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domingo, 9 de agosto de 2015

Meus irmãos...

Meus irmãos...

Essas foram suas últimas palavras que proferiu ao tombar da tribuna em uma tarde festiva no dia consagrado a São João, o padroeiro das festas juninas que lhe emprestara o nome de chegada e de partida. Se o seu coração resolveu parar de bater, desfalcando a orquestra de zabumbas juninas, ouço, ainda hoje, os ecos sonoros de humanidade que eram germinados pelos seus punhos guerreiros e por seus poemas embebidos pela seiva da vida autêntica.

Era de um tempo em que as cores rubras significavam esperança por um mundo melhor, igualitário e mais fraterno, e não o engodo, o roubo dissimulado das esperanças de um povo sofrido pela exploração. Havia muita dor, mas a esperança da caixa de Pandora era mantida intacta, protegida da ganância dos ladrões  noturnos que negavam a evidência solar, pois na noite, "todos os gatos são pardos". Era uma época de dor e esperança, diferentemente da atual, permeada pelo pós-niilismo dos gatunos esperançosos.

Com mais da metade da minha jornada existêncial transcursa, percebo, finalmente, que não tenho saudade de ti,  por uma simples e sigela razão: você nunca se foi, e se ergo o punho, rascunho palavas, sofro com as dores do mundo, alegro-me com o florescer de um sorriso de uma criança e homenageio diuturnamente à centralidade essencial das mulheres, faço-o, em parte, impulsionado pelas cordas ressoantes do seu coração.

Obrigado, meu irmão, por me fazer enxergar que a verdade não se encontra nas dissonâncias dramáticas do Real e nem nos sonhos idílicos das fantasias imaginadas, mas de mãos dadas com Dionísio e Apolo, no transcurso do dia e a noite, no crepúsculo avermelhado, no caminho que quer caminho.

Ivan Bezerra de Sant' Anna


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