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sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Democracia

Democracia



Podem me chamar de reacionário, de “quem te viu, quem te vê”, tentar destruir meu passado, pois são esses argumentos, essas palavras adjetivadas, facas com sílabas e ponto de interjeição, as vacinas que se protegem do terrível vírus da reflexão.

Alguns de vocês possivelmente podem ser mais inteligentes, mais preparados do que eu, mas não é isso que está em jogo. No tempo em que as sombras perversas toldavam à esperança, alguns ainda eram espermatozóides à busca de felizes acasalamentos; outros tantos, torciam para que a nossa marcha nunca chegasse à prometida seara democrática; restando, portanto, os mortos insepultos, os torturados nos porões da Ditadura  por pessoas que envergavam uma farda de um verde desbotado pela desonra, e esses últimos, no momento atual, quando me atingem com palavras cortantes, eu os entendo, pois vivenciaram dores terríveis que os fantasmas do passado os deixam em vírgília permanente, a insônia da paranoia dos que não podem dormir.

Eu durmo bem, camaradas, com a consciência em paz, confortada pelo travesseiro dos sonhos. Sempre dei o meu melhor, e mesmo acossado pelas tentações do enriquecimento fácil da corrupção, mantive-me firme, pagando um alto preço por essa resistência, contando os míseros recursos que pingam “aqui e acolá”, pois a perseguições daqueles companheiros da criação do PT, infelizmente, superaram às perseguições dos militares. Entretanto, nunca abaixei a cabeça para esses “neodemocratas”, talvez pelo sentimento da vaidade que se associou com a dignidade, consequentemente, nunca me vi com um pires nas mãos, de olhos rebaixados, esmolando cargos ou outra demanda qualquer.

Podem me acusar dos adjetivos mais peçonhentos, só não me venham com essa história de que devo votar no lulismo para salvar a Democracia. Peço que tenham um pouco de respeito pelo meu passado, isso se ainda em vocês respingam algumas gotas de dignidade. Eu sei e vocês sabem, embora embalados pela escola de samba da crença ou oportunismo, que Bolsonaro não representa perigo algum à Democracia, apesar das suas crenças ultrapassadas, mesclada pelo reacionarismo e intolerância, uma vez que ele representa apenas a crescente insatisfação do povo brasileiro aos conceitos “democráticos” do lulismo. Não o comparem a Mussolini ou a Hitler, com o simples intuito de assustar a população, pois vocês sabem que essa comparação é falsa, arguta e manhosa, servindo tão somente para agudizar esse maniqueísmo ridículo que usam para esconder às reais intenções da “Democracia lulista”. Aliás, quando a grande mídia entra em formação de guerra em defesa de Haddad e seus padrinho, o odor da lixeira denúncia a podridão já indisfarçável, simbolizando que a Irmandade corrupta se realinha com FHC, Lula, Renan, Sarney, Temer, todos no mesmo caçoar, todos contra o “fascismo” do Bolso.

Os novos conceitos de um fascismo sem o Fascio, infestam os canais de TV, os grandes jornais, com documentários sobre o nazismo, entrevistas com intelectuais que no passado cultuavam a dignidade e o respeito aos conceitos científicos e filosóficos, mas, que no presente, em quase nada diferem daquelas pessoas que ficam nos semáforos com bandeiras partidárias. Vaidosos, eternos frustrados, alguns defendendo seus cargos,  eles conseguem perceber traços do fascismo nas declarações homofóbicas, machistas e e autoritária do ex-capitão, no entanto, são cegos para alguns deslizes fascista do lulismo, como, por exemplo, o desprezo pelo processo democrático com a prática do mensalão ou ao culto personalístico de um homem que diz estar nas células de todos nós. Assim, como não poderia ser diferente, essa Frente antifascista que consegue arrancar lágrimas ingênuas, não passa de uma grotesca piada.

Se existe alguma Democracia a ser salva, essa se reduz aos vestígios que sobraram da sanha perversa do lulismo, depois do vendaval mensalício que corrompeu a representação congressual, das roubalheiras nas estatais e em estranhas práticas subterrâneas de dar sumiço em opositores, sejam na modalidade “assalto seguido com morte”, aviões que caem, ou facadas de um louco. Desta forma, mesmo comendo hóstia, vestindo-se de verde, prometendo “mundo e fundos”, o Sr. Haddad e seu padrinho Lula não podem se dar ao crédito de salvadores de uma democracia que eles ajudaram a destruir. Não adianta o insuficiente “arrependimento” que eles timidamente esboçam, pois todas as pessoas de bom senso percebem a perfídia da mentira e da simulação. Mentira originada quando um grupo de grandes empresas corruptas se associaram com Lula e José Dirceu, formando a Irmandade lulista, encobertos sob o manto de um socialismo pálido, que tinham como o único objetivo saquear o erário público e aparelhar as instituições republicanas, manipulando-as com práticas fascistas sem ideologia, a serviço dos interesses egocêntricos de um capitalismo selvagem e desonesto.

Qual dos dois candidatos são defensores da Democracia como valor universal? Nenhum dois dois! A “democracia” do Lulismo, pelo visto, é um procedimento útil para a manutenção dos interesses da Irmandade, com a possibilidade do uso de qualquer instrumento nefasto, se ele for necessário para manutenção do Poder. Já Bolsonaro insiste em afirmar discursivamente que não acredita em uma Democracia embebida com conceitos liberais, a não ser os econômicos. E, dessa forma, quem é o melhor para a Democracia? O lulismo que já plantou as bases do aparelhamento, faltando completar o trabalho nas Forças Armadas, ou um neófito que apenas arrota preconceitos? O que preferem enfrentar, o cachorro que rosna e mostra os dentes ou aquele manhoso que lhe ataca sem aviso, o famoso cachorro que “morde de furto”? Como diz o ditado popular, do boi manso manhoso só Deus nos livra.

Percebo que é um grande dilema, principalmente para aqueles que sempre lutaram contra os preconceitos e a intolerância, como é o meu caso. Entretanto, o triunfo de Bolsanaro é vitória da face visível do reacionarismo; é a afirmação de uma  premissa indesejada para negar a outra de maior falsidade manhosa que se escondem do nosso olhar; é ter uma referência real e explícita do que não queremos; é ter um adversário visível que vai nos permitir ir às ruas para reorganizar os trabalhadores, uma negação ao oculto que vai nos permitir afirmações futuras. É a famosa operação lógica de Exu, nas palavras do sergipano Severo: “o orixá que faz o erro virar acerto e o acerto virar erro”.

Quiz a razão astuciosa da dialética nos colocar em um drástico dilema, e esse momento-verdade da escolha, as sutilezas da dialética podem revelar um caminho, não o caminho desejado ou aquele pavimentado pela mentira, mas a trilha tortuosa da Via Crucis da esperança que ressuscita, a nova tentativa do alpinista decaído em galgar a montanha do humanismo, e, paradoxalmente, somente a vitória de Bolsonaro pode nos oferecer. É “ver nos olhos da tragédia”, como dizia Vianinha, o brilho de bronze dos nossos erros, ao mesmo tempo, o fulgor da esperança. Os que entendem as “idas e vindas”, o princípio do eterno retorno ampliado do hegelianismo, aprovado nas lições de Lenin nos Cadernos Filosóficos, podem me compreender. Aos demais que joguem as pedras da intolerância, a censura dos patrulhamentos “ideológicos”, pois cada um dá o que tem. Já estou acostumado com essa falsa esquerda desde o tempo do velho PCB, quando éramos atacados como coniventes com a Ditadura militar pelos cultivadores da luta armada, um punhado de jovens cheios de hormônios e pouquíssimos conhecimentos nas cabeças. Alguns desses “revolucionários” viraram empresários gananciosos, e outros tantos, lulistas, o que no fundo, infelizmente, pode ser a mesma coisa.

Votem segundo vossas consciências, camaradas, mas não votem no lulismo. Não podemos nos resignar com o pior, pois a “banalização do mal é pior do que o próprio mal”, disse certa vez a filósofa judia Hannah Arendt.

Um certo dia incerto, adentrarei por mares transparentes só com a passagem de ida, pois assim é o espetacular mistério da vida. Nascemos e morremos! E quando for forçado a abandonar  esse maravilhoso espaço de tempo que a mim foi concedido, quero deixar para minha filha não os meus acertos, mas as minhas dúvidas perenes, a coragem de decidir, a inquietação pelo saber, a humildade serena em saber morrer sem olhar para trás, arrastando o meu baú de sonhos com o sentimento do dever cumprido.

Ivan Bezerra de Sant’ Anna

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