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terça-feira, 31 de maio de 2011
A gente somos inútil
A gente somos inútil...
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A música do Ultraje a Rigor, que gozava das mazelas brasileiras, agora é coisa séria. Os vários erros de concordância que povoam a letra da música "Inútil" não são mais erros, segundo um livro adotado pelo MEC para ser usado pelos alunos da rede pública de ensino. A garotada pobre pode escolher se fala na linguagem culta ou na chula, pois ambas deverão ser consideradas corretas, de acordo com o livro intitulado "Por uma vida melhor". Um belo título!
Esse livro, que pretende revolucionar o ensino da língua portuguesa, foi escrito por muitas pessoas, dentre elas, possivelmente, muitos companheiros e ovacionadores do Luiz Inácio. Evidentemente, não deixa de ser um tributo ao Lula e ao seu repertório de palavras pitorescas, apelidado por alguns de "catinguês" (o dialeto da caatinga), e por outros, a linguagem revolucionária das mudanças. Falam que um certo professor universitário, que usa um chapéu de Tom Jobim, vive de canto-em-canto, trovejando palavras engasgadas, discordantes e quando lhe perguntam se vai a reunião do Partido, ele prontamente, diz: "Nóis vai, companheiro". E os companheiros, emocionados, dizem: "Que intelectual! Ele fala como o povo".
Tudo está pós-moderno em nosso País depois da "marcha para Brasília" dos camisas rosas petistas. As invenções revolucionárias são inúmeras e solenemente proclamadas como redentoras da dignidade do povo brasileiro. Bolsa "disso e daquilo", socialismo terceirizado, desmatamento amazônico ecológico e por fim, "Minha gente: a nova gramática popular". E o que mais causa espanto é a adesão de inúmeros intelectuais ao novo projeto de gramática dos petistas! Alguns dizem que se deve escrever como se fala, pois isso é o máximo de democracia. Outros, porém, são mais rebuscados quando afirmam que os chamados erros de concordâncias, em vez de se constituírem em erros banais são, quase sempre, conceitos filosóficos populares de cunho regionais. Ou seja: para esses intelectuais quando um companheiro do campo fala "nóis vai" está expressando um maior sentimento de solidariedade que a frase "nós vamos" não conseguiria.
Ė bem possível que podem existir erros rurais e urbanos, cada qual apresentando caracteres e abrangências significativas diferenciadas. Por exemplo, a frase "nois vai" é mais comum ser ouvida em zonas rurais onde predomina maiores laços de solidariedade - o plural "nois" em unidade "vai" -, enquanto "a gente vamos" é comumente ouvida em regiões urbanas, pois denota um maior grau de individualidade, com o "vamos" denotando um conjunto de pessoas e não uma unidade. Mas ambas estão erradas! São erros com significações diferenciados, mas erros. Por que soam mal ou são convencionados como erros? Bem, imaginem que alguns Prefeitos interioranos perdessem o medo e resolvessem em conjunto, através de um Prefeito líder, redigirem um documento para responderem às acusações de corrupção e no final do texto colocassem a seguinte frase: "Nois rouba, mas faz". Apesar da dissonância auditiva, possivelmente entenderíamos que aqueles prefeitos "roubam, mas fazem". No entanto, imaginem esse documento ser lido séculos após, ou servindo de peça acusatória para o Ministério Público, com as palavras chaves se digladiando entre si. Seria um banquete interpretativo, bem ao gosto dos pragmáticos. Uns diriam que devido às discordâncias das palavras haveria uma dúvida razoável quanto à autoria dos roubos; outros afirmariam que devido a predominância do singular das palavras "rouba" e "faz", a autoria declarativa dos roubos seria do Prefeito líder e escritor. E tudo isso porque o escrevente Prefeito resolveu colocar o plural e o singular numa rinha de galos!
Vamos ainda imaginar para descargo de consciência que o Prefeito escrivão fosse uma pessoa cultuadora da filosofia Yogue e não se contentasse com as estreitas significações das frases "nós roubamos" ou "a gente rouba" e quisesse uma frase que a pluralidade de prefeitos roubassem em unidade. Nesse caso, o encadeamento da palavra "nós"(pluralidade) com a palavra "rouba"(unidade) daria a significação semântica desejada. Mas para evitar dissonâncias semânticas posteriores deveria fazer como os germânicos fazem, criando uma palavra-conceito com a junção das palavras "nós" e "rouba" que resultaria na palavra "nósrouba", um tanto estranha, no momento, mas plenamente eficaz na sua extensa significação e sem ter que recorrer à gramática proposta por essa nau de gramáticos populistas e insensatos.
Que "vida melhor" essas propostas gramaticais trazem para a população pobre brasileira? A melhoria da inclusão social, como dizem os teóricos petistas quando se referem às bolsas "disso e daquilo", às quotas "unipobres" e o Prouni? Acho melhor analisar cada uma delas para que se possa entender melhor "A Nova Gramática Companheira".
A bolsa "disso e daquilo", instrumento que tinha como meta a inclusão econômica e social da "minha gente", não tem o poder de transformar uma pessoa afastada - à margem (ou marginal) - do sistema produtivo em um cidadão laborativo que produz valores econômicos. Transforma, isso sim, um desvalido num assistido custeado pelo Estado, um viciado em ócio. Essa advertência não é minha, mas de um conterrâneo sertanejo do Lula, que canta: "Ô doutor uma esmola/para um homem que é são/ou lhe mata de vergonha/ou vicia o cidadão".
As quotas "unipobres" produz um estudante de segunda classe, despreparado e humilhado por outros alunos de primeira classe. Sem falar que essas quotas causam uma gradual perda de qualidade no ensino público universitário. Já o Prouni não passa de uma gradual privatização do ensino público, operado de forma oblíqua, transferindo recursos financeiros para o setor privado da educação. Duas pérolas do populismo lulista.
Agora fica fácil entender os verdadeiros propósitos da "Nova Gramática Companheira". Ela, conjuntamente com os outros instrumentos acima citados, objetiva uma estratificação social virtual, no campo do simbólico, passando a falsa idéia para a população de um crescimento econômico, social e cultural. E o pobre coitado, embriagado por um individualismo do tipo "tudo posso", torna-se mais urbanizado, deixando de lado o "nois vai", para assumir o triunfalista "a gente vamos". Vive o carnaval 365 dias por ano, assumindo um personagem deslocado, trôpego, hilariante, um Tiririca entre muitos, sem ter a consciência que é um trágico-cômico personagem cada vez mais distanciado das elites que o manipulam e proprietárias da gramática culta e oficial. Essa é a diferença de "a gente podemos" para "nós podemos".
Quanto a você, Lula, vou lhe mandar uma mensagem com base nas novas regras da "Nova Gramática Companheira":
"Cumpaeiro, nois num deve afanar santo do palácio. Nois pode ir pô inferno. O santo se vinga e faz nois comer bosta com o Coisa Ruim. Diga a D. Mariza pra devolver as pinturas, as facas que ela surupiou da casa feia. Padim Ciço deve tá avexado com vosmiçe. Que é isso, Cumpaeiro!!!
IVAN BEZERRA DE SANT ANNA
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