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terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Uma história da Índia

Uma história da India




Em uma província da Índia, local de rara beleza e de riquezas incalculáveis, vivia a bela princesa Najara, filha do poderoso Marajá Kinca. O soberano local era conhecido por sua sabedoria, pelo amor às artes, à filosofia, que evitava as soluções violentas das guerras de conquistas, preferindo os diálogos concessivos e cultivando a tolerância quanto as idéias divergentes, inclusive as religiosas.

Quando a Princesa chegou na idade do casamento, o Marajá realizou um encontro com todos os pretendentes da Índia e pediu a Princesa que observasse a todos, escolhendo, por fim, alguns dos disputantes que mais lhe agradava. E assim a Princesa fez. O Marajá reuniu os escolhidos pela Princesa e lhes disse: "vocês foram selecionados inicialmente pelos seus dotes físicos e desempenho nos jogos de guerra, pois a Princesa foi também educada para ser uma grande guerreira, sendo um dos mais valorosos generais que tenho. Farei a vocês uma pergunta e a Princesa fará sua escolha. Em uma guerra, o que mais lhes cobre de honra sob o manto vistoso do orgulho?"

Todos os pretendentes relataram as suas conquistas territoriais, seus atos de bravura e a quantidade de guerreiros que mataram, variando apenas nas palavras superlativas e na densidade dramática da fluidez poética. No entanto, um dos pretendentes, o Príncipe Hizaz, manteve-se calado, fato esse que causou uma extrema curiosidade ao bom Marajá.

- Por que te calas, Príncipe Hizaz, lhe assusta a bravura guerreira da minha filha, ornada pelo véu da beleza sensual, a qual a mais linda e preciosa pérola se quedaria invejosa?

- Nada me causa temor, Alteza. No entanto, sinto que não estou à altura de ter a mão dessa linda guerreira portentosa. Tenho repúdio às guerras de conquistas e quando tenho que lutar com denodo para defender o meu povo, faço-o com pesar, pois ao matar uma pessoa, algo morre dentro de mim.

"Farei outra pergunta", exclamou o Marajá. "Em suas imaginações, ao primeiro contato com minha filha, o que farão: lhes ofertará  ricos e lindos presentes; ela será enebriada por lindos poemas que soam como  rouxinóis ao amanhecer; ou a lascívia da cama será seu destino?"

Todos se entreolharam perplexos com a indagação real e quase ao mesmo tempo, responderam: "com presentes e poemas, meu Príncipe".

Uma voz se ergueu trovejante: "como se trata uma linda amazona guerreira? Com a corrupção dos presentes valiosos, com sonetos de palavras ritmada que a fazem adormecer ou com o toque suave em sua face como uma borboleta descansando em uma rosa, com um beijo que funde a ternura com a lascívia e com o encontro dos corpos desnudos, enrolados pelo manto da fantasia?"

O silêncio se fez e os olhares pesados, assustados, melindrados, esfomeados, cravaram como dentes sedentos de um vampiro no rosto criança do Príncipe Hizaz. Nesse momento, uma voz suave, como se fosse exalada pela flauta de Pã, se fez presente:

- Por que estão assustados e belicosos, gentis cavalheiros? As palavras são como pássaros que dão volteios livres no imenso céu azul, portanto, deixe-as voar. Quanto a mim, tenho uma terna preferência por aqueles que param em minha janela, ofertando-me um recital, e entre suas sílabas sonoras e pausas significativas, me dizem: "sabe, Najara, um homem pode matar 100 inimigos e será chamado de grande guerreiro; pode ofertar ricos presentes e será denominado de um bom homem; pode ter a eloquência dos que amam as palavras e será filho da Poesia. No entanto, se ele salva uma vida em uma batalha, e reverencia a mulher como o centro do universo, envolvendo-a com o manto da fantasia e dos sonhos, será chamado de filho dileto de Deus."

Najara estendeu as mãos para o filho de Shiva...

Ivan Bezerra de Sant' Anna


Publicado no site http://www.facebook.com/ibezerra52;  e no Blog http://terradonunca-ibezerra.blogspot.com/






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