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quarta-feira, 10 de julho de 2019

O incômodo tiro

O incômodo tiro

Tudo estava preparado para ser uma grande festa com presença de políticos, ministro, o governador a discursar, quando se ouviu uma voz que dizia: “Belivaldo, você é um mentiroso”, e logo em seguida um seco estampido, tal qual um traque tardio junino, um corpo jazia envolto em sangue. O empresário Sadi Gitz deixava para trás sua existência para dobrar a curva da insondável e misteriosa estrada.

Esse trágico acontecimento está a revelar detalhes sórdidos que motivaram o ato desesperado do empresário, assim como a perfídia interesseira de alguns jornalistas, sempre a serviço de políticos e grupos econômicos, na tentativa de amenizar o acontecido. Um certo jornalista, por exemplo, mesmo ressaltando o valor do empresário morto, ao escrever que “é inaceitável que se queira politizar o suicídio de Sadi Gitz”,  sugere matreiramente que o empresário sofria de depressão, sendo essa a principal causa do seu ato, acusando a todas as pessoas que perceberam a frase acusadora do empresário como um forte indício uma depressão reativa a elementos políticos e econômicos, como inconsequentes e irresponsáveis e dispara: “Essa é uma atitude imprudente. Algo beirando a desonestidade política”.

Vamos desculpar o nosso jornalista, pois, ao que parece, ele confunde depressão endógena com a reativa, cargo da Assembléia Legislativa e a solidariedade política com o instituto da imparcialidade jornalística. Aliás, existe quem afirme - e são muitos - que o empresário Sadi Gitz foi beneficiado, no governo Dilma, com um empréstimo em 2014, e devido à política nefasta neoliberal do Sr. Bolsonaro tudo desandou! Incrível! Todo mundo sabe que a via crucis da Empresa Escorial já se arrastava ao longo de um grande espaço temporal, tempo esse em que perfilavam as administrações petistas, e acusar os parcos seis meses do governo Bolsonaro de tal proeza, isso beira a insanidade. Tenha paciência, mas a burrice proposital tem limites!

O mesmo raciocínio deve ser usado em relação ao Sr. Belivaldo Chagas, com menos de um ano no comando do governo estadual, pois seria esquecer os anos de administração petista e os quase seis anos da administração do Sr. Jackson Barreto, o popular Jacutinga da Imbura, existindo pessoas que afirmam que o verdadeiro governador é o Sr. Jackson, restando ao Sr. Belivaldo uma mera função decorativa.

Afinal, o que levou um empresário que atuou na SMTT (Superintendência de Transporte e Trânsito), na Emsurb (Empresa Municipal de Serviços Urbanos), ex-presidente da Acese (Associação Comercial e Empresarial de Sergipe), graduado em Matemática, Engenharia Mecânica e Administração, Pós-graduado em Engenharia Naval e Engenharia de Segurança pela PUC do Rio Grande do Sul, com MBA em Gestão pela Fundação Getúlio Vargas, a um ato de grande desespero? Apenas a alta do preço do gás seria a condição necessária e suficiente? Para mim, assim como para muitos, nessa densa floresta escura existem muitas bruxas e duendes soltos.

Apesar da falsa dicotomia fabricado por petistas, o neoliberalismo teve seu início no governo FHC, ampliando-se consideravelmente nos governos petistas, embora maquiado por uma política social teoricamente correta, mas que na prática não passou de um investimento eleitoral, salpicado e ornado por processos corruptos. Um projeto ladino que o Sr. Temer não abriu mão, e possivelmente o Sr. Bolsonaro  não o fará, pois a diferença das ideias econômicas que professam Lula e Bolsonaro se estabelece pelas palavras disfarçadas ou escancaradas.

Afirmo que o empresário Sadi foi vítima de um sistema político corrupto, assim como de um neoliberalismo individualista, egocêntrico, “cada um por si e o mercado por todos”. Não se pode esquecer da crise fiscal que Dilma herdou do governo populista do seu padrinho, o que desencadeou uma grande contração no financiamento público, sendo  o setor da construção civil  a grande vítima, sem esquecer o seu papel de vilão nos acordos corruptos. Nessa negra floresta não há Robin Hood, vilões ou mocinhos, mas atores que vestem variadas roupas tonais.

Para as grandes empresas protegidas, tais como, as agroindustriais, os Bancos, as prestadoras terceirizadas de serviço público, outras empresas que vivem mamando no BNDS, não existe crise, e se existe, é suavizada pela mão do Poder público, sempre solicito às suas demandas. Quem já ouviu falar em crise na Multiservice, empresa que comanda os serviços públicos nos amplos setores estatais? Possivelmente, o Dep. Laercio nunca vai ter depressão, muito menos colocar um cano de revólver em sua boca. Ele, assim como variados empresários protegidos, podem falar em neoliberalismo, diminuição do Estado - menos para eles, é claro -, e postularem  suas desonerações em relação a contribuição para a aposentadoria dos trabalhadores, redução de impostos, sem que isso lhes afetem, afinal, muito deles têm demanda garantida para seus serviços e produtos.

Entretanto, o que falar das demais empresas? Essas competem em um mercado, uma espécie de galinheiro livre com raposas livres, sendo que o resultado dessa competição “justa” sabemos qual é. Sem o braço forte do Estado para dar uma verdadeira competição, seja por normas ou por intervenção econômica, o futuro será incerto para a maioria das empresas não-protegidas. Recentemente, o mega financista Soro, juntamente com algumas grandes empresas norte-americanas, assinaram um petição pedindo ao governo americano o aumento progressivo nas grandes fortunas, para que esses recursos financeiros sirvam de propulsor de demanda, pois uma população sem recursos disponíveis não pode ir às compras.

Esse fatídico suicídio com conotações políticas - embora os jornalistas amigos dos políticos poderosos digam que não - é um grande alerta para o empresariado honesto, para quem a livre iniciativa não pode se confundir com o livre mercado predatório, quem tem como maiores vítimas os trabalhadores que são trocados por outros com menores salários e quase sempre são as válvulas de escape para as crises, pois a maioria do empresariado não reduzem seus lucros em momentos críticos, porém, despedem trabalhadores.  Entretanto, a cada redução salarial, a cada despedida, a demanda se reduz drasticamente, consequentemente, a crise torna-se estrutural, inviabilizando a iniciativa privada. É necessário pensar em solidariedade com quem trabalha, pois a crescente dor laboral pode ser no futuro, a dor lancinante do empresariado produtivo.

Não adianta sonhar em entrar no grupo seleto das empresas protegidas, uma vez que um dia pode se estar lá, em outro dia na rua da amargura. Dentre inúmeros exemplos, podemos citar as reviravoltas da aviação civil: um belo dia a Panair do Brasil, subsidiária da NYRBA, depois incorporada pela Pan Am, mandava na aviação civil brasileira. Outro belo dia, os militares faliram a Panair e a Varig começou a reinar. Veio o Lula e ajudou a falir a Varig, colocando a Gol do seu amigo e comparsa Konstantino. Agora chegou a vez da Avianca ser despejada do Cartel seleto.

Se por faltar-lhe forças para continuar lutando, o empresário Sadi tirou sua vida, esse ato não foi somente seu. Muitos o ajudaram a puxar o gatilho.

Ivan Bezerra de Sant’ Anna

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