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domingo, 8 de julho de 2018

Lições da Copa

Lições da Copa



O Brasil foi derrotado pela Bélgica, e uma parte da esquerda - a famosa esquerdinha inconsequente, a mesma que mergulhou no caudaloso rio da corrupção - comemora entusiasticamente a desclassificação da “pátria com chuteiras”, entendendo que o futebol é o ópio do povo. Nada mais patético! Mas para esses agrupamentos que se dizem de esquerda, existe o bom e o mal ópio futebolístico. Na Copa de 2014, por exemplo, o futebol era um bom ópio, um momento de grandeza nacional, como suas obras superfaturadas e um “7X1”, ainda não bem explicado. Na minha modesta opinião, apesar do mal uso que a política faz do futebol, vejo nessa modalidade desportiva um implemento de integridade nacional, possibilitando a emergência da convicção de que se somos bons no futebol, deveremos ser verdadeiramente republicanos e campeões nas políticas públicas.

Não culpem o Tite. Ele foi um bom comandante, um técnico psicólogo que deu autoconfiança aos jogadores, tentando passar para os jogadores um sentimento de companheirismo e cumplicidade, embora encontrando grandes obstáculos, devido ao estrelismo e individualismo de alguns jogadores, comportamentos reforçados por uma parte da mídia irresponsável, algumas vezes motivadas por ajudas financeiras de patrocinadores de alguns jogadores estrelares, e para ser mais preciso, do “menino” Neymar. O menino que não é tão menino - a não ser que essa palavra refira-se à imaturidade e não a sua idade - Neymar jogou abaixo das expectativas, e por mais que outros jogadores jogassem muito bem, como foi a caso do Coutinho, a mídia televisiva só observava o “menino prodígio” e as suas roladinhas teatrais no gramado. Quem sabe se a mídia o esquecesse um pouquinho, o “menino” não jogasse mais?

O nosso técnico que sempre seguiu a escola italiana de futebol do Sr.  Carlo Michelangelo Ancelotti que sempre primou pela cautela defensiva e os ensaios de jogadas. Mas no Brasil, ninguém é o que diz ser, e as concessões do Sr. Tite e o seu coração apaixonado, o levaram   a uma receita de uma pizza à brasileira de sabores agridoces: pizza à Guardiola e Ancelotti. Evidentemente, ser um seguidor do Sr. Ancelotti com toques à Guardiola pode ser extremamente eficaz, no entanto, mesmo com esse requinte, nenhum treinador por mais audaz que seja, ao perder seu cão de guarda Casemiro, enfrentando um excepcional setor ofensivo como o da Bélgica, jamais iria jogar com o medíocre lateral Fagner e com um meio campo formado por Paulinho, Fernandinho e Coutinho. Sem Casemiro, era o momento de ser mais Ancelotti, colocando Fred ao lado de Coutinho e Fernandinho, tornando o setor de meio campo mais consistente defensivamente. Se estivesse seguindo o Mestre, não usaria um falso camisa nove, principalmente para ser essa função  desempenhada por um garoto com menos de vinte anos, ainda sem o talento necessário para o desempenho ousado de um um primeiro atacante flutuante . Mesmo o Brasil sendo carente de  atacantes de referência, Firmino possuía  melhores características para o desempenho dessa função. Eleger Gabriel como um dos culpados pela derrota não homenageia a honestidade, assim como culpar Fernandinho por um lance infeliz e pelo seu posterior desempenho, é não enxergar os erros de comando nas opções pretéritas, consequentemente, o quanto é necessário mudar, tanto na concepção individualista dos nossos jogadores, quanto no trabalho estrutural e organizativo da Seleção brasileira.

Querem culpados? Por que não começar por uma mídia televisiva, recheada de analistas de “meia tigela”, alguns fazendo a famosa jabá em troca de alguns dólares, e outros tantos distribuindo conselhos que reproduzem a cultura macunaímica do individualismo possessivo, a ressuscitada “lei de Gerson”? Um certo analista da FOX, ao examinar o lance que deu origem ao segundo gol belga, declarou que o jogador brasileiro foi um incompetente por não derrubar Romelu Lukaku, o que ele denominou de falta tática. Parece um Fake absurdo, mas não é! Esse “analista” aconselha que os jogadores cometam uma atitude antidespotiva, um comportamento que viola as regras futebolistas para levar vantagem, com a desculpa que outros jogadores fazem. Com o uso dessa teoria do ilícito justificado, o nosso ilustre jornalista, por conseguinte, deve também defender a compra de votos justificada ou o roubo tático do erário público por parte da maioria dos políticos brasileiros. Afinal, ao que parece a esse jornalista - muitos outros concordam com ele - só deve existir ilícito ou crime se não for justificado, e como tudo pode ser justificado sob o ângulo dos nossos interesses, então, como afirmava Paulo de Tarso, a lei existe para ser transgredida.

Mesmo com erros e acertos, a Seleção brasileira poderia ser campeã mundial com todos os méritos. A Bélgica não foi mais organizada ou mais talentosa que a nossa Seleção. Infelizmente, um jogo infeliz pode determinar a sorte de uma grande Seleção, como se passou com a Seleção espanhola e tantas outras. Um campeonato que pode ser resolvido em um jogo não avalia quem é o melhor, mas apenas é um torneio festivo que, no máximo, avalia a organização tática e a estabilidade emocional dos jogadores em um confronto de “mata-mata”, que se desenvolve sob forte tensão emocional. Em 1950, perdemos para a fraca e aguerrida Seleção uruguaia. Em 1954, a melhor seleção do mundial, a poderosa Hungria,  perdeu para a fraca e organizada Alemanha. Em 1974, a maravilhosa Seleção que encantou o mundo, a Holanda, perde o mundial para a disciplinada Alemanha. Em 1982, a Seleção brasileira encantava ao mundo com seu talento, mas, em um jogo infeliz, foi eliminada pela seleção italiana.  Em 1998, a Seleção brasileira era considerada a melhor equipe do Mundial, mas perdeu a final para a França, em um jogo onde a “infelicidade” não foi devidamente esclarecida. No entanto, uma indagação deve ser feita: quais as seleções que a história dignificou e os torcedores se lembram? Do Uruguai, Alemanha, Itália e França ou das monumentais seleções brasileiras, húngara  e holandesa? Como não sou um colecionador de bugingangas, prefiro a gloriosa lembrança da história do que um mísero caneco sem honra e merecimento. 

Que Tite continue com o seu trabalho, mesmo pressionado pela corrupção e de tantos interesses escusos, pois, afinal, o Brasil nunca foi uma república séria. No entanto, espero que o Tite ensine aos seus jogadores que, apesar das suas diferenças, a Seleção deve ser um espaço de diálogos, um templo onde se dá as mãos para o alcance de objetivos não são somente do grupo, mas de toda a nação brasileira. Quando uma seleção é um espaço simbólico de cidadania republicana, um território onde os egos são diluídos pelo companheirismo cúmplice, pode até não conquistar o Caneco, mas, com certeza, será sempre lembrada pela arte coletiva dos seus talentos, exemplificado pela Seleção brasileira de 1982, ou pela força coletiva dos guerreiros vikings da Seleção da Islândia. Assim, mesmo que ainda seja uma pequena ilha rodeada pelas confusas dissonância sociais, torna-se um importante momento de sinalização pedagógica para a nação.

Ivan Bezerra de Sant’ Anna


Publicado no site http://www.facebook.com/ibezerra52; http://ibezerra.xpg.com.br e no Blog http://terradonunca-ibezerra.blogspot.com/

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