Vá em paz, Araripe. Os caminhos são infinitos e os desafios permanentes. Você sempre fez a diferença com coragem e humor, desafiando uma sociedade preconceituosa e hipócrita. Você deixou seus poemas e siga sempre em busca da poesia tão amada, ansiada e fugidia, pois a poesia, caro poeta, é a vida vivida, estofada pelos sonhos e eternamente infinita na sua verticalidade radical. Vai deixar a saudade por sua ausência, e muita alegria no coração daqueles que acreditam no eterno caminhar. Você não vai voltar, mesmo com a torcida dos que acreditam no retorno. Não olhe para trás; abra suas portentosas asas de albatroz, sinta o vento, e dê volteios, piruetas, atravesse as nuvens, brinque com as estrelas e arranque com doçura em busca da poesia.
Nesse momento, poeta, como já disse um camarada das andanças poéticas, os sinos dobram para você, como lágrimas que tombam, como aplausos que saúdam. Você morreu? Bem, "se a morte é a curva da estrada e morrer é só não ser visto", como disse o grande poeta Pessoa, acalenta-me olhar o mar, lembrando das palavras marítimas do Neruda:
Morro em cada onda cada dia.
Morro cada dia em cada onda.
Mas o dia não morre
nunca.
Não morre.
E a onda?
Não morre.
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