant’ Anna
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