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quarta-feira, 10 de julho de 2019

Navegar com quatro patas no ar

Navegar com quatro patas no ar

Estávamos no Saco - que muitas vezes era um verdadeiro saco -, eu e você, banhando-nos nas águas que teimavam avançar sobre as casas invasoras, quando, de repente, mas que de repente, sua linda voz de quatro aninhos disparou frases musicais, o que me fez pensar: “uau, ela está criando uma musica!”.

“Caranguejinho, caranguejão, o que que me diz de um passeião...”

Fiquei a pensar se o Caranguejo homenageado era eu ou os perplexos Gorês, que, paralisados, ostentavam suas garras voltadas para o alto, uma boa dúvida que tenho até os dias atuais.

Depois de um bom mergulho e com um sorriso de peixe feliz, ela continuou:

“Navegar por todas as marés
De Jesus de Nazaré”

Mesmo sendo um convicto comunista materialista, mas temperado por um espiritualismo do qual nunca vou me descasar, confesso que adorei a referência ao Nazareno, homem que viveu e morreu pregando a solidariedade fraterna e igualitária entre as pessoas. E antes que eu saísse do transe espiritual, ela tascou o final refrão:

“Rio, mares e marés?
O que importa é:
Navegar com quatro patas no ar
Navegar com quatro patas no ar”

É verdade, minha princesinha, minha amiguinha de todas as horas, o que importa mesmo “é navegar com quatro patas no ar”, mesmo em um País dilacerado pelos ódios, por uma corrupção endêmica, pelo egocentrismo possessivo, você navega pelos rios que secam, margeados por florestas condenadas à extinção, você navega pela dura realidade carregando o seu baú de sonhos, “com quatro patas no ar”.

Você não é somente minha filha - filhas é para todos os pais -, você é minha amiga, uma amiguinha mais que querida, uma “amiga de fé e irmã camarada, uma amiga de longas jornadas”.

Obrigado por você existir.

Ivan Bezerra de Sant’ Anna

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