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domingo, 23 de dezembro de 2018

O Natal essencial

O Natal essencial

Uma manjedoura, um casal que fugia da espada de Herodes, um menino por vir. Possivelmente, nunca houve a estrela, três reis magos, animais que mugiam, mas uma fria gruta nos arredores da cidade de Belém, que, segundo Saramago, abrigou Maria com seu ventre volumoso, ao lado do carpinteiro José.

Ah, se Maria e José soubessem o que estaria por vir... Primeiro foi o pai José, depois o filho Jesus. Mudou-se apenas o local da execução, mas a Cruz foi a mesma, assim como foi o nome Maria que dignificou a trajetória da via Crucis: Maria de Nazaré, Maria de Magdala, Maria puta apedrejada, todas elas as Marias de Jesus. E ainda existem, nos dias atuais, milhões de machistas que se dizem cristãos, mas desconhecem e maltratam as Marias do mundo.

Em verdade, os machistas, os cultivadores do individualismo possessivo não só desconhecem a centralidade da mulher - o que fez Jesus eleger Maria de Magdala a sua apóstola maior -, como dão pouco importância ao simbolismo da multiplicação dos pães e dos peixes, momentos que Jesus enfatizava a solidariedade e a socialização dos bens essenciais. 

Eles procuram a religião, motivados pelo imenso pavor da morte, esse limite inescapável que é de todos os viventes, e que desconfio que é a curva da estrada que abre novos caminhos. Portanto, ante à promessa da morte, eles querem viver intensamente, e nesse preceito se incluem a lei do mais forte, o egoísmo de querer ter, uma amnésia que os fazem esquecer o essencialismo do cristianismo: a solidariedade das pessoas de boa vontade. 

“Onde está Deus e como faço para alcançar o Paraíso?”, uma indagação que fizeram a Jesus, e que até os dias atuais não se cansam de fazê-la, porque, ao que parece, a reposta do Mestre é, no mínimo, enigmática, levando-se em conta o jogo de exploração material que estão submetidos. Convenhamos que dá um nó nas cabecinhas desses viventes a resposta de Jesus, quando fala que Deus está onde três ou mais pessoas estiverem em solidariedade. “Deus está em mim, sou um pedaço de Deus?”, pensam assustados. Em verdade, as pessoas não convivem bem com a ideia que são um pedacinho de Deus - uma imensa responsabilidade! - preferindo que Ele esteja no alto Paraíso, pronto para perdoar as falhas dos filisteus egocêntricos, pois assim é mais prático e cômodo.

Já imaginaram, na atualidade, aparecer um místico que diz que o caminho do paraíso é largar todos os bens e segui-lo? Doido varrido, comunista safado, seguidor de Stálin, seriam as frases que acompanhariam as pedras punidoras. Alguém tem dúvida dessa afirmação? 

Muitas pessoas podem dizer, e com certa razão, que Jesus não é Deus, mas o filho dileto Dele. Ou afirmarem a existência de outras religiões que colidem com o cristianismo. Mas, certa vez, disse Gandhi que todas as religiões que encaram o ser humano com seriedade e respeito, trazem em seus bojos as sementes essenciais do humanismo solidário. Essa é uma verdade que eu acredito, e por pertencer a uma cultura que tem no cristianismo um dos seus sólidos alicerçeres, pois afirmar que sou cristão, afastando quaisquer vestígios do velho testamento judaico, guiando-me pelos exemplos das palavras e das práticas humanistas de Jesus.

Bom Natal para todos, lembrando, porém, que essa data não vive somente de festas, presentes e caridades momentâneas, mas, essencialmente, de um renovado olhar para o outro, lutando por direitos comuns à humanidade, buscando juntar ao nosso, o pequeno vestígio de Deus que existe em cada pessoa, e dia após dia, em um processo constante, construímos o verdadeiro Deus com a junção dos pedacinhos de todos, pois, desconfio, que no Paraíso, entra todos ou não entra ninguém, porque o Paraíso é o lugar de todos, ou melhor, de Deus. A verdade é que por nossas ações solidárias  ou egoístas, sempre estamos saindo e entrando Nele, embora a maioria das pessoas não percebam. Mas Jesus já sabia! Ao convidar a todos  largarem suas posses egoístas e lhe seguir, estava ele definindo o Paraíso.

Ivan Bezerra de Sant Anna

terça-feira, 6 de novembro de 2018

O que falam os votos Uma vitória quase impossível", dizem os votos, levando-se em conta a falseada democracia brasileira torturada e distorcida pelo fisiologismo e a compra de votos. Uma vitoria de David contra o Golias? Não vamos chegar a tanto - se bem que o Bolsonaro é fã incondicional do povo judeu -, mas, convenhamos, a disparidade de forças era imensa, pois do lado adversário estavam a grande mídia, aliados poderosos e maquinas estatais que trabalharam a todo vapor. Mesmo assim, o candidato que arrotava preconceitos de todas matizes, ganhou com relativa folga. Como explicar esse fenômeno, o mito Bolsonaro? Sem querer tirar seus méritos - desde de já o parabenizo -, sou da opinião que o mito Bolsonaro é uma criação do lulismo, um ente gestado por irresponsabilidade do criador, e para quem acredita que o sr. Bolsonao é um filhote das trevas, uma ""Coisa" inominável, a bela e terrível historia da romancista inglesa Mary Shelley cai como uma luva de pelica em mãos frias. Vejam bem: ao tentar alcançar a imortalidade. Victor Frankenstein criou um mito deformado, rancoroso e deprimido, uma criatura que se volta contra o seu criador. No entanto, Lula não é o Dr. Frankenstein e nem o Bolsonaro é a criatura bizarra da romancista inglesa, mas um homem comum que, até pouco tempo atrás, era uma caricata piada de mal gosto que alimentava o rico manancial das anedotas políticas do Congresso Nacional. E como esse homem simplório se tornou mito? A resposta não é simples, embora seja cristalino alguns elementos formativos, nesse caso, pode-se usar como metáfora, a tenebrosa historia da Mary Shelley, que ressalta a tormentosa questão da responsabilidade no fazer humano. Nós o criamos! E quando digo "nós", me refiro a aqueles que usaram as nossas bandeiras para encobertar os seus atos sórdidos, que tinham por objetivo maior o controle das instituições republicanas e o enriquecimento de um grupo de políticos e empresários desonestos, conhecido nas paginas policiais dos jornais como a Irmandade. Eles destruiram com o aliciamento das compras de parlamentares a frágil e arquejante democracia brasileira, e agora chamar o Bolsonaro de antidemocrático - isso soa como piada -, pois o candidato eleito, no máximo, quer terminar a obra que o lulismo começou, mas sem fazer uso das vestes camaleônicas. De onde vem as ideias privatistas do Sr. Bolsonaro? Em parte vem de um convencimento ideológico que lhe fora incutido, mas, convenhamos, assistir aulas práticas de como transferir os recursos financeiros públicos para o setor privado da educação através do Prouni é meio caminho ofertado, é um excelente convite à continuação do processo. E a excelente aula sobre o uso do BNDES para financiar - sem pagar a referida benesse - o falseado capitalismo brasileiro? É que falar das inúmeras terceirizações dos nossos “socialistas” tupiniquins? O mais gritante foram as privatizações camaleônicas e corruptas, efetuadas nas Empresas estatais, deixando-as prontinhas para serem totalmente privatizadas sob os aplausos da maioria da população, revoltada com a “ineficiência” dessas empresas. Aulas não faltaram ao senhor Bolsonaro! Ele agora está pronto para avançar nas terras amazônicas e transformá-las em pastos, uma vez que assistiu o presidente Lula fechar os olhos para o crescente desmatamento da floresta e para a enorme dívida de mais de um trilhão de reais do setor ruralista, uma omissão aplaudida pelo seu filhinho que é um dos grandes latifundiários da região. Mesmo contra um dos princípios reitores seguido em todos países desenvolvidos da Europa, o Sr. Bolsonaro acha que a saúde das pessoas deve ser objeto de mercado, seguido a lei da oferta e da procura, preceito que causa arrepios em pessoas que cultivam um mínimo de solidariedade humana. Entretanto, ele só foi uma pessoa muito atento às práticas lulistas,percebendo o descalabro malandro da saúde pública, e se alguém discorda dessa afirmação é só verificar a destruição do sistema público de saúde nos governos Lula/Dilma, da imensa corrupção que desviou os recursos financeiros da saúde pública, com compras adulteradas por preços valorizados ou contratos pagos sem as respectivas entregas da mercadoria. Um pequeno exemplo do que afirmo é o súbito enriquecimento de ex-secretários da saúde de alguns Estados que o lulismo governou, que se elegeram com votos comprados à Prefeitos dos interiores. Como grande admirador dos EUA e do povo de Israel - ainda afirmam que ele é Nazista! -, segundo declaram alguns, o Sr. Bolsonaro está ávido para entregar as nossas riquezas nas mãos do mercado financeiro internacional, dando flexão aos direitos trabalhistas para atrair investimentos para o País. Embora com seu estilo disfarçado, Lula foi um bom professor, ou estou equivocado quando li uma entrevista do Sr. Emilio Oderbrect, declarando que Lula foi o melhor presidente para o empresariado? Se bem que o empresariado a que um dos chefões da Irmandade se refere são as empresas da construção civil, os Bancos, as empresas educacionais e de medicina, que se beneficiaram bastante nos governos lulistas. O próprio Lula que antes falava da grande injustiça da despedida imotivada constante na CLT, após ser presidente, começou a usar o termo “empregabilidade”, um dos conceitos reitores do neoliberalismo. Os votos assim falaram, mas os seguidores do lulismo fingem que não ouvem, e se precipitam com manifestações “antifascistas”, agora com a liderança guerreira de Boulos, um intelectual que imita a voz rouca e os gestos do Chefe para se credenciar à sucessão da coroa. Vamos estar de alerta e esperar os atos do candidato eleito, que, queiram ou não, é o Presidente do povo brasileiro. Mas se precisarmos ir às ruas, que não nos acompanhe os lulistas, porque se isso acontecer, perderemos total credibilidade junto à população que através da urnas disse um sonoro NÃO ao lulismo.

 Ivan Bezerra de Sant’ Anna

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Democracia

Democracia



Podem me chamar de reacionário, de “quem te viu, quem te vê”, tentar destruir meu passado, pois são esses argumentos, essas palavras adjetivadas, facas com sílabas e ponto de interjeição, as vacinas que se protegem do terrível vírus da reflexão.

Alguns de vocês possivelmente podem ser mais inteligentes, mais preparados do que eu, mas não é isso que está em jogo. No tempo em que as sombras perversas toldavam à esperança, alguns ainda eram espermatozóides à busca de felizes acasalamentos; outros tantos, torciam para que a nossa marcha nunca chegasse à prometida seara democrática; restando, portanto, os mortos insepultos, os torturados nos porões da Ditadura  por pessoas que envergavam uma farda de um verde desbotado pela desonra, e esses últimos, no momento atual, quando me atingem com palavras cortantes, eu os entendo, pois vivenciaram dores terríveis que os fantasmas do passado os deixam em vírgília permanente, a insônia da paranoia dos que não podem dormir.

Eu durmo bem, camaradas, com a consciência em paz, confortada pelo travesseiro dos sonhos. Sempre dei o meu melhor, e mesmo acossado pelas tentações do enriquecimento fácil da corrupção, mantive-me firme, pagando um alto preço por essa resistência, contando os míseros recursos que pingam “aqui e acolá”, pois a perseguições daqueles companheiros da criação do PT, infelizmente, superaram às perseguições dos militares. Entretanto, nunca abaixei a cabeça para esses “neodemocratas”, talvez pelo sentimento da vaidade que se associou com a dignidade, consequentemente, nunca me vi com um pires nas mãos, de olhos rebaixados, esmolando cargos ou outra demanda qualquer.

Podem me acusar dos adjetivos mais peçonhentos, só não me venham com essa história de que devo votar no lulismo para salvar a Democracia. Peço que tenham um pouco de respeito pelo meu passado, isso se ainda em vocês respingam algumas gotas de dignidade. Eu sei e vocês sabem, embora embalados pela escola de samba da crença ou oportunismo, que Bolsonaro não representa perigo algum à Democracia, apesar das suas crenças ultrapassadas, mesclada pelo reacionarismo e intolerância, uma vez que ele representa apenas a crescente insatisfação do povo brasileiro aos conceitos “democráticos” do lulismo. Não o comparem a Mussolini ou a Hitler, com o simples intuito de assustar a população, pois vocês sabem que essa comparação é falsa, arguta e manhosa, servindo tão somente para agudizar esse maniqueísmo ridículo que usam para esconder às reais intenções da “Democracia lulista”. Aliás, quando a grande mídia entra em formação de guerra em defesa de Haddad e seus padrinho, o odor da lixeira denúncia a podridão já indisfarçável, simbolizando que a Irmandade corrupta se realinha com FHC, Lula, Renan, Sarney, Temer, todos no mesmo caçoar, todos contra o “fascismo” do Bolso.

Os novos conceitos de um fascismo sem o Fascio, infestam os canais de TV, os grandes jornais, com documentários sobre o nazismo, entrevistas com intelectuais que no passado cultuavam a dignidade e o respeito aos conceitos científicos e filosóficos, mas, que no presente, em quase nada diferem daquelas pessoas que ficam nos semáforos com bandeiras partidárias. Vaidosos, eternos frustrados, alguns defendendo seus cargos,  eles conseguem perceber traços do fascismo nas declarações homofóbicas, machistas e e autoritária do ex-capitão, no entanto, são cegos para alguns deslizes fascista do lulismo, como, por exemplo, o desprezo pelo processo democrático com a prática do mensalão ou ao culto personalístico de um homem que diz estar nas células de todos nós. Assim, como não poderia ser diferente, essa Frente antifascista que consegue arrancar lágrimas ingênuas, não passa de uma grotesca piada.

Se existe alguma Democracia a ser salva, essa se reduz aos vestígios que sobraram da sanha perversa do lulismo, depois do vendaval mensalício que corrompeu a representação congressual, das roubalheiras nas estatais e em estranhas práticas subterrâneas de dar sumiço em opositores, sejam na modalidade “assalto seguido com morte”, aviões que caem, ou facadas de um louco. Desta forma, mesmo comendo hóstia, vestindo-se de verde, prometendo “mundo e fundos”, o Sr. Haddad e seu padrinho Lula não podem se dar ao crédito de salvadores de uma democracia que eles ajudaram a destruir. Não adianta o insuficiente “arrependimento” que eles timidamente esboçam, pois todas as pessoas de bom senso percebem a perfídia da mentira e da simulação. Mentira originada quando um grupo de grandes empresas corruptas se associaram com Lula e José Dirceu, formando a Irmandade lulista, encobertos sob o manto de um socialismo pálido, que tinham como o único objetivo saquear o erário público e aparelhar as instituições republicanas, manipulando-as com práticas fascistas sem ideologia, a serviço dos interesses egocêntricos de um capitalismo selvagem e desonesto.

Qual dos dois candidatos são defensores da Democracia como valor universal? Nenhum dois dois! A “democracia” do Lulismo, pelo visto, é um procedimento útil para a manutenção dos interesses da Irmandade, com a possibilidade do uso de qualquer instrumento nefasto, se ele for necessário para manutenção do Poder. Já Bolsonaro insiste em afirmar discursivamente que não acredita em uma Democracia embebida com conceitos liberais, a não ser os econômicos. E, dessa forma, quem é o melhor para a Democracia? O lulismo que já plantou as bases do aparelhamento, faltando completar o trabalho nas Forças Armadas, ou um neófito que apenas arrota preconceitos? O que preferem enfrentar, o cachorro que rosna e mostra os dentes ou aquele manhoso que lhe ataca sem aviso, o famoso cachorro que “morde de furto”? Como diz o ditado popular, do boi manso manhoso só Deus nos livra.

Percebo que é um grande dilema, principalmente para aqueles que sempre lutaram contra os preconceitos e a intolerância, como é o meu caso. Entretanto, o triunfo de Bolsanaro é vitória da face visível do reacionarismo; é a afirmação de uma  premissa indesejada para negar a outra de maior falsidade manhosa que se escondem do nosso olhar; é ter uma referência real e explícita do que não queremos; é ter um adversário visível que vai nos permitir ir às ruas para reorganizar os trabalhadores, uma negação ao oculto que vai nos permitir afirmações futuras. É a famosa operação lógica de Exu, nas palavras do sergipano Severo: “o orixá que faz o erro virar acerto e o acerto virar erro”.

Quiz a razão astuciosa da dialética nos colocar em um drástico dilema, e esse momento-verdade da escolha, as sutilezas da dialética podem revelar um caminho, não o caminho desejado ou aquele pavimentado pela mentira, mas a trilha tortuosa da Via Crucis da esperança que ressuscita, a nova tentativa do alpinista decaído em galgar a montanha do humanismo, e, paradoxalmente, somente a vitória de Bolsonaro pode nos oferecer. É “ver nos olhos da tragédia”, como dizia Vianinha, o brilho de bronze dos nossos erros, ao mesmo tempo, o fulgor da esperança. Os que entendem as “idas e vindas”, o princípio do eterno retorno ampliado do hegelianismo, aprovado nas lições de Lenin nos Cadernos Filosóficos, podem me compreender. Aos demais que joguem as pedras da intolerância, a censura dos patrulhamentos “ideológicos”, pois cada um dá o que tem. Já estou acostumado com essa falsa esquerda desde o tempo do velho PCB, quando éramos atacados como coniventes com a Ditadura militar pelos cultivadores da luta armada, um punhado de jovens cheios de hormônios e pouquíssimos conhecimentos nas cabeças. Alguns desses “revolucionários” viraram empresários gananciosos, e outros tantos, lulistas, o que no fundo, infelizmente, pode ser a mesma coisa.

Votem segundo vossas consciências, camaradas, mas não votem no lulismo. Não podemos nos resignar com o pior, pois a “banalização do mal é pior do que o próprio mal”, disse certa vez a filósofa judia Hannah Arendt.

Um certo dia incerto, adentrarei por mares transparentes só com a passagem de ida, pois assim é o espetacular mistério da vida. Nascemos e morremos! E quando for forçado a abandonar  esse maravilhoso espaço de tempo que a mim foi concedido, quero deixar para minha filha não os meus acertos, mas as minhas dúvidas perenes, a coragem de decidir, a inquietação pelo saber, a humildade serena em saber morrer sem olhar para trás, arrastando o meu baú de sonhos com o sentimento do dever cumprido.

Ivan Bezerra de Sant’ Anna

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

O senhor do tempo

O senhor do tempo

No mínimo, o tempo curva-se para o senhor Lula. Incrível! Tempo cronológico? Não! Um tempo mítico e torcido à sua vontade! Ao escolher o momento temporal que deseja, tal como nos filmes de viagens no tempo, ele reescreve a história segundo às suas conveniências.

Querem exemplos? Durante a Ditadura Militar, ele se manteve calado, omisso, até o começo do governo Figueiredo, preocupado em se consolidar como liderança sindical e tecendo acordos com o Gal. Golbery. Entretanto, nesse momento, ele reescreve a história, se dizendo grande democrático e inimigo da tortura.

Possivelmente, o sr. Lula nunca se preocupou com a memória e com os torturados, uma vez que inflou o seu grupo de aliados com pessoas que foram proeminentes na sustentação da Ditadura Militar, como foi o caso do seu vice-presidente, o sr. Alencar, acusado de financiar o grupo de torturadores do delegado Sergio Paranhos Fleury.

Aliás, torturas e torturados sempre foram uma constante em sua vida, um carma que lhe persegue sem lhe dar descanso, pois, segundo informações periciais, o seu ex-companheiro Celso Daniel foi barbaramente torturado antes de ser executado, e quem sabe, talvez para revelar onde estavam os documentos que comprovavam a existência de uma rede de corrupção, que, segundo as línguas bem informadas, aquela mesma que comandou o mensalão.

Nesse momento, o ventríloquo pelo seu boneco fala em Democracia, aplaudido pela grande mídia - a Rede Globo passou a ser a queridinha -, e pela mágica do tempo circular, os “golpistas” Temer, Renan e FHC agora são companheiros democráticos. Todos contra o “fascista” Bolsonaro, todos pela Democracia, mesmo que seja a Democracia mensalícia, aquela que o cachorro se disfarça e morde de furto.

Como o grande chefe, o mágico, o iluminado, faz suas magias, os seus seguidores também aprendem fazer. Então o nosso Geraldo Azevedo resolveu fazer uma viagem regressiva, uma pequena torção no tempo, e no ano de 1969 se viu torturado pelo General Mourão, aproveitando um show, resolveu divulgar essa nova criação histórica. Claro que o nosso Geraldo é um artista criativo, mas essa torção Canabis do tempo deve ter deixado o falastrão general revoltado, pois na época ele apenas tinha dezesseis aninhos, e se fazia alguma peraltice, no máximo, torturava a paciência dos seus pais.

Falando em viagem pelo tempo, isso me faz lembrar da minha infância e de um acontecimento que sempre se repetia. Naquela época existia muitos cachorros de rua, sendo que dois deles eram muito peculiares. Um deles apelidamos de Raivoso e o outro de Fuleiro. Raivoso era um cão raceado com policial, muito agressivo, e toda vez que chegávamos perto, ele rosnava, mostrava os dentes e partia para cima. Não tínhamos medo dele, pois estávamos sempre preparados para recebe-lo com pedras e paus. Já Fuleiro, esse sim, era muito perigoso, pois se fingia de bonzinho, com olhinhos tristes, mas quando devamos as costa, ele tacava a mordida e saia correndo. Fuleiro era muito fuleiro! Dessa maneira, sentimos vingados toda vez que Raivoso lhe dava umas boas mordidas, fazendo-o desaparecer por uns tempos. Um dia, a carrocinha levou Fuleiro e todos nós comemoramos, pois, até que fim, poderíamos andar na rua sem maiores preocupações. Mas, Raivoso ficou triste, muito triste, em uma depressão que fazia dó. Acho que Raivoso ficou com saudade das mordidas que dava em Fuleiro.

Essa historia sem torções fez acontecer uma explosão associativa, e como domingo é dia de eleição, sou tentado a perguntar: vocês vão votar em Raivoso, no Fuleiro, ou em nenhum?

Ivan Bezerra de Sant' Anna
 



segunda-feira, 22 de outubro de 2018

A palhaçada do zap-zap

A palhaçada do zap-zap

A ação impetrada pelo candidato do lulismo, o Sr. Haddad, talvez demonstre o conceito pragmático que certos “liberais” têm da Democracia. Que esse senhor deseja? Demostrar que está havendo uma ilegal influência econômica? Bom, se for isso, fica muito difícil comprovar, pois existem inúmeras empresas, pessoas, que estão investindo em seus candidatos de maneira autônoma, como é o caso dos seguidores do Sr. Haddad, que infestam as mídias sociais com propagandas de todos os tipos, inclusive os já famosos “fakes”. Para separar o joio do trigo, seria necessário uma longa investigação técnica, e, por fim, um processo de grande complexidade cognitiva por parte do judiciário. Não seria melhor investigar a famosa e histórica compras de votos, um fenômeno visto a olho nu, prática corrompedora  do processo democrático que continua elegendo inúmeros candidatos, inclusive os do PT? Mas isso seria colocar sua cabeça na guilhotina, não, Sr. Haddad?

As mentiras - lembrei-me que se continuar usando a palavra “Fake”, Ariano Suassuna vem me puxar pela perna - divulgadas na net ou em qualquer mídia tradicional, são, em países de democracia avançada, uma prática aceita, pois fazem parte de um conjunto de opinões que são direcionadas às pessoas que assumem o ônus da personalização pública, sendo extremamente difícil separar o “joio do trigo”, quase sempre ultrapassando o tênue limite entre opinião e o delito, causando graves traumas para o sagrado direito de informar e ser informado, um dos pilares maiores da Democracia liberal. Não é sem propósito  que a abundante doutrina e julgados nos países verdadeiramente democráticos irresponsabilizam as acusações dos cidadãos às pessoas investidas do húmus público por entenderem que, na área pública, a mácula sobre a honradez não se dá pelo simples fato de se expressar livremente, informando a sociedade sobre determinado ato praticado pelo agente, de forma a duvidar-se de sua honra ou probidade, mas, nas sábias palavras de Humberto Nogueira Alcalá,  "em tales casos las personas afectadas se deshonran em virtud de sus propios actos".

No entanto, todos os agrupamentos partidários, com raríssimas exceções, apesar de alguns protestarem contra a “terrível ingerência” do poder judiciário, quando se sentem atingidos, correm para os braços protetores do papai juiz, demonstrando, dessa maneira, a real concepção que eles têm da Democracia.

Se as sentenças de responsabilização penal ou civil, para esses casos, são devidamente condenadas em países de democracia avançada, imaginem o que dizem  da censura prévia efetuada pelo nosso judiciário, com o uso de interditos, cautelares e outras coisitas mais. A caneta substituiu os fuzis militares, chegando ao maior desplante de um juiz eleitoral censurar falações e publicações, sob o influxo de um amplo subjetivismo que os permitem declarar, em uma cognição sumarissima, o que é verdade ou não. E o mais inacreditável é que os juristas defensores da materialidade estendida das normas constitucionais consideram essa censura à opinião popular como um grande avanço da Constituição Cidadã, sendo que alguns deles, com vocações poéticas, dizem que a questão não é mudar a norma para dar maior perfeição ao instituto, mas ter novos olhos. Metáforas poéticas à parte, o perigo de tais declarações reside em uma simples e cristalina verdade: os olhos veem o que querem ver, inclusive as recompensas financeiras.

O que se espera é que o TSE, tão destroçado pelos interesses partidários, não permita que essa farsa oportunista do lulismo tenha relevância, entendendo que existe uma redução espontânea  dos limites da privaticidade e honra das pessoas que são dotadas de notoriedade e no exercício da atividade pública, pois sendo fatos de interesse público, ao povo é dado o seu julgamento político, sem prejuízo das ações penais que contra esses maus políticos lhes forem movidas. Essa é a lição de Carlos Alberto Bittar que preserva os valores maiores da Democracia.

Querem ouvir uma trágica piada? Esse agrupamento corrupto, composto de grandes empresas e coordenado pelo lulismo, através de suas práticas de corrupção e aparelhamento das instituições, destruíram o que restava da nossa pálida democracia, ajudando a criar o mito Bolsonaro, agora fazem frentes antifascistas contra um fascismo inexistente, e quando bate o desespero, corre ao judiciário pedindo a cassação da chapa do adversário, um pleito que considera do maior relevo democrático.

Em resumo, fascismo para o lulismo é aquele cão raivoso que rosna e mostra os dentes. No entanto, qual vocês acham o pior, o cão raivoso ou aquele cão com cara de bonzinho que, ao passar desprevenido de um incauto,  “morde de furto”?

Ivan Bezerra de Sant’ Anna

sábado, 13 de outubro de 2018

O que é o fascismo?

Afinal, o que é o fascismo?

Na época dos anos de chumbo, o período do trabalho na clandestinidade, usava-se a expressão “pequeno burguês” toda a vez que queríamos denigrir um camarada que ousava discordar do pensamento dominante no PCB. Era uma espécie de xingamento a ser aplicado sem maiores cuidados conceituais, pois tinha se transformado em um adjetivo, uma palavra arma que era disparada em circunstâncias convenientes. Agora é a vez da palavra fascismo, usada contra todo aquele que apresenta comportamentos homofóbicos, machistas, autoritários de todos os naipes, com a salvadora exceção aos amigos e companheiros, aqueles que perfilam ao nosso lado. Então, se um deputado adversário  expressa com veemência suas ideias conservadoras, ele é rigorosamente tachado de fascista, mas se outro deputado amigo cospe no rosto de um colega, nesse caso, ele age com rigor revolucionário a ser aplaudido. Se manifestantes adversários agridem nossos companheiros, esses agressores são “camisas pardas”, a fina flor do fascismo. No entanto se companheiros nossos agridem os adversários com socos ou facadas, eles estão agindo em legítima defesa dos oprimidos. Ou seja: fascistas são os outros, e essa é a primeira pérola do atual conceito do fascismo.

Esse pragmatismo conceitual me expõe ao seguinte problema: se um cara vem me assaltar, exclamando palavrões vexatórios, deferindo algumas pancadas cautelares, estou sendo agredido por um delinquente comum, por um fascista, ou por um revoltado que está agindo em “legítima defesa da opressão”? Segundo a atual doutrina, muito usada pelo lulismo, tudo vai depender da relação política que temos com o suposto agressor. Gostem ou não, os leitores, mas existem pessoas que afirmam categoricamente que o conceito não mais existe, uma coisa obsoleta do passado, e em seu lugar deve existir modelos virtuais sem conteúdos, atualizados de acordo com nossos desejos constitutivos. Uau, como sou um aprendiz de filosofia da “velha guarda” fiquei devidamente assustado! Algo está podre no reino da Dinamarca, e isso me cheira a um voluntarismo psicótico tão comum em certos “pais do povo”, líderes arrogantes, violentos e presunçosos.

Afinal, o que é o fascismo?

Não é uma impropriedade histórica afirmar que o fascismo nasce em Roma nas dinastias dos Césares, embora esse nome nunca tenha sido usado para denominar um sistema político. Deu-lhe, Benito Mossulini, quando copiou a estrutura política dos Césares, atualizando-a para a estrutura econômica vigente. O termo fascismo é oriundo da palavra fascio que denominava um conjunto de varas em volta de um machado, um símbolo que as mulheres romanas carregavam nos desfiles triunfalistas, simbolizando o povo (as varas) unido com o Estado (o machado). Logo se percebe que o fascio denunciava a forma política de governo que se constituía em um governo quase pebliscitário, e devido às reformas no sistema representativo do Senado, as representações eram corporativas laborais e territoriais.

É inegável a orientação à esquerda do cesarismo, uma vez que o seu fundador Júlio César era um militar de origem humilde, inimigo fidalgal dos privilégios das elites patrícias, que por seu turno, o acusavam de violador da democracia, um ditador. Portanto, o fascio era um sistema político ditatorial pebliscitário que visava substitui a velha democracia de privilégios do estamento Patrício, por um sistema político em que o Imperador arbitrava os interesses estamentais, com uma forte orientação popular, inclusive fazendo uma redistribuição das terras agrícolas.

Depois de longos séculos, um intelectual italiano e jornalista, Benito Mossulini, insatisfeito com sua agremiação partidária, o Partido Socialista Italiano, redescobre o Fascio e denomina-o de Fascismo, um sistema político corporativista, comandado por um Estado ditatorial e interventor, baseado no personalismo do seu condutor, e com forte presença na economia, arbitrando conflitos entre as classes sociais, prolatando legislações de caráter protecionista, como foi a Carta del Lavoro, copiado para o Brasil pelo ditador Vargas com o nome de CLT.

Uma das características do fascismo era a presença do Estado na economia - na Itália, 75% das empresas de base eram estatais - e o extremado nacionalismo, sem que isso conotasse traços xenófobos e racista, ao contrário que se deu no fascismo alemão, o Nacional Socialismo. Em resumo, ser fascista é acreditar em um sistema político corporativo, ditatorial, nacionalista, protetor e árbitro das relações classistas.

Os conceitos, ao longo do tempo, sofrem alterações, devido às colisões da processualidade dialética, tornam-se mais encorpados por particularidades que se agregam, no entanto, não podem ser esvaziados dos seus elementos formativos essenciais, pois se isso acontecer perdem a categorização estrutural que os fazem específicos. Assim, um negro que se diz nazista é algo caricatural que colide frontalmente com a categorização do nazifascismo, mas se ele se declarar fascista, nesse caso, existe coerência lógica, pois o fascismo não tem o racismo como um dos elementos formativos essenciais.

Pode uma pessoa que defende o neoliberalismo, o Estado mínimo, mesmo sendo autoritário, violento, homofóbico, ser fascista? É óbvio que não, no entanto, pode ser uma pessoa de extrema direita. A mesma coisa se pode dizer de um líder partidário que financia as escolas privadas, faz loteamento das estatais para o regalo das grandes empresas, usa a corrupção como instrumento de manutenção do Poder, faz uso de violência clandestina para eliminar os oponentes e se diz socialista. Tanto um como o outro usam os conceitos de fascista e comunista para acusações mútuas, no entanto, nenhum deles é coisa alguma. Para uma imensa legião de alucinados, fascismo e comunismo são apenas metáforas, licenças poéticas, adjetivos de gume afiado, paixão e fé, a cega mão que guia a faça amolada.

Sabem o que é mais interessante? Embora não seja, mas devido à sua personalidade psicótica - o Sr. Lula que diz estar em cada célula das pessoas -, o grande mediador das questões humanas, não fosse o seu neoliberalismo envergonhado e disfarçado, se aproximaria muito mais perto do fascio do que o Sr. Bolsonaro.

Estou escrevendo isso, mas de nada vai adiantar, pois as pouquíssimas pessoas que porventura vão ler, e muitas delas continuarão acusando-se mutuamente de fascistas e comunistas, em um carnaval alucinado de rebolados e fantasias insensatas.

Ivan Bezerra de Sant’ Anna



sábado, 6 de outubro de 2018

Ceia de outubro

Ceia de outubro

Não consuma o óbvio. Quase sempre aqueles que surgem nas pesquisas como os preferidos são os mais indigestos. Os bons pratos alimentares só serão conhecidos se você der uma chance a eles. Os cozinheiros só farão boas receitas se souberem que se o consumidor não tiver satisfeito vai sempre trocar de receita e produtos. Nada melhor do que uma refeição deliciosa no mês de outubro, período que intermedia a mudança entre a primavera e o verão. Bom!!! É muito bom!!!

INGREDIENTES E RECOMENDAÇÕES

1- Vários sacos de lixo para o descarte de produtos estragados ou sem validade;

2- Use sempre alimentos novos, orgânicos, sem agrotóxicos, evitando principalmente os da marca Corruptus, pois eles corrompem o paladar e arruinam  a sua saúde;

3- Nunca use produtos que possuem glúten Patrão, como, por exemplo, os das marcas Banqueiro, Empresário, Terceirizados (geralmente ostentam o prefixo Multi), e jamais use o glúten Empreiteiro por suas características comprovadamente cancerígenas. Lembrem-se: os glútens tipo Patrão são fortemente egoístas!

4- Nunca confie nos discursos, pois alguns produtos são muito dissimuláveis, enganado com promessas e cores variadas. Procure produtos pelo histórico de uso, ao longo do tempo, se já for conhecido. Se for um produto novo - dê preferências a ele -, faça uma cuidadosa análise da sua origem, de quem os fabrica, e, principalmente, do seu uso em outras finalidades.

5- Nunca use produtos que declarava uma utilidade, mas, sabidamente queria outra, como é o caso dos produtos aromáticos, algumas vezes usados como incensos religiosos.

6- Para dar gosto a peça, não use temperos abundantes e desconfie sempre daqueles de multiuso.

7- Se não tiver problemas de artérias flácidas, use com parcimônia a pimenta, ingrediente delicioso e picante que melhora a sua circulação, irrigando de sangue e renovando o seu cérebro.

8- Use um termômetro para medir a temperatura da peça, de acordo com a sua preferência de cozimento, lembrando que algumas peças devem ser muito cozidas para eliminar bactérias e germes, como, por exemplo, a Tênia Solitária Egoísta. Se as referidas peças, no fim do cozimento, apresentar consistência pastosa, descarte-as!

9- Nunca use peças de cheiros extremados, arrogantes, violentos, que não respeite os cheiros de outras peças genéricas, assim como não se deve usar peças indolores, de personalidades mutáveis, pois como dizia o famoso cozinheiro russo, Vladimir Ilyich Ulyanov, “os opostos se atraem”, e acabam se unindo em uma farofada indigesta.

10- Lembre-se, pois isso é de maior importância: a peça executiva, conhecida aqui em nosso País como a peça principal, deve ser sempre acompanhada por ingredientes de cheiros e gostos semelhantes - os denominados ingredientes parlamentares -, ao contrário, vai haver corrupção recíprocas de sabores, tipo “mensalis corruptus” ou “parlamentus extorsĭo”.

11- Por fim, dê preferência aos alimentos nacionais, evitando os transgênicos, alimentos produzidos por pessoas que compraram as empresas brasileiras e estatais das mãos dos nossos neoliberais,  os bem-amados queridinhos de Trump.

COMO FAZER

1- Ao acordar, no dia 7 de outubro, faça uma sessão de  Ashtanga Yoga - por favor, não confunda com “minha tanga” - para concentrar a mente e corpo. Sugiro lições prévias com algum professor, no entanto, a minha indicação, um tanto paternalista,  é a renovada professora Lara Freire.

2- Em uma panela grande, coloque a peça principal com os ingredientes, acrescente um pouco de vinho ou cerveja, e deixe cozinhar por 16 minutos. Isso é importante! O tempo de 16 é importante para a integridade do sabor e para dar começo ao processo de maturação e urneamemto. Assim, 16 é o tempo certo.

3- Apague o fogo e deixe maturando até o momento de “urnear” o alimento, lembrando que até esse momento, você pode mudar, acrescentando algo ao prato.

Bom apetite!

OBS: Não querendo sugerir nada, mas ao mesmo tempo acossado pelo vírus da sugestão, vou sugerir  a receita “moqueca operária à brasileira” da nutricionista Vera Lúcia, muito pouco conhecida pelos consumidores brasileiros, devido ao fato do pavor que eles têm pelas mudanças, preferindo consumir o “óbvio e ululante”, e, no máximo, um filé de leopardo ao molho de pau-de-arara. Entretanto, para os estômagos mais sensíveis, a sugestão seria a boa receita do Chef Alvaro Dias, um moderado escabeche de peixes oceânicos, lavados com limões “Lava à Jato”.  Porém, uma advertência aos que desejam ousar: ambas não são comidas recomendadas para estômagos neoliberais - sejam de direita ou da esquerda “direita volver” - devido à encorpada condimentação nacionalista, principalmente para aqueles que preferem Miami a Copacabana.

Ivan Bezerra de Sant’ Anna


Quem tem medo do lobo mau?

Quem tem medo do lobo mau?



Quem tem medo do lobo mau?

Vamos imaginar Chapeuzinho Vermelho saindo da casa da vovó, cantarolando: “quem tem medo do lobo mau, lobo mau, lobo mau. Quem tem medo do lobo mau...”

Ao se deparar com suas amigas, uma delas exclamou: “Chapéu, por que essa alegria toda? Na história, sua vovó era comida pelo lobo mau e um caçador aparecia para lhe salvar”. 

- Tô sabendo, miga, mas tamos no Brasil, e aqui o lobo é velho, desdentado, meio palhaço e sem garras. Quando entrei na casa da vovó, ela estava dando gargalhadas das idiotices do Lobo que insistia em afirmar que iria cortar o décimo terceiro salário  dela. Foi engraçado, miga.

- E o caçador, Chapéu? Ele não apareceu? Que estranho essa história, afinal, Lobo é Lobo!

- Apareceu, mas vovó botou ele para correr com a vassoura na mão. Ele estava se aproveitando das idiotices que o lobo vive dizendo para levar vantagem, destruindo todos os bichinhos do mato, e com a maior cara de pau, matou as galinhas da vovó dizendo pensar que eram Perdizes. Que cara safado! Sem falar, miga, que ele bebe muito, e o filhinho dele, o cacadorzinho,  não fica atrás, pois de um dia para uma noite se apossou das terras da floresta e transformou em pasto.

Peço mil desculpas antecipadas, caros leitores, por essa nova versão interpretativa dessa imemorial história. Mas, como alguns sabem, sou um operador do Direito no Brasil, e aqui na terrinha, o território das novas bossas, um texto não é o que ele diz, mas o que desejamos dizer, segundo a teoria da materialidade estendida de nossos doutos e ilustres juristas. Que maravilha, né? Assim, podemos ter em breves espaços de tempo, inúmeras versões da história da Chapeuzinho, cada uma para variados gostos.

 Confesso, antecipadamente, que não resisti à tentação de associar a história da Chapeuzinho com fatos atuais da política brasileira, que, convenhamos, é uma maçaroca contraditórias de desejos escusos, apesar de correr o risco de ser chamado de reacionário, não somente pelos “crentes”, adoradores de um novo Deus, mas, sobretudo, por aqueles que fazem das suas histórias das torturas, um trampolim para a ribalta ou para empregos públicos bem remunerados.

 A tortura é extremamente nefasta, e aqueles que ousam defendê-la é, no mínimo, digno do nosso sincero repúdio. Mas o engraçado são as incongruências dos nossos “indignados” lulistas que chegam ao extremo de colocar os idiotas defensores dessa nefasta prática, os atuais lobos desdentados, no patamar do mal puro, esquecendo-se que o seu líder maior não só se aliou com torturadores, como teve o desplante, a cara de pau, o cinismo, de ter como seu vice um dos maiores financiadores das torturas praticadas por Sérgio Paranhos Fleury - ele adorava assistir sessões de torturas -, o Sr. José de Alencar. Aí me pergunto: onde estava a indignação dos lulistas? Onde estavam as mulheres seminuas, penduradas em pau-de-arara, meladas de mercúrio cromo, dramatizando nas praças o passado “elenão”?

 Possivelmente, a indignação  estava adormecida à  espera do beijo Salvador de um príncipe que, “ao levar a mão a Hera/ viu que ele mesmo era/ a princesa que dormia”. Desculpem, caros leitores, do uso e abuso da poética do grande lusitano Pessoa, mas, convenhamos, tudo isso é uma piada grotesca e de má fé, uma comédia em que eles insistem no terrível perigo fascista do lobo velho e senil, uma construção maliciosa que prepara o caminho do arguto caçador em sua cruzada de colonização de mentes e território. 

 Como pode o Lobão alquebrado decretar o fim do 13º salário, fazer normas de restrições às mulheres e aos homossexuais, se essas atribuições são privativas do Congresso? A não ser que ele feche o Congresso e afaste os ministros petistas do STF, no entanto, vamos falar sério, o Lobão não tem lá esse prestígio todo no mundo político brasileiro, inclusive nas Forças Armadas, e se ele tem um vice general, Lula colocou seu amigo e aliado, o general Fernando Azevedo, ex-chefe do Estado Maior do Exército, militar muito prestigiado nas forças armadas como conselheiro do STF,  acariciado pelas palavras supremas de Dias Toffili de que não houve um golpe militar em 1964.  Assim, quem tem mais possibilidade de se tornar tirano, o Lobão alucinado ou o manhoso “nove dedos”?

 Confesso, caros leitores, que o caçador  me assusta muito mais do que o Lobão senil, pois se alguém pode amordaçar o Congresso, aparelhar as instituições republicanas, esse alguém  é uma pessoa que já utilizou essas práticas e jamais o velho falastrão Lobão.

O amanhecer tem o condão de fazer a tristeza sorrir, portanto não se assustem se o velho lobo for eleito, pois isso será um golpe fatal no populismo mentiroso e enganador sob a liderança  nacional de um psicótico acossado pelo alcoolismo, e que em nosso Sergipe é simbolizado pelo de(mente) JaMente Jacutinga. E assim, depurados do lulismo renegado, podemos voltar às ruas, organizar novamente os trabalhadores, sabendo que possivelmente o velho lobo não cumprirá sua promessa de faxinar a corrupção, uma vez que precisa do Congresso para governar, e como todos sabemos, ele estará cheio de corruptos. Será o último gralhar dos corvos, pois a partir do governo do lobo velho, o discurso perderá a validade, tanto para os falsos esquerdistas, como também para a Direita. Será nesse caos do “menos  que nada” que surgirá a práxis da esperança. Esse é o nosso dever!

Ivan Bezerra de Sant’ Anna


Publicado no site http://www.facebook.com/ibezerra52; http://ibezerra.xpg.com.br e no Blog http://terradonunca-ibezerra.blogspot.com/

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

O machismo essencial

O machismo essencial

Muitas mulheres estão indignadas com a candidatura de uma certa pessoa, por motivo de sua clara opção machista. Aplausos para elas, mesmo que uma boa parte dessas mulheres convivam com homens machistas, oportunistas e cafajestes, uma pequena contradição que não retira o rubor indignado das suas faces, realçado com um cosmético “vermelho açaí”. Afinal “O meu homem é machista possessivo, mas gosto dele e seu ciúme é uma prova de amor”, pensam elas, ao mesmo tempo que gritam a todos os pulmões, “elenão! Mil vezes não!” Esse grito pode fazer coçar as orelhas dos seus maridos, amantes, companheiros? Claro que não, pois o machista é o marido da vizinha, o namorada da amiga, mas nunca, nunquinha, os respectivos consortes das feministas ”elenão”.

Carnaval fora de hora? Não, caro leitor, esse é o País do Carnaval, faça chuva ou faça sol, e aqui não vige “isso é isso”, mas, aos sons dos tamborins e dos surdos marciais, a sentença do Rei Momo: “isso é isso e ao mesmo tempo é aquilo”. Portanto, que não cause espanto a vocês quando o nosso Jacutinga JaMente vomitar o jorro do “disse, não disse”, pois ele é uma mente que des(mente) a mentira que seu dente sente.

Entretanto, caros leitores, como conhecer um machista essencial, aquele que apesar do não dito, o dito por não dito, simboliza o arquétipo do machismo? Tenho um método simples, o teste da insegurança e da possessividade genérica. É tiro e queda!

Observe se o investigado no seu cotidiano, no emprego, em casa, em suas ações políticas - se for o caso -, demonstra um grande grau de insegurança em relação ao que acha que é exclusivamente seu - pode ser uma mulher, um mandado governamental, etc. Como insegurança todo mundo pode ter, cada um em graus diferenciados, então é necessário saber como ele lida com esse problema. Se o investigado se preocupa em convencer, usando a persuasão lastreada com discursos exemplificados por uma prática, nesse caso, trata-se de uma pessoa que almeja alcançar o convencimento hegemônico das suas ideias sob o embate efetuado por um processo comunicativo reflexivo.

Entretanto, se o investigado usa a dissimulação, o engodo, a compra de favores e das consciências, aliciamentos, ameaças veladas, essa pessoa é um aparelhador de consciências, um colonizador de mentes, uma machista essencial, um perigoso possessivo que na luz solar é um radiante libertário, um professor do tipo “todos aprovados”, anda de bike da humildade, porém, quando as últimas labaredas solares fogem para a linha do horizonte, o manto da noite se revela impávido, a partir desse momento em que todos os gatos são pardos e o morcego voa com soberania, ele caminha lentamente pelo calçamento irregular das ruas escuras, compassado por coincidências macabras: um faca amolada, aviões que desabam, corpos que tropeçam.

Mas ao raiar a madrugada, momento em que mesmo a tristeza esboça um sorriso, o nosso machista essencial coloca a máscara professoral da simpatia, rouba uma flor do jardim do vizinho para oferta-la às mulheres que o veneram. Enquanto a mulherada grita “elesim”, ele pensa no triste fim do seu Policarpo Quaresma, o seu deus encacerrado, entretanto, como lhe foi ensinado, “rei morto, rei posto”, agora é sua vez.

Que Deus proteja as mulheres do machista essencial, porque do machista bravo se livram elas.

Ivan Bezerra de Sant’ Anna

domingo, 30 de setembro de 2018

Gramsci e a hegemonia

Gramsci e a hegemonia



Mesmo tendo sido um político atuante e um escritor político de grande porte, autor das Questões Meridionais e outros escritos, foi na prisão que escreveu a sua grande obra, os Cadernos de Cárceres, um conjunto de cadernos confusos, sem referências bibliográficas - em parte porque não tinha acesso às referências teóricas, e também para burlar a censura -, e mesmo com todas limitações, essa obra causou um imenso impacto e fissuras profundas no então pensamento dogmático stalinista, ideologia reinante nesse período histórico. Por suas “heresias”, foi expulso do PCI, morrendo isolado em uma casa, repudiado pelos camaradas do Partido, a quem dedicou toda a sua vida. 

Mesmo sendo banida e colocada no índex das obras proibidas pelo Partido Comunista Italiano, os Cadernos de Cárceres, ao longo do tempo, tomou vulto, ao ponto de ser uma grande referência atual para a esquerda. O traidor de outrora, hoje um profeta desarmado da Democracia como valor universal. Crenças, reduções cognitivas, faca amolada, prostituição da dialética - o processo ontológico do Ser é transformado em uma dama de costumes fácies - são, dentre outros elementos explicativos, fatores que levaram à proscrição desse portentoso italiano. 

As velhas teorias autoritárias, dogmáticas, muitas vezes reproduzindo arquétipos religiosos, foram banidas para a lata de lixo? Engano, cara leitores, muito engano, tal qual aquela bela flor que apressado colhemos para oferta-la à amada, sem apercebermos que o seu talo era de uma urtiga, o popular Cansanção, e quando os nossos dedos engrossados pela imprudência motivada pela ganância ao belo, ao tentar acariciar os cabelos,  a quem a ditosa flor se destinava, possivelmente ouviremos: “que houve com seus dedos, amor? Estão horríveis!” E de maneira sútil, afasta-os com uma sentença implícita: “eles não!”

Essa perigosa flor - pelo menos aos meus dedos - pode ser as velhas teorias maquiadas por cosméticos da ilusão, fazendo que o conceito grasmiciano  de Democracia como essência e valor universal seja transformada em um conceito manipulável, utilitário e descartável. É como esse “novos” teóricos dissessem: “Democracia para conquistarmos o Poder, depois ela será apenas um acessório de ornamento, mesmo assim somente enquanto  se revelar utilitária”. E como eles conseguiram essa torção interpretativa da obra de Gramsci? Ao que me parece, isso aconteceu pela reinterpretação  de manhosa má fé, realizada no conceito de hegemonia gramisciana, na qual o disfarçado conceito de aparelhamento são os pelos da urtiga.

Para Gramsci, em seu conceito de Democracia essencial e universal, o processo democrático deve manter as conquistas de outras épocas históricas, desde da Grécia, passando pelas conquista da Revolução Burguesa, até os dias atuais. Assim, a burocracia estatal deve ser profissionalizada, isenta dos humores partidários e de interesses econômicos, evitando, ao máximo, a existência de cargos de confiança e afins. Manter as regras do jogo estáveis, somente será possível se os aparelhos estatais se mantiverem isonômicos, sendo essa missão, segundo Antônio Gramsci, a condição prioritária e necessária para desenvolvimento das lutas políticas no seio da sociedade civil, a “casamata ideológica”, local onde se desenvolve e se instaura o processo de hegemonia. Trazer as fações das ruas ruas para os órgãos estatais é aparelhamento. A conquista do governo através de um processo eleitoral isonômico pode refletir a densidade da hegemonia conquistada na sociedade civil, e os órgãos republicanos devem garantir essas conquistas, assim como aplicar as novas leis criadas pelos representantes populares. Portanto, a hegemonia é a legitimidade conquistada por uma práxis política que se torna majoritária na sociedade civil, enquanto o aparelhamento é o assalto às instituições republicanas por métodos escusos, como, por exemplo, a nomeação de companheiros partidários, a compra de votos dos parlamentares e eleitores, o uso da corrupção patrimonialista, e, algumas vezes, assassinatos de oponentes políticos. 

O Judiciário deve pautar pela isenção, centrado em regras estáveis, sendo inadmissível que um magistrado que tem a função magnânima de arbitrar os conflitos democráticos, seja ele mesmo um ator político ou mesmo ideológico. Dessa forma, não fica difícil perceber que esses juristas que preconizam o uso de teorias interpretativas centradas em materialidade estendida para uso da magistratura, revelam mais um instrumento de aparelhamento ideológico, pois criam pontos de fuga à obediência dos atos normativos democráticos. Juiz que assim o faz, não é reacionário e nem progressista, é simplesmente um instrumento de aparelhamento ideológico, um perigoso usurpador do processo real democrático. Ser um magistrado é garantir e respeitar a vontade popular. Essa é a sua vocação e seu sacerdócio. Esse é o caminho que percorre solenemente a sua legitimidade e a sua grandeza.

Em resumo, para Gramsci, a Democracia como valor universal garante que novos processos hegemônicos se desenvolvam, mudando e ampliando novos horizontes de conquistas sociais e normativas, entretanto, sem por em risco as estruturas de ações comunicativas e participativas. Assim, para o grande italiano, as forças reais progressistas devem conquistar o Poder pela persuasão de uma práxis inovadora e jamais pelo uso de práticas autoritárias e desonestas que cerceiam o processo democrático e as liberdades civis.

Esse é o real perigo do lulismo! Disfarçadamente, usam o conceito de hegemonia de Gramsci para encobrir o mais puro e descarado aparelhamento dos órgãos estatais, ao mesmo tempo que promovem ações de aliciamentos, chantagens, corrupções, sempre à margem da legalidade. Todos os meios são válidos para os seguidores do lulismo conseguirem o Poder, pois Democracia para eles é um conceito a ser preenchido pelo contraponto da adjetivação dos seus adversários, em um silogismo simplório e cruel: se os outros são fascistas e golpistas, então ao estarmos de lados opostos, somos consequentemente democráticos.

No entanto, pergunto-lhes: existe algo mais próximo do fascismo do que o  culto à personalidade extremada, o uso do MST como agrupamento paramilitar, o aparelhamento conspiratório das instituições republicanas, e a destruição da soberania do Congresso Nacional pela compra de votos? Se existe, quero ser informado, mas só não me venham com essa história manjada de que um capitão falastrão, destemperado, saudoso por uma época em que não viveu, machista, é a encarnação do fascismo, porque isso me dá um acesso de riso.

Portanto, caro leitor, uma severa advertência: se o lulismo voltar ao governo federal, dele não mais sairá, e o voto que se constitue em momento maior do processo de soberania popular  será o algoz da própria Democracia, uma vez que, para o lulismo, a Democracia tem apenas o caráter estratégico e nada mais!

Como votar no segundo turno, já que para a maioria dos brasileiros não percebem o potencial de mudanças do pluralismo do primeiro turno? Será que um voto impulsionado pela lógica dialética deve ser direcionado à Frentes “disso e daquilo”, uniões políticas carnavalhizadas, onde slogans “abaixo o fascismo” ou pelo axé da Daniela “Elenão”, escondem os verdadeiros propósitos do autoritarismo totalitário, ou deve ser vetorizado para a libertação da classe trabalhadora e a renovação da Esquerda? Talvez essa seja a inteligente peripécia da dialética, ou seja: efetuar a negação do falso esquerdismo, corrupto, populista e autoritário, tornar visível a verdadeira face governativa do conservadorismo reacionário do Sr. Bolso, e contra ele, nas ruas, nos sindicatos, nas associações civis, construir um verdadeiro caminho democrático para a Esquerda. Por que acham que o Putin ajudou ao republicano reacionário Tramp? Porque ele sabia que o maior perigo para os outros países era a falseada versão democrática do Sr. Obama e da Sra. Clinton, conhecida como a Senhora Guerra, preferindo ajudar ao assumido reacionário Trump chegar ao governo e expor suas reais contradições. Ser marxista, algumas vezes, é ver os olhos da tragédia, enterrar os nossos mortos ainda insepultos, sentir o odor fétido do bolor do passado, conviver com os riscos, assumindo posições não muito simpáticas aos populistas carnavalescos. E como disse um sábio camponês, "Bolsonaro pode não ser o melhor fertilizante pro Brasil neste momento, mas é o melhor pesticida de que precisamos agora."


 Ivan Bezerra de Sant’ Anna


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quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Afinal, quem é Ele?

Afinal, quem é Ele?



Afinal, quem é Ele?

Enquanto se desenrola esse curioso e singular processo eleitoral, uma indagação me incomoda como uma espécie de pigarro renitente, ou melhor: um retorno indesejado daquele ruído de um disco arranhado que me faz refém de uma trilha obstruída. Afinal, quem é “Ele”?

Como uma categoria a ser preenchida concretamente, já o sabemos, pois invariavel(mente) - desculpem os parênteses, mas depois de assistir as palhaçadas do nosso JaMente, tenho uma compulsão irresistível a colocar esse sufixo em realce - o processo político eleitoral brasileiro é abençoado pelo maniqueísmo entre o bem e o mal, uma situação polar quase sempre fabricada pelas elites que diferem entre si por discursos e por camisas tingidas por cores que evocam ideologias nunca realizadas. Assim, eleição chegado e indo, perguntamos, “oxente, cadê o queijo?”, e sempre a mesma resposta, “o rato comeu!”. Infeliz(mente), o rato sempre come, né? E o que mudou? Uma nova certeza de que nada mudou!

Entretanto, o que torna peculiar esse atual processo eleitoral é que no passado as elites escolhiam candidatos de grande densidade política para o encenamemto dessa imemorial peça, uma vez que estava em jogo as bandeiras do patrimonialismo corrupto e o maneirismo condutor, ora de afagos tapeantes, ora de tacapes  persuasivos, e se podemos creditar ao Lula uma grande contribuição inovadora, essa foi a teoria das flores com talos de tacape, uma novidade que permite o governante manter o processo democrático e os direitos liberais como aparências, enquanto prefeitos morrem assassinados, aviões caem misteriosa(mente), a Democracia é suprimida pela compra descarada de congressistas, alianças com Comandos “disso de daquilo” são efetuadas, visando não somente o controle  eleitoral das suas áreas de império, mas, também, a lavagem de dinheiro e a formação de grupos paramilitares com funções operativas bem definidas, como, uma facada aqui e acolá.

O que percebemos na atualidade? Uma eleição polarizada por dois candidatos inexpressivos que tiveram como padrinho político o Sr. Lula da Silva. Surpreendidos com a minha tese, caros leitores? Tenham um pouco de paciência... e vamos lá! O que seria do Capitão Bolsonaro, um conservador falastrão, saudoso da Ditadura militar, se o Sr. Lula não fizesse o que fez, montando a maior quadrilha de larápios de quase todas as cores partidárias para assaltar as empresas estatais, colocando companheiros no STF, muito dos quais sem nenhuma legitimidade jurídica para exercerem essa relevante função? Lula não só destruiu a Esquerda, como deu motivação para o crescente discurso anticomunista, transformando a nossa juventude, que, outrora foi libertária, em raivosos reacionários. E para fazer frente ao Capitão, nada melhor do que o Haddad, um garoto que ele preparou para ser Prefeito de São Paulo, pouco importando se foi um péssimo administrador, pois essencial é que seja uma marionete, assim como foi a “presidenta” Dilma.

Será que “Ele” é mesmo o Bolso, como todos os lulistas afirmam? Não somente os lulistas, uma vez que o coro foi engrossado pelos seguidores do camaleônico FHC, pelos “golpistas” do PMDB, agora aliados do PT em muitos estados. Pelo visto, a quadrilha pluripartidária se realinhou, esquecendo as picuinhas do passado recente. Todos agora são os representantes da social-democracia, enquanto o Bolso é o “Ele”, o terrível representante do Senhor das Trevas. Engraçado, né? Muito, muito Hilario... se não fosse o prenúncio de uma tragédia.

Quase estava me convencendo que o Bolso era o “Ele”, pois para um socialista que viu companheiros serem mortos pela ditadura militar, convenhamos que essa tarefa é muito facilitada pelo que representa esse Capitão arruaceiro e nostálgico “dos bons tempos” da arrogância militar.  Porém, pequenos detalhes que podem parecer de importância diminuída, possuem o condão  de fazer disparar associações que ampliam a nossa capacidade de refletir sobre um conjunto complexo de coisas, no entanto, interligadas por elementos essências que dão sentido à totalidade articulada.

Ao ver essa foto publicado por um petista, mostrando  um pai desligando os aparelhos médicos porque o seu filho disse gostar de Bolsonaro, lembrei-me das declarações Georgina Martins, Professora de uma das universidades mais prestigiadas do país, especializada em Literatura Infantil e Juvenil, que o quase assassinato de Jair Bolsonaro não pode ser considerado tentativa de homicídio e sim legítima defesa dos oprimidos, em suas palavras, “... o episódio da faca foi a legítima defesa contra a intolerância que o candidato prega“.

Aí, o estalo. Esse é o pensamento do lulismo, e os assassinatos, as quedas dos aviões, a faca da “legítima defesa dos oprimidos”, fazem parte de um nefasto arcabouço ideológico do autoritarismo totalitário. Como explicar, por exemplo, que um pai desligue os aparelhos médicos porque seu filho pensa diferente? Tal insensibilidade, movida por um crença abstrata, só foi observada no totalitarismo stalinista, época em que um pai denunciava os filhos, tudo em nome da proteção dos camaradas. Essa insensibilidade psicótica destrói todos os laços de empatia social e familiar, instaura o medo, a insegurança, jogando todos os sonhos de igualdade e fraternidade na lata de lixo.

O Sr. Fernando Henrique Cardoso, ao alertar contra o perigo fascista, não percebeu ou não quiz perceber - possivel(mente) a manutenção do modelo patrimonialista corrupto seja a sua prioridade - do perigo do pensamento totalitário tupiniquim, aquele que se disfarça em “bom mocinho” liberal, mas que no “escurinho do cinema”, na calada da noite, mata, rouba, persegue e engana. O “Ele” não é o capitão conservador falastrão, mas é um coletivo de pessoas, dentre elas, o psicótico Lula, José Dirceu, a pequena marionete Haddad, os políticos e empresários corruptos que fazem parte de uma terrível organização criminosa que controlam as instituições republicanas.

Sou um comunista da velha guarda, e, como tal, não faço concessões à corrupção e ao totalitarismo, práticas ideológicas que são a extrema negação do ideário socialista. Não tenho medo de Bolsonaro, pois seu pensamento conservador pode ser limitado pelos inúmeros interesses divergentes que norteiam o Congresso e outras instituições representativas. Entretanto, um frio gélido percorre a minha espinha, só em pensar em uma vitória eleitoral do lulismo, pois com as suas práticas corruptas e o avanço do aparelhamento militar  - Dias Toffoli nomeou um general para tutelar interesses, simbolizando clara(mente) o chamamento disfarçado da intervenção militar -, ninguém conseguirá tirar o lulismo do Poder, pelo menos pelo voto.

Querem um portentoso exemplo das práticas manhosas que disfarçam as verdadeiras intenções do lulismo? Pois bem, vamos lá! O repúdio que os lulistas e aliados dizem ter pelos torturadores parece ser seletivo, pois não cansam de elogiar o Sr. Getúlio Vargas, aquele mesmo que comandou o Estado Novo, torturando e matando inúmeros companheiros, e se a memória não me falha, extraditou Olga Benário para ser morta em um campo de concentração nazista. O Sr. Lula é um mágico e disso estou convencido. O torturador mais pérfido foi, sem sombra de dúvida, o Delegado Sérgio Paranhos Fleury que montou uma organização sádica para torturar presos políticos, financiado por inúmeros empresários que cultivavam o deleite à assistência dos espetáculos macabros, dentre eles - pasmem os leitores -  o Sr. José de Alencar, aquele mesmo que foi vice-presidente do governo do Lula! Entretanto, magia é magia, e com um toque da sua varinha de condão, o Sr. Lula transformou o Sr. José em um democrata convicto. No entanto, enclausurado por uma sentença condenatória, ele vê em um capitão fanfarrão, nostálgico de um passado que não participou, o gênio da maldade fascista. 

Querem mais exemplos? Enquanto os neoliberais dizem explicita(mente) que vão privatizar as empresas estatais, os lulistas, por debaixo do pano, privatizam aos poucos as estatais para as empresas corruptas, como foi o caso da Petrobras. A Direita defende  abertamente o uso da violência contra os delinquentes, enquanto o lulismo usa a violência contra seus desafetos, estimula a violência de grupos paramilitares, tudo isso, é claro, na clandestinidade. Algumas alas da direita pregam à intervenção militar, enquanto o lulismo, na moita, dá os primeiros passos concretos para a intervenção das casernas - ao seu favor, é evidente - chamando um general de destaque para “aconselhar” os ministros do Supremo Tribunal Federal. Por essas e outras, não tomem como surpresa se o estaqueador “social” dê uma declaração que o atentado foi ideia do Bolsonaro, o que incial(mente) pensei, mas, pelo desenrolar dos fatos,  percebo que foi mais uma nefasta armação do lulismo. O lulismo é capaz de tudo, e como afirmava Leonel Brizola que o “Lula pisaria no pescoço da mãe para ganhar uma eleição”, dele pode-se esperar o inimaginável.

Não me escondo nos arbustos das palavras prostitutas. Em nome do meu passado, gostem ou não os falsos socialistas, os intelectuais que se encastelaram em privilégios estatais, afirmo: se essa for a opção do segundo turno, não votarei em nenhum dos candidatos, embora perceba que Bolsonaro é um mal menor, se comparado com o lulismo corrupto, autoritário e violento, pois com derrota do lulismo, a Esquerda poderá reconquistar o seu devido lugar histórico, purgando-se dos erros passados. Os avanços da síntese dialética não é linear, e o retorno hegeliano às situações pré-constituídas são de uma importância vital para o novo ressurgimento, lição aprendida e professada por Lenin na sua parábola do alpinista que cai e volta a escalar a montanha.

O trágico disso tudo é que o Brasil está precisando das fanfarrices do Sr. Bolsonaro para que se possa refletir sobre a importância da Democracia, negada e renegada ao longo da história. Não existe nenhuma Democracia a ser defendida, pois em nosso País ela não passa de uma mera semblância. Existe, isto sim, uma democracia a ser realizada com responsabilidade e coragem. Esse é o nosso desafio. Essa é a nossa missão.

Ivan Bezerra de Sant’ Anna




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terça-feira, 18 de setembro de 2018

Um falso dilema

Um falso dilema

Haddad versus Bolsonaro, uma férrea luta entre a liberdade e o autoritarismo? O Fascismo versus a Democracia? A batalha entre as forças reacionárias e as forças progressistas? Realmente existe o perigo de um golpe de Estado, capitaneado pelo anticomunista Bolsonaro?

Desde de pequenino que ouço o mantra que ecoa nas ruas, a famosa “Mudança Já”, mas, entra ano e saiu ano, e a desprazerosa tese leopardiana do “mudar para que nada mude” se torna uma lei rígida e imutável da política brasileira.

Se o leitor percorrer as trilhas passadas da História, perceberá que só existe um tema, embora existam muitas variações modais e harmônicas. Um improviso aqui acolá, algumas alterações cromáticas, entretanto, o tema continua íntegro, inexorável, um destino de bronze, e para ficar a gosto dos espíritas, um karma que sempre renasce atualizado.

Infelizmente, salvo algumas exceções, o nosso caminhar liberal traz em seu bojo a potencialidade virtual do autoritarismo que se atualiza incessante, ora como farsa, ora como tacape. No entanto, mesmo sob a face suave da tapeação, de vez em quando, de maneira involuntária, deixa-se escapar a face cruel da violência, mesmo sendo altamente danosa na sua modalidade física, é densamente terrível na sua máscara simbólica.

O arquétipo do Imperador sobrevive soberano, e, como um simples exemplo, toda vez que queremos destacar a grandeza de algumas pessoas, não hesitamos em nomina-las de Reis “disso e daquilo”. Nunca fomos verdadeiramente republicanos, e a linda Marselhesa sempre foi um eco difuso, sobreposto pelas valsas das elites, mesclada com o baião do cangaceirismo, que, para muitos, a nossa grande pérola cultural. Somos apenas uma massa de indivíduos indigentes, crianças assustadas, clamando por o Grande Pai, e ele sempre aparece em varias faces, às vezes com a espada na mão, outras vezes empunhando caneta, um sorriso gentio, com a língua bifurcada, silabando palavras larápias.

Aqui eles sempre ganham, sejam quais forem os resultados das lutas ou processos eleitorais, pois suas práticas encontram um volumoso eco nos paredões sociais, formados por partículas congregadas pelo pragmatismo corrupto, pelo compadrio, e seduzidas pelos discursos de proteção paternal. “Eu faço e arrebento” é harmonizado com “eu roubo, mas faço”, e as variações tipológicas, como, por exemplo, “retiro você  do SPC” ou “morte ao Uber”, são cafezinho pequenos comparados com a arrogância autoritária do “solto o companheiro”, no entanto, como podem observar, são acidentes cromáticos que alteram o acorde, mas nunca a tonalidade. Entre terças, quintas e nonas, diminutas ou aumentadas, o tema tonal continua o mesmo.

Não se deve confundir o autoritarismo com a violência, pois o último é uma ocasional consequência do primeiro. Sorrisos e gestos gentis podem esconder as verdadeiras histórias dos atentados, dos assassinatos misteriosos e de alguns acidentes que vitimaram pessoas momentaneamente indesejadas. Os fatos nunca são devidamente apurados para que as versões fofoqueiras, impulsionadas pela paranóia, se tornem armas poderosas de uns contra outros.

Lula Jr. - sorrir um pouco não faz mal -, o bicicleteiro Haddad, diz que Bolsonaro é autoritário e pode conduzir o País às trevas do mal. Se em parte essa sentença é verdadeira, comparar o Bolso a Hitler, o momento atual brasileiro ao momento político de um Alemanha pré-nazista, convenhamos, é uma piada para fazer levantar defuntos das tumbas. Se o que diz Haddad fosse verdade, então já estaríamos vivenciando o fascismo instaurado, pois, pelo que entendo, não existe algo mais autoritário e atentador à Democracia do que montar uma quadrilha para roubar o dinheiro público, comprar às consciências representativas dos congressistas, e aparelhar os tribunais superiores. Entretanto, as liberdades civis continuam vigorando, inclusive para permitir que o ciclista bandeirante fale suas besteiras.

O que o Ciclista Haddad, Pai Ciro, o arrogante Bolsonaro, Alkimin Merendinha - só para nominar os principais concorrentes - não dizem, e duvido muito que digam, é que o presidencialismo com múltiplos partidos - nos EUA, ao logo da história, somente dois partidos concorrem -  não conduz à governabilidade, havendo necessidade de se lançar mão de recursos nada éticos e violadores da Democracia, como a compra de congressistas, o fisiologismo, as chantagens, e outros métodos ainda mais nefastos, e toda essa prática é blindada por um Judiciário que, no mercado de trocas, aufere privilégios e altíssimos salários. É a vigência da velha máxima política, “uma mão lava a outra”.

Nesse cenário, Bolsonaro vai cumprir a promessa de limpeza, da eliminação da corrupção que tanto promete?  Como pode cumprir, se vai precisar de apoio dos congressistas, a maioria deles corruptos e fisiológicos? Vai Haddad se desvincular da corrupção que seu Partido comandou ao longo desse anos, uma vez que o Sr. Lula é o seu padrinho político? O discurso pendular e autoritário do Sr. Ciro vai se efetivar? O que os leitores acham? Algum candidato fala sobre a necessidade de uma Assembleia Constituinte para mudar essas regras pérfidas do Poder e fazer que o judiciário obedeça às leis e a Constituição? Quanto a mim, tenho a impressão  que todos eles são do time do “mudar para que nada mude”, usando o discurso “vou fazer e acontecer”, uma música deliciosa para os ouvidos da maioria dos eleitores pragmáticos que subsistem com a ausência do estatuto de cidadania. Eleitores e candidatos se merecem, e,  como dizia o meu saudoso professor Fernando Lins,  sob os conselhos de Roberto da Matta, “essa é uma terra macunaímica, onde malandros, heróis, Reis e súditos trocam de papéis para que o posicionamento social dos figurantes continue o mesmo. Mudanças tão somente em nossas encenações dos carnavais de todos os dias”.

Ivan Bezerra de Sant’ Anna