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sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

7 é maior que 93?

7 é maior que 93? 



Como simples comparação aritmética a resposta é  óbvia e evidente, pois os números são ordenados de forma crescente, e dessa maneira, 1 é maior que 2... etc. No entanto, os números expressam grandezas substanciais que são valorados   conforme seus pesos valorativos e ideológicos. Entenderam? Não? Calma, amigos, eu também estou perplexo, mas, infelizmente, essa álgebra vige solenemente em nosso Brasil varonil. Se essa estranha lógica foi inventada na Grécia antiga por Protágoras, o sofista, (o papai celular de todos os advogados) no Brasil ela foi amplamente cultivada, ornada e dissimulada por vários nomes pomposos. Há que afirme que essa tendência de mudar a ordem das coisas foi uma herança lusitana, e o amigo Zé do Mercado relata que em Sergipe existia uma pessoa que fazia uso dessa lógica aritmética com muito brilho e glamour. O nome dele era Cobrinha e era presidente de um time de futebol chamado Atlético Futebol Clube. Seu time invariavelmente perdia, mas o velho Cobra, usando a Lógica Data Vênia, (era assim que ele denominava o seu raciocínio) conseguia argumentar que os gols do adversário tinha sido ilegais e transformava os impedimentos do ataque do seu time em gols válidos. Assim, por exemplo, se o Atlético perdia pelo placar de 4x0, quando ele aplicava a Lógica Data Vênia, o glorioso Atlético acabava vencedor por 7x2. Nesse caso, "0" não é maior que "4"?

Espantados? Não fiquem! Esperem e leiam até o final dessas "mal traçadas linhas". Sabem o que é o maior problema da nossa Democracia? Acreditem, é essa lógica aritmética Data Vênia, pois um simples cálculo aritmético tem o poder de criar a gênese democrática ou  construir uma farsa.  A primeira idéia geratriz da Democracia é uma simples fórmula aritmética que dá equivalência às pessoas na construção do Poder: "para cada pessoa um voto". Essa simples fórmula foi aplaudida pelos pensadores da Democracia, desde de Atenas democrática, até os atuais publicistas políticos. O núcleo mínimo gerador do Poder é o indivíduo e não grupos, corporações, como sonhavam os cultuadores do corporativismo fascistas. Todos os países de democracia avançada respeitam essa singela fórmula, pois quando no passado tentaram usar sofisticadas fórmulas que desigualavam os cidadãos na construção e manutenção do Poder, pagaram um preço trágico. Convém não despertar a ira adormecida do além, a santa irá de um Jefferson, Montesquieu, Alexis de Tocqueville e tantos outros que contribuíram para a construção da Democracia. O preço pode ser alto demais.

E qual foi a fórmula que os nossos pais da Constituição "Cidadã"  escolheram para fixar o núcleo gerador do Poder? Será que nossos "constituintes" - muitos deles biônicos - escolheram a simples fórmula da igualdade, como assim fizeram os constituintes das Constituições do países de Democracia avançada?  Que acham? Fazendo as contas das distribuições de cadeiras parlamentares por Estado e vinculando-as à população residente, usando uma regra de três para auferir a proporcionalidade e.... Eureca! Uma pessoa que mora no Piauí elege proporcionalmente muitos mais deputados federais do que um eleitor Paulista! Seu voto vale por quarenta votos paulistas! Pasmo, me indaguei: e a fórmula universalmente aceita "de cada cidadão um voto"? Cadê ela? Lamentavelmente percebi que os nossos constituintes democráticos tinham copiado a fórmula do voto qualitativo por território que os militares ditadores inventaram sob a inspiração da sorrateira lógica Data Vênia. Mas isso é  o famigerado voto censitário pelo avesso, pensei. Um pobre nordestino é mais cidadão do que um miserável paulista, e isso pode ser a gênese do Poder democrático? Em uma verdadeira República a resposta é evidentemente negativa, mas em uma republiqueta macunaímica, onde as elites comandam um teatro de marionetes, tudo é possível.

Então, caros leitores, "em nossa pátria tão subtraída por numerosas transações", tudo é possível. Aqui o real encontra-se encoberto pelo manto sombrio da noite, e o que é exposto ao mundo solar é apenas farsa. Se algum pintor de real talento fosse retratar a nossa musa da Democracia, não seria a vigorosa mulher com seus seios desnudos,  da famosa pintura "A Liberdade Guiando o Povo" de Eugène Delacroix, mas uma dama de costumes fáceis, uma triste decadente prostituta. 

Dessa maneira, por que o espanto se treze homens de competências duvidosas, escolhidos por critérios inconfessáveis, sem o bafejo do Poder popular, rasgam a Constituição? Afinal, essa cocha de retalhos que alguns pomposos juristas chamam de Constituição Cidadã não já nasceu rasgada e violentada? Não é o apedrejamento o castigo de uma prostituta que vive no país da corrupção fundamentalista? Ora, caros leitores, não estranhem quando dez mil pessoas em uma avenida se transformam em cem mil ou quando 7% é maior que 93%, afinal, aqui vige a lógica aritmética Data Vênia.


Ivan Bezerra de Sant' Anna


Publicado no site http://www.facebook.com/ibezerra52;  e no Blog http://terradonunca-ibezerra.blogspot.com/




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